BNDES viabiliza gigante de celulose

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Quase seis meses depois de uma primeira tentativa para a criação da maior fabricante de celulose do mundo, a Votorantim voltou à carga, anunciando ontem um novo acordo de compra de ações da Aracruz. Ao contrário da oferta anterior, frustrada pela crise financeira devido às perdas de US$ 2,1 bilhões da fabricante de celulose com operações financeiras com derivativos, o grupo controlada pela família Ermírio de Moraes deve contar com a colaboração do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Participações (BNDESPar) e não mais o grupo Safra, como previsto antes. 

 

Para viabilizar a operação, que consiste numa compra de ações, avaliada em R$ 5,4 bilhões, além de um aumento de capital e a incorporação da Aracruz pela Votorantim Celulose e Papel (VCP), a nova companhia receberá um aporte de até R$ 2,4 bilhões do banco oficial. Ao fim da operação, a ser concluída em quatro meses, o BNDESPar voltará a fazer parte do bloco de controle com a Votorantim numa empresa de celulose, com poderes de veto em decisões estratégicas - situação que o banco detinha desde a fundação da Aracruz, em 1967, até maio de 2007, quando venceu o antigo acordo de acionistas. O novo acerto é válido até 2014. 

 

"A Votorantim e o BNDES "crescem nesta reestruturação societária", disse diretor-geral da Votorantim Industrial, Raul Calfat. "Com a gestão Votorantim, vamos ter um processo de incorporação da Aracruz para em seguida aderirmos ao Novo Mercado", afirmou Calfat, que fez questão de enfatizar a presença do BNDES na formação de "campeões nacionais" com presença mundial. "É importante no projeto Brasil termos grandes empresas de capital nacional." 

 

A Votorantim disse que o aporte do BNDES não é uma operação de ajuda ao grupo, que também teve perdas com derivativos de R$ 2,2 bilhões. "A Votorantim está entrando com a empresa que ela tem e com recursos adicionais", disse Calfat. "O BNDES vai fortalecer seu investimento." 

 

O BNDESPar disse que o apoio à nova empresa estava condicionado ao acordo das dívidas da Aracruz, cujos prazos para quitação foram alongados por até nove anos. "A operação está alinhada aos objetivos institucionais do BNDES de elevar a capacidade de investimento e geração de empregos das empresas, bem como de apoiar consolidações setoriais para o fortalecimento de grandes empresas globais brasileiras, nos segmentos em que o país é o mais competitivo, como é o caso da celulose de eucalipto." 

 

A composição da nova sociedade depende do grupo Safra, que poderá exercer sua opção por comprar a participação da Arapar (as famílias Lorentzen, Moreira Salles e Almeida Braga). Mas é quase provável que o grupo financeiro não exerça essa opção. Se decidir comprá-la, o Safra teria de desembolsar R$ 6 bilhões, calculou Pércio de Souza, da Estáter, que assessorou a Votorantim na operação. 

 

O grupo controlado pela família Ermírio de Moraes pagará R$ 2,71 bilhões aos donos da Arapar - a primeira parcela de R$ 500 milhões está prevista para hoje. O valor nominal da oferta é o mesmo que foi acertado em agosto, quando houve a primeira oferta. Mas a quitação será feita em seis parcelas, a serem pagas semestralmente, até julho de 2011, o que a valor presente representa um pagamento de R$ 2,35 bilhões. Quando se compara ao valor anterior que seria pago à vista, houve um desconto de R$ 360 milhões no preço. Para se chegar a esse desconto, foi considerada a parcela que cabia à Arapar nos prejuízos da Aracruz com derivativos, descontado o benefício fiscal gerado pelas perdas. 

 

Analistas avaliam que o preço pago foi alto devido à forte desvalorização das ações da Aracruz pós-crise. A interpretação da Votorantim é outra. Em razão da Aracruz ser uma grande exportadora e geradora de receitas em dólar, quando se considera o preço pago em moeda americana, houve queda de 40%. Em agosto, o valor da transação equivalia a US$ 1,7 bilhão. Agora, a US$ 1 bilhão. 

 

Depois desta etapa, a VCP fará um aumento de capital por meio de uma oferta de ações no total de até R$ 4,25 bilhões. O banco poderá ter cerca de um quarto do capital total da gigante de celulose, mas o percentual poderá variar conforme a adesão dos minoritários da VCP a um planejado aumento de capital de até R$ 4,2 bilhões. Nos três primeiros anos, o banco vinculará 21% de sua fatia ao acordo de acionistas, percentual que cairá para 16% a partir do quarto ano. O BNDESPar possui 6,6% das preferenciais da VCP e 12,5% das ordinárias da Aracruz. 

 

Do total de R$ 2,4 bilhões o qual o banco poderá aportar, até R$ 1,8 bilhão referem-se à compra de ações preferenciais de emissão da VCP e outros R$ 580 milhões em debêntures de emissão da controladora Votorantim Industrial. Essas debêntures poderão ser trocadas por ações ordinárias da VCP numa etapa posterior à incorporação da Aracruz. Nesta operação, a Votorantim deverá aportar R$ 600 milhões em recursos próprios para fazer frente ao aumento de capital. 

 

A nova companhia nascerá com receita líquida de R$ 7 bilhões e geração de caixa de R$ 2,4 bilhões projetados para este ano, responsável por vendas de 5,1 milhões de toneladas de celulose, o que a coloca na posição de maior produtora mundial. Seu custo de produção será o mais baixos do mundo, segundo estimativas da empresa, ao redor de US$ 240 por tonelada. A empresa espera captar os mesmos R$ 4,5 bilhões em sinergias previstos na operação anterior. 

 

A Votorantim deve formar um grupo de transição para avaliar a atual estrutura das duas empresas. Segundo Calfat, a empresa não deverá fazer cortes nos empregos nas áreas operacionais, podendo eliminar postos de trabalho nos setores administrativos, onde existe duplicidade de função e onde os salários são os mais altos. 

 

Segundo Calfat, a empresa tem o projeto de construir três novas fábricas de celulose até 2020 - uma delas no Rio Grande do Sul, outra na Bahia por meio da duplicação da Veracel (em sociedade com o grupo finlandês-sueco Stora Enso) e outra a decidir em Mato Grosso do Sul, Minas Gerais ou Rio Grande do Sul. Esses projetos vão gerar 9 mil empregos, disse o diretor. (Colaboraram Vanessa Adachi e Vera Saavedra Durão, do Rio) 

 

Veículo: Valor Econômico


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