VCP obtém benefícios com incorporação

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Após um ano de longas negociações, finalmente foi fechado o negócio para aquisição da Aracruz pela Votorantim Celulose e Papel (VCP), formando-se a maior empresa do mundo em produção de celulose de mercado. Pelo acordo, as famílias Lorentzen, Almeida Braga e Moreira Salles (formadores da Arapar S.A.) receberão R$ 2,71 bilhões por sua participação de 28% na companhia. A oferta, nas mesmas condições, será estendida ao grupo Safra, detentor de outros 28%, dentro do processo de tag along, como prevê a Lei das S.A.

 

O valor será pago em seis parcelas semestrais até julho de 2011, sem correção. A operação prevê ainda um aumento da participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que salta de 12% para 26% das ações. A operação embute uma reestruturação societária que contará com diversas etapas até a sua conclusão. Serão realizados um aumento de capital, uma Oferta Pública de Ações (OPA) e uma incorporação de ações. Na conclusão do processo, a empresa entrará no Novo Mercado.

 

Mas, na prática, com a incorporação da Aracruz pela mesma oferta que havia feito em agosto de 2008, a VCP acaba pagando um ágio aos acionistas, uma vez que hoje a companhia não vale mais o mesmo que valia em agosto, antes dos problemas enfrentados com derivativos. Em dezembro de 2007, a Aracruz valia cerca de R$ 14,74 bilhões, mas no final de 2008 esse valor não ultrapassava a casa dos R$ 3,29 bilhões. Atualmente, a companhia está avaliada em R$ 4,11 bilhões.

 

Segundo o sócio da Estáter (empresa que auxiliou na formatação do acordo), Pérsio de Souza, trata-se de uma incorporação de ações, operação que abre a possibilidade de a VCP aproveitar fiscalmente, no futuro, não apenas o ágio pago como também o prejuízo acumulado de cada companhia, uma vez que a própria VCP também sofre com suas operações de derivativos.

 

Com a incorporação somente das ações da Aracruz, a VCP poderá amortizar em seu planejamento fiscal cerca de 20% desse ágio por ano. "Após a incorporação total, em cinco anos, ela mata esse valor pago a mais", explica o professor de planejamento tributário da Fundação Instituto de Administração (FIA), Mario Shingaki.

 

"Na prática, esse tipo de operação cria um novo conglomerado, mas com duas figuras jurídicas distintas, cujos prejuízos podem ser amortizados fiscalmente também", afirma o professor.

 

Além dos benefícios fiscais, Aracruz e VCP juntas dão origem a uma empresa líder mundial na produção de celulose de mercado com uma capacidade de 5,8 milhões de toneladas por ano, o que garantirá 12% do mercado mundial de celulose. Além disso, são mais de 1 milhão de hectares em áreas manejadas, sendo 40% de preservação, cerca de 15 mil funcionários entre diretos e terceirizados, podendo gerar mais 9 mil empregos até 2020 com novos projetos. A receita líquida é estimada em torno de R$ 7 bilhões, e uma capacidade de geração de caixa (Ebitda) da ordem de R$ 2,4 bilhões. Do ponto de vista de ganhos de eficiência e de mercado, a operação prevê uma captura de sinergias das duas empresas da ordem de R$ 4,5 bilhões.

 

Segundo o diretor-geral da Votorantim Industrial, Raul Calfat, a restruturação societária amplia a participação da VCP e do BNDES, mas nada impede de o grupo Safra continuar na sociedade, se quiser. "Claro que isso tudo foi desenhado a partir da nova realidade e dos sinais que recebemos deles, mas mantemos ainda um bom relacionamento e não teríamos problemas em continuar a sociedade", diz. O executivo rebateu ainda as notícias sobre problemas financeiros do grupo Votorantim, após a venda das participações no banco e em empresas de biotecnologia. Segundo ele, por sua ação ágil, baseada em conceitos de governança corporativa, a empresa se reposicionou rapidamente, prorrogando prazos de projetos e adiando investimentos. "O que fizemos lá atrás agora está sendo feito por muitos outros grupos e agora estamos anunciando novos investimentos", afirma.

 

Os investimentos, porém, continuam sendo controlados. A previsão da nova empresa é manter os aportes em quatro fábricas estratégicas até 2020. Três Lagoas, que será inaugurada no próximo ano e já está praticamente pronta; Rio Grande do Sul, com o projeto Guaíba; Veracel II, e Três Lagoas II.

 

A negociação com a VCP só pode avançar após o fechamento do acordo de renegociação da dívida de US$ 2,6 bilhões da Aracruz com os bancos, nesta semana. Com isso se encerra um longo período de embate entre a corporação e os credores após a divulgação das perdas com derivativos. Isso porém não muda nada no que diz respeito ao processo contra o ex-diretor de relações com investidores, Isac Zagury. Segundo Calfat, o processo foi definido em assembléia por todos os acionistas "e continua em andamento".

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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