Crise nos EUA atinge em cheio uva do S. Francisco

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A desaceleração da economia nos países ricos atingiu em cheio as exportações de uvas no início de 2009. Na região do Vale do São Francisco, responsável por 90% das exportações de uvas finas de mesa e grande pólo para o processamento de vinhos, duas grandes vinícolas encerraram totalmente suas atividades e deixarão de plantar mais de 200 hectares neste ano, causando milhares de demissões. O produto é líder nas exportações da fruticultura e movimentou US$ 171,4 milhões em 2008, 23% do total, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf). Especialistas afirmam que o alto custo da uva de mesa e o aumento da produção nos Estados Unidos, um dos maiores compradores do produto brasileiro, reduziram a demanda e fizeram os preços despencarem, inviabilizando a produção.

 

As parreiras demandam grande volume de mão-de-obra, empregando em média cinco pessoas por hectare. Outras frutas como melões, mangas e maçãs, respectivamente as três mais exportadas depois da uva, ainda não apresentam sinais de redução na demanda. Representantes do setor não cogitam o redirecionamento dos produtos para o mercado interno. Porém, o impacto da crise mundial nas outras culturas não é descartado.

 

"Ninguém ficou imune a essa crise e quem ainda não foi atingido com certeza também sentirá os reflexos", adverte Arthur Souza, diretor da Associação dos Produtores e Exportadores do Vale do São Francisco (Valexport), uma das principais exportadoras de frutas do Nordeste. A organização estima que a produção de uvas na região foi de 100 mil toneladas em 2008, podendo recuar até 35% em 2009. Ele diz que a forte queda nos preços da caixa (8,2 quilos) foi um dos principais responsáveis pela crise. Segundo disse, os negócios que eram feitos entre US$ 27 e US$ 36 em 2007, caíram para algo entre US$ 25 e US$ 10 a caixa nos últimos três meses.

 

"O auge da crise pegou em cheio a maior janela para exportação da uva, que ocorre entre novembro e dezembro. No último lote deste mês, cada caixa custou US$ 10", completa Souza. A manga, que é o segundo produto mais cultivado na região ainda não sentiu os efeitos da crise, conforme explicou Souza.

 

Moacyr Saraiva Fernandes, presidente Ibraf, diz que o maior problema com a uva ficou concentrado no Reino Unido. "A variedade sem sementes tem um preço muito alto em relação às uvas vendidas antigamente. Os supermercadistas de lá estão priorizando produtos mais baratos". Nos EUA, ele explica que a grande safra de uva da Califórnia também contribuiu para a queda na demanda. Segundo disse, a estratégia do setor será focada em acordos bilaterais com novos países e melhoria do status sanitário, além da busca por maior acesso ao crédito público. "Só nos EUA há um potencial de US$ 8 bilhões que ainda não conseguimos acessar por causa dos entraves sanitários. Sem contar os mercados asiáticos como China e Japão, que também são promissores. Antes estávamos muito voltados a mercados multilaterais como a União Européia".

 

Para Souza, o crédito será crucial para a região neste ano. "Em abril e maio começam as compras para a safra. Se não tivermos acesso à crédito, o problema será ainda pior". Saraiva explica ainda que o governo colocou à disposição do setor linhas de crédito via BNDES no ano passado, mas ainda não houve nada de efetivo para sua utilização. "Muitos exportadores perderam dinheiro com a valorização do dólar, pois adiantavam entre 20% e 30% da safra com crédito estrangeiro para fazer fundo de caixa e a volatilidade acabou jogando totalmente contra". Segundo ele, mesmo com a crise, os investimentos para promover o setor como participação em feiras estrangeiras mostram que a aposta é em estabilidade.

 

Pierre Nicolas Peres, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Maçãs (Abpm), acredita que o excesso de más notícias pode prejudicar a demanda. "A maioria toma como base os três últimos meses de 2008, que foram ruins. Mas no geral, o saldo de empregados, inclusive, cresceu". A safra será de 610 mil toneladas em 2009 e deixar mais justo o mercado.

 

Em 2008, segundo o Ibraf, a receita com as exportações de frutas cresceu 12,6% e somou US$ 724,2 milhões. O volume recuou 3,3% e fechou com 888 mil toneladas. Saraiva explica que a queda em volume foi provocada pela quebra na safra de algumas culturas.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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