Aracruz fecha acordo com credores

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Em um desfecho muito favorável para a empresa, a fabricante de celulose Aracruz chegou finalmente a um acordo com um grupo de bancos credores estrangeiros para financiar a dívida de US$ 2,13 bilhões, originada por prejuízos em operações com derivativos de câmbio. Pelo que ficou acertado, a Aracruz terá nove longos anos para saldar a dívida, além de seis meses de carência. O prazo poderá ser reduzido para sete anos, dependendo do desempenho operacional da empresa e no caso de venda de ativos. Outros cerca de US$ 500 milhões foram incluídos no mesmo pacote de renegociação. Eram financiamentos à exportação concedidos antes da crise. 

 

Os contratos devem ser assinados nesta semana e, com isso, a companhia começa a equacionar a pior crise de sua história, que quase a levou à lona em outubro, quando sua posição vendida em dólar chegou a US$ 10 bilhões em meio à inesperada crise cambial. 

 

O acordo com os bancos pavimenta o caminho para um outro acerto: a compra das ações de controle de Aracruz, pertencentes a um grupo liderado pelo empresário norueguês Erling Lorentzen, pela Votorantim. A transferência de 28% das ações ordinárias, acertada em agosto por R$ 2,7 bilhões, ficou em suspenso depois que vieram à tona, a partir de setembro, os pesados prejuízos da empresa com derivativos. Além dos Lorentzen, o grupo vendedor inclui o grupo Moreira Salles, a família Almeida Braga e o fundo Gávea. 

 

Para alguns observadores privilegiados, a renegociação da dívida permite que se chegue a um novo preço para a Aracruz. "Até então, não se conhecia a estrutura do seu passivo e o seu fluxo de caixa", diz uma dessas pessoas. Em seis de agosto do ano passado, dia em que foi anunciado o acordo entre Lorentzen e Votorantim, a Aracruz valia R$ 11 bilhões na bolsa. Ontem, valia R$ 4 bilhões. 

 

Além do prazo bastante alongado - no cenário atual de crise aguda as operações de crédito de longo prazo simplesmente desapareceram -, o acordo prevê um esquema de juros crescentes para incentivar o pagamento antecipado da dívida, segundo apurou o Valor. A taxa começa em Libor (a taxa interbancária de Londres) mais 3,5% em 2009. Em 2010 sobe para Libor mais 4% e a partir de 2011 a taxa subirá 25 pontos básicos (0,25) a cada seis meses, até um teto de 6%. A Libor está em torno de 2,5% e isso significa uma taxa inicial de 6% ao ano e um teto de 8,5%. As parcelas serão trimestrais. 

 

A empresa deu fábricas e florestas como garantia da dívida aos bancos. O acordo inclui um mecanismo bastante usual que prevê que, em caso de venda de algum ativo, o dinheiro que entrar no caixa da empresa irá para os bancos. 

 

Outra garantia, prevista no acordo, é o penhor de ações ordinárias de emissão da Aracruz, de titularidade de acionista integrante do bloco de controle. 

 

Muita gente duvidava que a companhia pudesse obter condições tão boas para pagar a dívida. Mas a verdade é que os bancos também não tinham muita opção a não ser construir uma saída para reerguer a empresa e, com isso, reaver parte do seu dinheiro. Os credores são JP Morgan, Merrill Lynch, Citi, Calyon, Santander, Barclays, Deutsche, Goldman Sachs, ING e BNP Paribas. 

 

O primeiro aceno da Aracruz ao grupo de bancos, feito ainda em outubro, foi para pagar em 15 anos, com Libor apenas. A oferta foi recusada pelos bancos. Naquela ocasião, a empresa ainda mantinha as operações com derivativos de câmbio em aberto e os credores passaram a exigir que a empresa as encerrasse, para fixar o valor da perda, o que ocorreu no início de novembro. Em dezembro, os bancos fizeram sua primeira proposta, que falava em sete anos de prazo e taxa de Libor mais 7% ao ano e a partir daí teve início o diálogo concluído agora. Os termos finais foram acertados na sexta e detalhes ainda foram discutidos em reuniões durante o fim de semana. 

 

Para um analista, tendo em vista o cenário atual de queda dos preços da celulose e redução dos volumes vendidos, a Aracruz pode encontrar dificuldades para saldar a dívida no prazo acertado. Esse analista trabalha com uma projeção de lajida (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) entre US$ 700 milhões e US$ 800 milhões para este ano. Ele lembra que a Aracruz pode ter especial dificuldade nos anos de 2013 e 2014, quando vencem parcelas importantes de dívidas anteriores da empresa com outros bancos, em especial Bradesco e Banco do Brasil. Essa análise pode sugerir que o acordo com os bancos tenha como premissa uma capitalização da companhia pelos sócios ou o acerto entre os Lorentzen e o Votorantim. Nesse último cenário, o projeto de fusão com a VCP poderia ser retomado e a situação de caixa seria outra. 

 

Veículo: Valor Econômico


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