Dilma toma para si o anúncio de programa de apoio a produtores do grão e causa constrangimento a ministros
Causou constrangimento e insatisfaçãono setor cafeeiro o adiamento de um planode apoio aos produtores que sofrem com as baixas cotações do grão. Na segunda-feira, os ministros Antônio Andrade (Agricultura) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento) frustraram o setor, convocado a Brasília, com um pronunciamento curto para dizer que o plano seria divulgado dias depois.O pior de tudo, dizem os interessados no plano, é que, o que será anunciado, não resolve o problema, apenas o maqueia.
Hoje, a presidente Dilma Rousseff apresentará o plano durante sua visita à cidade de Varginha, MG. Interlocutores da Agricultura avaliam que a presidente transformou o problema, injustificadamente, em uma questão de Estado. “O plano só não foi apresentado na segunda- feira porque a presidente quis anunciar ela própria”, diz uma fonte do ministério.
O governo briga internamente para anunciar um plano de compra de 2 milhões ou 3 milhões de sacas de café do tipo arábica para enxugar o excesso do mercado. Com a alta produção brasileira, somada à de países da América Central, sobrou arábica no mercado internacional e os preços despencaram nos últimos 12 meses.Na BM& F Bovespa, as cotações caíram 34% em um ano, além de 27% no mercado físico em igual período, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
A raíz do problema estána mistura que torreifadoras brasileiras fazem. Por causa dos preços do grão arábica—que semantiveram elevados entre 2010 e 2012—,a indústria cafeeira aumentou o percentual do tipo conilon no pó consumido no país. Isso pressionou as cotações dessa variedade, a qual é considerada demenor qualidade.
Assim, a diferença de preços entre os grãos diminuiu. Enquanto a saca de arábica vale R$ 296, a de conilon custa R$ 252 no mercado físico brasileiro.Há uma no, os preços estavam em R$ 405 e R$ 285, respectivamente.
A Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) enviou uma proposta ao governo para aumentar o percentual de arábica nesta mistura. No entanto, demanda financiamento facilitado para que os preços finais não reflitam o encarecimento da produção. Cobraram dos ministérios da Fazenda e da Agricultura uma posição e não obtiveramretorno. Interlocutores afirmam que a proposta foi ouvida, mas não deve ser considerada.
A relação na mistura atual é de 55% de arábica e 45% de conilon. Na proposta, essa relação mudaria para 65/35. A alteração representaria uma trocade 2 milhõesde sacasde conilon por arábica.O volume é próximo ao que a Fazenda autorizou o Ministério da Agricultura comprar. “Isso resolveria tanto a oferta de conilon, que está em falta, quanto a de arábica”, argumenta Nathan Herszkowicz, diretor- executivo da Abic.
Críticas ao provável plano já existem. Caso o governo realmente compre as duas milhões de sacas — ou três, caso a Fazenda recue—, os estoques brasileiros serão elevados em 24%, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês). Além de continuar demonstrando um claro excesso de café, o governo precisará desovar esse estoque em algum momento.
Na Conab, o entendimento é de que o governo deveria negociar com as torreifadoras um maior uso do tipo conilon na mistura. “Isso ajudaria a equilibrar os preços”, avalia Jorge Queiroz, analista de café da companhia.
Ele, inclusive, prevê a descapitalização dos produtores e antecipa que a expansão da próxima safra pode diminuir em relação a 2012, último ano de alta bienalidade. “Por culpa dos bons preços, a área de plantio cresceu muito este ano e, por isso, a redução da produção foi tão pequena em relação ao ano passado. Agora, com poucos recursos financeiros e com preços em baixa, a área plantada de café deve encolher”, projeta.
Veículo: Brasil Econômico