O aumento do pessimismo dos empresários e o nível elevado de estoques impediram que a indústria reagisse em agosto e devem pesar contra o desempenho do setor em todo o terceiro trimestre, avaliam economistas. Após o tombo de 2% de julho, a média de 18 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data aponta que a produção industrial ficou praticamente estagnada no mês passado, com queda de 0,1% na passagem mensal, feito o ajuste sazonal.
As estimativas para a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF), a ser divulgada hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vão de recuo de 0,5% a alta de igual intensidade. No entanto, mesmo os analistas que trabalham com variação positiva para a atividade nas fábricas no período não veem essa trajetória com muito otimismo, dado que a freada brusca da produção observada na abertura do trimestre não deve ser recuperada.
Guilherme Maia, da Votorantim Corretora, afirma que a evolução de grande parte dos indicadores antecedentes do comportamento da indústria foi positiva na passagem mensal, mas, como eles vieram de um nível muito baixo no mês anterior, não devem contribuir para aumentar a produção na medição atual. Ele projeta que a produção industrial caiu 0,3% no mês passado.
Como exemplo de antecedentes positivos que não devem ajudar a produção na leitura atual da PIM, o economista menciona a produção de veículos medida pela Anfavea (entidade que reúne as montadoras), que, segundo seus cálculos com ajuste sazonal, subiu 1,9% em agosto, mas diminuiu 4,8% no mês anterior, e o fluxo pedagiado de veículos nas estradas, que, ao aumentar 0,7%, praticamente devolveu a queda de 0,5% observada em julho. "A desaceleração está clara. Havia uma recuperação em curso desde o segundo semestre de 2012, mas o tombo da produção após a queda da confiança foi o divisor de águas", disse Maia.
Já a economista Fernanda Guardado, do Banco Brasil Plural, avalia que a indústria automobilística será a principal influência em sua estimativa de expansão de 0,5% para a produção em agosto, junto a "ligeiras altas" em outros segmentos, o que não significa, no entanto, que o setor manufatureiro tenha entrado em uma rota mais consistente de retomada. "O dado positivo é uma boa notícia, mas confirma a desaceleração da atividade ao longo do terceiro trimestre", comentou, já que o aumento esperado não é suficiente para compensar a forte retração de julho.
Fernanda destaca que, no fim de agosto, os veículos parados nos pátios das fábricas e concessionárias passavam de 400 mil, o equivalente a 36 dias de venda, quando o ideal, segundo representantes de revendas, é um giro suficiente para 30 dias. Mesmo com a melhora da produção de veículos no mês passado, ela pondera que o setor ainda opera abaixo do ritmo do segundo trimestre devido ao excesso de estoques, situação que também pode ser observada em outros ramos da indústria.
De acordo com a Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação da Fundação Getulio Vargas (FGV), 10,1% das empresas consultadas em agosto consideravam seu volume atual de mercadorias paradas como excessivo. Além dos estoques, a economista do Plural afirma que a produção de bens de capital também deve influenciar a perda de ímpeto prevista para a indústria no terceiro trimestre, assim como a de eletrodomésticos, devido à recomposição do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para itens da linha branca.
Segundo Leandro Padulla, da MCM Consultores, a questão dos estoques ainda deve segurar a produção nos próximos meses. Ele também aponta que produção de caminhões, ônibus e máquinas agrícolas, que teve desempenho expressivo na primeira metade do ano, já dá sinais de esfriamento e deve moderar tanto a indústria como os investimentos no trimestre encerrado em setembro, efeito que já deve ser visto na medição de agosto da PIM. Em suas estimativas, a produção encolheu 0,3% ante julho.
Veículo: Valor Econômico