Volta às aulas na crise

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Papelarias e livrarias começaram a se preparar para a volta às aulas em setembro, quando a crise financeira global ainda não havia atingido a economia real. Agora, com a desaceleração do crescimento e até com a perspectiva de recessão , cada empresa se prepara à sua própria maneira para lidar com uma possível queda de demanda por material escolar nesta época, uma das mais importantes para esse segmento do varejo. Bom atendimento e produtos exclusivos podem fazer diferença.

 

O gerente de marketing da tradicional papelaria carioca Casa Cruz, Paulo De Bem, diz que há uma perspectiva natural de redução de demanda. "Já vem ocorrendo há algum tempo. Pais que têm mais de um filho estão aproveitando o material já utilizado pelos mais velhos para os mais novos. Há aqueles pais que só tem um filho e fazem que trate com carinho o material (compasso, régua, dicionários, etc.) para utilizar no ano seguinte", diz.

 

Segundo De Bem, para contornar a queda nas vendas, a Casa Cruz viu a necessidade de expandir seu portfólio de produtos. A empresa então aumentou o sortimento nos produtos voltados para artesanato. "Mas temos que ter sempre o principal em artigos de papelaria, para que nossos clientes sempre reconheçam a Casa Cruz", diz o gerente.

 

Maria Elisa Corrêa de Araújo, sócia-diretora da rede de papelarias de alto padrão Papel Craft, conta que os planos de expansão da empresa estão temporariamente suspensos devido à situação econômica atual do país. Ano passado, foram inauguradas três lojas e, em 2009, a meta era abrir mais duas unidades atualmente, a rede tem 13 pontos no Rio, em São Paulo e Brasília. "Não prevemos crescimento este ano. Continuamos apostando em estoque para atender a demanda por nossos produtos", diz.

 

A Papel Craft trabalha com linha própria de produtos de escritório e papelaria, bolsas e canetas, para se diferenciar das outras papelarias. "Este ano, mantemos o planejamento de fazer novas parcerias com designers para coleções novas e investir em novidades. Com crise ou sem crise, o que vale é se diferenciar", afirma Maria Elisa.

 

"Temos uma gráfica própria para a produção dos nossos produtos, que não são encontrados em outras papelarias. Todo ano, em novembro, desenvolvemos coleções voltadas para o nosso público-alvo. Em 2008, trabalhamos com um designer francês chamado Roberto Le Héros e com uma ilustradora brasileira chamada Mariana Massarani, que trabalha com livros infantis", complementa Mariana de Almeida Santos, gerente de marketing da empresa.

 

Além dos produtos exclusivos, a Papel Craft também trabalha com importados. "Este ano compraremos produtos mais acessíveis, que não fiquem tão caros para o consumidor final, como linhas mais baratas de relógios e calculadoras. Com a alta do dólar, tivemos que rever nosso foco", diz Maria Elisa, a sócia-diretora.

 

A proprietária da Marie Papier, papelaria de alto padrão localizada no Shopping Leblon, Cristina Moskovics, explica que "o foco da sua empresa não é o momento de volta às aulas. Investimos mais no Natal, Dia das Mães e outras datas comemorativas". No entanto, ela se diz confiante neste começo de ano.

 

"Nosso público-alvo são jovens de classe média alta, moradores da Zona Sul carioca. São pessoas que querem produtos diferenciados, com design e mais cuidado no acabamento. Não estão atrás de preço", revela. "Estudamos as vendas do ano passado e baseamos nosso ano a partir daí. O planejamento de 2009 começou em setembro do ano passado e finalizamos as compras em dezembro. Não há sobras de produtos na Marie Papier, pois lançamos uma quantidade específica de cadernos, por exemplo, que vai sendo consumida ao longo do ano", diz a proprietária da empresa.

 

A economista e professora Patricia Vance, do Programa de Administração de Varejo (Provar) da Fundação Instituto de Administração (FIA) da Universidade de São Paulo (USP), recomenda às papelarias atenção redobrada no atendimento aos clientes. "Hoje, as pessoas têm pouco tempo disponível para tudo e, na época de volta às aulas, as lojas ficam cheias. O melhor a se fazer é evitar a perda de vendas por causa de mau atendimento", conclui.

 

Ela prevê que o consumidor será mais conservador nas compras, escolhendo produtos pelos preços baixos. "Constantemente, estão sendo divulgadas notícias de redução de postos de trabalho no mundo todo e no Brasil, o que leva as pessoas a se preocuparem com seus empregos e a renda futura", explica. Patricia aconselha ainda os varejistas que possuem produtos importados a cuidar da exposição deles, para aumentar a chance de venda.

 

Grandes redes. A época de volta às aulas representa 50% do faturamento anual do segmento de papelaria dos supermercados Extra, do Grupo Pão de Açúcar. A informação é do gerente comercial do grupo, Hamilton Bernardo. A empresa fechou 95% das suas compras para 2009 antes da disparada do dólar. "Compramos com o dólar a US$ 1,65. A soma do volume de produtos comprados e a antecedência das compras nos deram condições de vender caderno com preços 57% menores do que no ano passado", conta Bernardo.

 

A rede de supermercados foca em preços baixos para enfrentar a concorrência. "Começo do ano sempre tem o retorno das férias, as pessoas tem que pagar o IPVA, dentre outras coisas. O consumidor fica descapitalizado", diz o gerente comercial, que acredita que as pessoas não vão diminuir seus gastos com material escolar "por ser artigo de primeira necessidade".

 

Veículo: Jornal do Commercio - RJ


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