O excesso de produção de telas de LCD no mundo e a queda generalizada da demanda nos maiores países consumidores acabaram favorecendo os brasileiros. Mesmo com a valorização do dólar em relação ao real no último trimestre de 2008, as grandes multinacionais do setor despejaram seus estoques e continuaram baixando os preços dos televisores de tela fina no Brasil, um dos poucos lugares onde a demanda ainda cresce a taxas superiores a 200%.
Os números mostram que o consumidor brasileiro reagiu bem às promoções e aproveitou a oportunidade para aposentar a TV de tubo. Segundo Valdemir Santana, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas, duas fabricantes de televisores, a Samsung e a Panasonic, voltaram a contratar em janeiro na Zona Franca de Manaus. Neste mês, o sindicato contabiliza 700 admissões, revertendo a tendência de demissões que vinha sendo registrada até dezembro.
Os analistas estrangeiros prevêem que a oferta mundial de telas de LCD irá exceder o consumo em 13% neste início do ano. Diante desse cenário, é esperado que os fabricantes continuem desovando seus estoques no varejo brasileiro e adiem os reajustes.
A queda dos preços dos televisores de LCD despertou o interesse dos consumidores, mas, de certa forma, acabou afetando as vendas de computadores. "Os dois produtos dependem de crédito, mas, como os preços dos televisores de tela fina estão mais atraentes, os consumidores optaram por comprar o aparelho em vez de trocar de computador", avalia Luiz Góes, da firma de consultoria Gouvêa de Souza & MD, especializada em varejo.
Uma pesquisa divulgada pela empresa em dezembro mostrou que o percentual de entrevistados que pretendem comprar um computador e uma TV de LCD nos próximos dois anos é o mesmo: 16%. No entanto, nos últimos dois anos, mais pessoas (29%) compraram um PC do que um televisor de LCD (10%), o que explica, em parte, o maior interesse pelo segundo produto no Natal do ano passado.
De acordo com a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), os televisores de LCD foram o maior destaque de 2008. Entre janeiro e novembro, foram fabricados 2,5 milhões de unidades, volume 248,8% maior que o produzido em igual período de 2007. Assim como acontece no resto do mundo, a tecnologia LCD também se sobrepôs ao plasma no Brasil. Em Manaus, a produção de televisores de plasma cresceu 75% entre janeiro a novembro do ano passado, mas o total fabricado, de 315,3 mil unidades, foi bem inferior ao LCD.
O grande perdedor, porém, são os televisores de tubo. A queda acentuada dos preços do LCD no mundo acelerou a substituição tecnológica no mercado brasileiro e deve levar os fabricantes locais a reduzir ainda mais a fabricação dos aparelhos convencionais, que já não oferecem margens de lucro. De acordo com a Suframa, foram produzidos 7,534 milhões de televisores de tubo em Manaus, volume 23% inferior ao fabricado em igual período de 2007.
Embora ainda percam em volume para os televisores de tubo, os aparelhos de LCD já são o maior mercado em faturamento no país. As indústrias instaladas na Zona Franca faturaram US$ 2,19 bilhões com o televisores de LCD entre janeiro a novembro, enquanto o mercado de televisores convencionais movimentou US$ 1,56 bilhão.
As indústrias estão vendendo mais televisores de LCD, mas, mundialmente, já não estão mais conseguindo ganhar dinheiro com o produto. A LG anunciou na semana passada que registrou um prejuízo operacional de US$ 10 milhões no quarto trimestre com a sua divisão de Digital Display, que inclui televisores digitais, apesar de um aumento de 22% nas vendas de TV de LCD.
Veículo: Valor Econômico