A paranaense Positivo Informática - maior fabricante de computadores do País - vem transferindo o foco de vendas do segmento de varejo para as áreas do governo e do setor corporativo. A estratégia, segundo analistas, deve intensificar-se neste ano, em resposta aos efeitos da crise.
De acordo com a analista de investimentos da Gradual Corretora, Luciana Pazo, o segmento mais afetado pela escassez de crédito e pela elevação do dólar é o varejo. Atualmente, esse é o carro-chefe da Positivo, que vinha apostando, com excelentes resultados, nos computadores pessoais (PCs) voltados às classes mais baixas.
"Há algum tempo, entretanto, a companhia tem apresentado crescimento maior nos segmentos de computação corporativa e para o governo. Acredito que eles manterão essa estratégia para fugir dos efeitos da crise", afirmou a analista.
Segundo especialistas, o setor de tecnologia da informação (TI) teve ano de bons resultados, mas começou a sofrer desaceleração a partir de outubro.
A Positivo, como as outras companhias, vinha se beneficiando do alto índice de confiança do consumidor, do dólar baixo, do nível de desemprego reduzido e do consequente aumento da demanda por PCs. Com o agravamento da crise, no entanto, a companhia foi uma das primeiras do setor a sofrer impactos negativos.
Ainda assim, as perspectivas para 2009, no final do ano passado, eram mais otimistas que as atuais. De acordo com o analista do mercado de PCs e impressoras da consultoria IDC, Luciano Crippa, revisões das expectativas levam a crer em um mercado desaquecido e em queda nos investimentos.
"Para o setor de TI, estamos esperando redução no crescimento, mas não acredito que ele chegará a ser negativo", afirmou.
Ele lembrou que as últimas previsões haviam sido baseadas, em grande medida, em um patamar mais baixo do dólar, o que gerava um cenário favorável para os fabricantes de equipamentos de informática.
"Com o dólar mais alto e dados referentes a 2008 atualizados, o quadro é outro", disse Crippa. Ele afirmou concordar que a venda de PCs é a que deve sofrer queda mais expressiva em 2009.
"A tendência é que os produtos de informática voltados aos usuários domésticos sejam os mais atingidos, já que esses podem alterar seus gastos de modo mais flexível. No mercado corporativo, os investimentos se fazem mais necessários, não é tão simples cortar gastos. As vendas de produtos voltados para esse mercado devem, portanto, ser menos atingidas", afirmou.
Esse fator explica porque, nos resultados referentes ao terceiro trimestre de 2008, a Positivo já havia registrado queda de 6,4% do lucro líquido e de 23,6% no lucro operacional em relação a igual período do ano anterior, num momento em que o mercado de TI não sentia os efeitos da crise de modo tão significativo. Explica, também, a opção por intensificar a mudança de foco nas vendas.
As estimativas de Crippa em relação a 2009 apontam, ainda assim, para estabilidade do volume de vendas de PCs no Brasil contra o ano anterior.
"Estamos trabalhando com a expectativa de 12 milhões de unidades vendidas em 2008. Acredito que, em 2009, o número deve se manter igual", disse.
De acordo com o analista, as empresas que mais sofrerão neste ano são as pequenas e médias. Por terem fluxos de caixa mais reduzidos que os das grandes companhias, elas terão menos imunidade diante da queda de demanda e escassez de crédito.
"Mais uma vez, o setor que mais deve sofrer com isso é o de computadores pessoais. Acredito que muitas empresas fabricantes de PCs terão dificuldades por conta do acirramento da concorrência", afirmou. Grandes empresas, entretanto, como a Positivo Informática, devem se beneficiar de um caixa mais amplo.
Veículo: Jornal do Commercio - RJ