Celso Grisi é presidente do Instituto Fractal de Pesquisa de Mercado
E não é que o varejo deu um passa-moleque nos analistas? Há sem dúvida um excesso de pessimismo entre os analistas nas previsões feitas sobre o desempenho da economia brasileira. O exemplo aparece hoje de forma clara. Todos se dizem positivamente surpresos com o desempenho do varejo no mês de agosto. O crescimento foi de 0,9% em relação a julho, enquanto as previsões iam desde o campo dos números negativos até o máximo de 0,1%.
Por outro lado, não se tem nada a comemorar com a divulgação desse resultado. Afinal, isso apenas aponta para o fato de que o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre não será negativo. Poderá alcançar a estabilidade ou frequentar os limites do território dos números positivos. No máximo 0,6%. Para isso, precisará contar com a ajuda do setor industrial.
Mesmo apresentando esse desempenho mais favorável que o esperado, nada sugere que o nível de atividade do comércio possa pressionar o estoque de crédito ou animar os receosos banqueiros nacionais. Os empréstimos concedidos pela banca nacional têm juros cada vez mais altos e prazos cada vez mais curtos, como demonstrou o último o relatório do Banco Central.
A inflação menor é que tem dado alento ao comércio e, nesse sentido, os incentivos governamentais à compra de eletrodomésticos ajudaram a impulsionar o nível de atividade do setor. Mas, não o suficiente para evitar o crescimento dos estoques na economia nacional.
Nesses momentos, o excesso de otimismo não deve substituir excesso de pessimismo. Convém lembrar que o crescimento da renda nacional continua em processo de desaceleração e que a Selic recém aumentou mais 0,5 ponto porcentual.
Portanto, melhor será continuar com as "barbas de molho" e não esperar por reações mais fortes. Talvez o comércio apenas esteja apresentando um suspiro mais longo em função de fatos momentâneos.
Veículo: DCI