Pequenos e médios varejistas de São Paulo sentirão o impacto do aumento do imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU). Empresas como Via Rosa Móveis, De Meo, e Armarinhos Fernando já repensam a operação para driblar a menor margem de lucro das redes.
Empresários do setor temem ainda que a elevação do imposto acarrete em uma diminuição do poder de consumo do paulistano, uma vez que a alta do IPTU também será aplicada à pessoa física. O fato pode reforçar a desaceleração do comércio em 2014.
Para o economista chefe da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Marcel Solimeo, o maior problema não é o aumento em si. "Em um momento com desaceleração de vendas, aumentar o IPTU em 35% no ano que vem e outra percentagem nos posteriores é mais um desestímulo."
Solimeo rebate uma das justificativas apresentadas pela Prefeitura de São Paulo, que indica valorização dos imóveis. "Ninguém paga impostos com o patrimônio, se paga com a renda", afirma. Segundo o executivo, a medida deve desestimular "a abertura de novos empreendimentos."
Em entrevista ao DCI, o assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Jaime Vasconcellos, aponta que o acréscimo de até 35% no IPTU pode afetar o comércio de duas formas. "Primeiro, diretamente pelo aumento, pois é uma parcela a mais da receita utilizada para cobrir custos. E também pela queda nas vendas, porque com a população pagando mais impostos, se tira um pouco do consumo familiar."
Já o presidente da Federação das Câmaras dos Dirigentes Lojistas do Estado de São Paulo (FCDLESP), Mauricio Stainoff, ressalta que o reajuste em si não é tão preocupante para o empresário.
"Considerando uma loja de 200 metros quadrados e faturamento de R$ 150 mil por mês, por exemplo, o IPTU pesa de 0,003% a 0,005% do faturamento. Mesmo se multiplicar isso por 35%, o impacto não é grande, afeta mais a impressão que o comerciante tem do negócio", destaca. "O problema é para o pequeno comércio. O reajuste pode chegar a até 20% para as pessoas físicas, e esse aumento tira dinheiro que poderia ir para o consumo. O impacto maior não é para quanto o empresário pagará, mas quanto as pessoas deixarão de consumir."
Impacto real
Os pequenos varejistas endossam o coro contra o aumento do IPTU, mesmo que a taxa represente uma parcela pequena do faturamento. O sócio-diretor da Via Rosa Móveis, Sérgio Besen, diz não saber como lidar com a elevação, mas acredita que mudanças serão necessárias. "Não conseguiremos aumentar os preços, porque quem manda é o mercado. Devemos perder lucratividade, fato que daqui a pouco tornará o funcionamento inviável."
Besen explica que o imposto hoje representa aproximadamente 1,5% de seu faturamento, obtido através de uma loja localizada no bairro da Vila Mariana.
A Armarinhos Fernando descarta um repasse de preços, pelo menos em um primeiro momento. O gerente-geral, Ondamar Ferreira, relata que até pelos preços serem considerados um diferencial para a loja, "não poderemos alterar nossos preços nem aumentar nossa margem."
Segundo o diretor financeiro da De Meo, Fúlvio Giglio, a mudança é pouco expressiva na comparação com o faturamento das 14 lojas de máquinas e ferramentas da rede. No entanto, ele considera o valor abusivo. "Hoje o IPTU representa quase R$ 20 mil de nosso faturamento, o que equivale a cerca de 0,5%. Mas nada na economia ou no comércio justifica um aumento de 35%."
Entidades e especialistas alertam até mesmo para o risco de fechamento de algumas lojas. Conforme aponta o assessor econômico da FecomercioSP, Jaime Vasconcellos, varejistas tendem a encerrar suas atividades caso os custos fiquem muito altos. "Uma mudança de endereço para regiões com valor menor de impostos e outras cidades pode ocorrer, mas os pequenos tendem mais a fechar portas do que migrar."
O acréscimo pode até mesmo afetar redes com maior número de lojas. "Algumas delas vão repensar rentabilidade de lojas que podem não suportar o prejuízo", comenta o vice-presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV).
O economista Alessandro Azzoni explica que a falta de estruturação de algumas companhias menores pode atrapalhar a adaptação ao aumento do IPTU. "Os pequenos estão mais suscetíveis por causa da estrutura. O preço é calculado informalmente, então deve ocorrer um repasse", comenta. "Os comerciantes já estão trabalhando com uma margem de lucro abaixo dos 20%, se muito. Quem tiver bases muito estreitas pode fechar, devido à inviabilidade do negócio."
Veículo: DCI