Mercado de PCs tropeça depois de 4 anos

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Era para ter sido "o Natal do notebook", como alardeou a indústria de computadores até setembro do ano passado, quando o mercado de PCs ainda exibia vigor invejável, com a quebra de um recorde atrás do outro. Passada a euforia, porém, o que parece ter restado como saldo de fim de ano é um movimento frustrante das vendas, além de uma série de dificuldades com envergadura suficiente para desafiar a criatividade das empresas do setor por meses a fio. 

 

Dados preliminares revelados ao Valor pela consultoria IT Data mostram que no quarto trimestre de 2008 as vendas da indústria de PCs foram cerca de 10% inferiores às do mesmo período de 2007. O movimento decrescente também aparece nas contas preliminares do IDC. Segundo a empresa de pesquisa, entre outubro e dezembro o consumidor brasileiro comprou 2,7 milhões de computadores. No quarto trimestre de 2007, o volume foi de 3,1 milhões, o que significa uma redução de 11% no período. 

 

Depois do agravamento da crise financeira internacional, os analistas reviram seus números, mas mesmo as estimativas mais pessimistas indicavam um acréscimo das vendas, em unidades, na comparação com 2007. Os dados mais recentes mostram um quadro mais grave. 

 

O reflexo no chão de fábrica é um movimento de demissões que já começou a sangrar boa parte das companhias instaladas na Zona Franca de Manaus. Segundo Valdemir Santana, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas, entre outubro e dezembro somente quatro empresas do pólo ligadas ao setor teriam cortado 3,3 mil vagas. O grupo reuniria Solectron, CCE, Envision e Digitron. 

 

Há pelo menos quatro anos, o mercado de PCs não registrava um trimestre de queda nas vendas. Entre 2004 e 2007, a indústria de computadores do país cresceu a uma taxa anual média de 81,2%. No mesmo período, o preço dos equipamentos caiu 47%. A oferta de crédito ao consumidor final, fundamental para incentivar as vendas, também deu um salto de 29% nesse intervalo. 

 

As dificuldades do setor de PCs são provocadas pela reversão das condições que fizeram seu sucesso nos últimos anos: a alta do dólar - que eleva o preço das máquinas, cujos componentes são em grande parte importados -, a retração de crédito no varejo e uma boa dose de medo do consumidor em assumir novas dívidas. "As máquinas mais simples, que até o mês passado custavam R$ 799, foram reajustadas para R$ 999, com viés de alta", diz Fábio Régis, diretor comercial de tecnologia da rede Ponto Frio. "Além disso, tivemos que fazer aumento da taxa de juros e ficamos mais seletivos, porque a inadimplência também cresceu." 

 

A freada do consumo tem feito com que as redes de varejo recorram a promoções para tentar queimar estoques que pretendiam vender um mês atrás. A Casas Bahia sentiu o baque e fechou 2008 com 538 mil unidades vendidas, uma queda de 6% em relação a 2007, quando vendeu 572 mil equipamentos. 

 

"Dezembro realmente foi um mês bastante complicado", diz Fábio Régis, da rede Ponto Frio. "O que temos feito é uma série de promoções. Puxamos o Natal até janeiro", diz o executivo, sem citar números. 

 

As dificuldades atuais das redes de varejo já vem assombrando os fabricantes de equipamentos desde novembro. Naquele mês, quando o consumidor ainda comprava produtos com dólar na casa de R$ 1,60, a indústria de equipamentos começava a reduzir o movimento nas linhas de produção. Segundo dados do IBGE, a produção do setor de máquinas para escritório e equipamentos de informática - que inclui computadores e impressoras, entre outros itens - caiu 11,9% em novembro sobre o mês anterior. A queda só não foi pior que a da indústria de veículos, que despencou 22,6%. 

 

Na comparação com novembro de 2007, o tombo foi ainda mais forte, com uma retração de 29,7%. Depois de puxar por vários meses a produção industrial do país, a indústria de PCs deu a maior derrapada entre todos os setores medidos pelo IBGE. De janeiro a novembro de 2008, o segmento acumulou queda de 7%. É preciso ponderar, no entanto, que o IBGE não inclui em suas contas o mercado de laptops, uma fatia que já representa cerca de um terço das vendas de computadores pessoais no país. 

 

Com a queda do mercado, a tendência é de que as negociações entre fabricantes e redes de varejo fiquem ainda mais duras. A margem de lucro de um fabricante de PC é extremamente apertada, na casa dos 3%. O varejista, em média, leva ainda cerca de 25% desse resultado líquido. 

 

Fabricantes de PCs que atuam no país foram procurados pela reportagem, mas a maioria não quis conceder entrevista. Segundo Germano Couy, diretor comercial da Megaware, empresa que atua há 12 anos no setor, "houve um medo instituído" que ajudou a atrapalhar as vendas do fim de ano. "Dezembro foi prejudicado porque o consumidor quis observar o setor. Por isso, o mês de janeiro, que normalmente é um período mais fraco, está sendo mais movimentado que o período de Natal." 

 

A ressaca de fim de ano também está rendendo resultados para a Amazon PC, diz Carlos Diniz, presidente da empresa. "Tínhamos a expectativa de colocar 13 mil notebooks no mercado em dezembro, mas vendemos só 25% do previsto." Este mês, afirma Diniz, "as vendas estão indo bem". (Colaborou Gustavo Brigatto) 

 

Veículo: Valor Econômico
 


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