As novas geadas previstas para as regiões produtoras de São Paulo e Paraná devem afetar grandes áreas plantadas com milho, trigo, café e cana, pastagens para gado e principalmente produtos hortifrúti, o que abre espaço para novas pressões inflacionárias, segundo produtores e economistas consultados pelo DCI.
Após a primeira noite de geada, ainda não foi possível contar as perdas e avaliar os impactos no mercado, mas a perspectiva é que a oferta de hortaliças e legumes caia e reverta a perspectiva de queda dos preços no varejo.
Na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), ainda não houve redução no volume nem na qualidade dos produtos, mas o economista Flávio Godas, da Ceagesp, afirmou ao DCI que, se se confirmarem as geadas previstas para a madrugada desta quinta e sexta-feiras, as lavouras de hortifrúti cultivadas a céu aberto, como folhas, abobrinha, pimentão, xuxu e tomate serão afetadas. Apenas 20% dos cultivos de hortifruti no estado são feitos em estufas e a salvo do impacto de geadas.
Menor volume terá impacto nos preços. No primeiro semestre, o índice Ceagesp caiu 0,29%. "Mas a expectativa é que tenha [uma reversão]. Faz dez anos que não tem um frio tão rigoroso em São Paulo", ressaltou Godas.
No Paraná, os fruticultores também dão como certo os prejuízos na produção. "Nos próximos dias, o consumidor vai sentir no supermercado um aumento de preço nas hortaliças, porque [essas culturas] na Região Sul foram afetadas", calcula Claudio Marconi, diretor de agricultura de Umuarama, município do noroeste do Paraná.
Marino Rodrigues Campos, que tem 50 mil pés de morango em Umuarama, diz que o mau tempo pode fazê-lo perder até 15% de sua produção e ainda afetar a florada das plantas. Para evitar o prejuízo, ele disse que acordará de madrugada para irrigar a plantação antes do sol nascer. "Se o sol sair primeiro, queima a planta. Assim evito parte do prejuízo. Mas alguma perda tem", conta .
Ainda no Paraná, commodities como trigo e milho também terão produção menor que a prevista, mas técnicos do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura consultados pelo DCI afirmam que é cedo para calcular o volume comprometido. Segundo Hugo Godinho, técnico para o trigo do Deral, a área em fase de floração e, portanto, ainda suscetível a perdas, corresponde a 52% da área plantada no estado. Em nota, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) observou que a onda de frio pode pressionar ainda mais o abastecimento do mercado interno, que trabalha com baixos estoques e sofre com dificuldade de importar da Argentina. "Há o risco de continuidade de pressão inflacionária", alerta o Cepea.
Já a área de milho comprometida é de 25% do total plantado, equivalente a 387 mil hectares, concentrados principalmente no norte do Paraná, segundo a técnica do milho do Deral, Juliana Yagushi. Para o Cepea, essa quebra de safra não afeta a projeção de produção recorde no estado.
Marconi, de Umuarama, observa que as geadas já comprometem também as pastagens."Com isso vai haver oferta maior de animas para abate. Senão o animal perde peso e o produtor perde dinheiro", explica.
Geada negra
Na última terça-feira, os cafeicultores do Paraná sofreram com a "geada negra", causada pelo vento durante o dia. A última vez que o País viveu uma geada negra foi em 1975, quando cafezais inteiros foram dizimados. Marconi afirma que neste ano a geada negra foi mais branda que a de 38 anos atrás, mas diz que todas as áreas com café foram afetadas. O prejuízo, porém, deve ser sentido na próxima safra, ressalta.
Veículo: DCI