Negócios originais

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Consultores especializados em pequenos e médios negócios costumam dizer que o empreendedor brasileiro não cria, copia e a mesmice de ofertas limita o potencial de sucesso dos novos empreendimentos. Uma pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) confirma essa percepção. Apenas 5,2% dos que abrem um novo negócio no país afirmam que estão apresentando produtos ou serviços inovadores, enquanto 82,3% reconhecem que chegam ao mercado sem oferecer novidades. Mas como desenvolver propostas de negócios com características originais? 

 

Consultores especializados em empreendedorismo, como José Dornelas, professor no MBA da Fundação Instituto de Administração (FIA), e Renato Fonseca de Andrade, do Sebrae, recomendam a coleta de um amplo leque de informações, na pesquisa mercadológica e no planejamento prévio do empreendimento. "Não é uma questão de ter mais ou menos criatividade. É entender a demanda do público, as tendências de consumo, conhecer o que já é oferecido e pensar o que pode ser feito de diferente", diz Dornelas. 

 

Os consultores dizem que o empreendedor não precisa gastar com a contratação uma empresa de pesquisa. Basta ir a campo, observar os concorrentes, agregar idéias já praticadas em outros segmentos de atividade, conversar com os potenciais consumidores e analisar tendências demográficas e mercadológicas. "A chave é conectar o conjunto de informações recolhidas com um plano de negócios pertinente às necessidades do público-alvo e às características pessoais do empreendedor", diz Andrade. 

 

Um estudo desenvolvido pelo Sebrae, denominado Cenários para as MPEs 2009-2015, disponível no site da instituição, pode nortear o planejamento dos novos empresários. Os pesquisadores estudaram estatísticas referentes à evolução da sociedade brasileira, que apontam tendências como aumento da expectativa de vida, maior escolaridade, maior participação feminina no mercado, melhor distribuição de renda e constituição de famílias menores, por exemplo. Aliaram ao estudo a análise de tendências comportamentais, como maior preocupação socioambiental, com o bem-estar e com segurança, além de uma maior incorporação da tecnologia no dia-a-dia. E chegaram a uma lista de doze segmentos em que, acreditam, há boas oportunidades de negócios. 

 

A relação contempla idéias como lojas voltadas para a população com mais de 60 anos; brindes ecológicos; centros de experiência e lazer para crianças emancipadas; serviços domésticos dedicados a solteiros; cemitério para animais; produtos e serviços para a promoção da saúde, estética e busca espiritual; educação on-line e lojas especializadas em segurança. 

 

"Nosso objetivo não foi elaborar um catálogo de idéias, mas apresentar uma série de tendências econômicas e mercadológicas e relacionar setores que são interessantes a serem estudados pelos que buscam novas oportunidades de negócios", diz o economista Pedro João Gonçalves, um dos coordenadores do estudo do Sebrae. 

 

A pesquisa mercadológica e a análise de tendências de comportamento definiram o rumo da empresa de moda institucional Sou São Paulo, formada há um ano pelos profissionais de comunicação Thereza Cavalcanti e Lucas Mamelli e a advogada Meli Cavalcanti. "Queríamos desenvolver uma proposta que nos diferenciasse no mercado", diz Thereza Cavalcanti. Meio ano de pesquisa levou os sócios a duas conclusões. A primeira é que São Paulo, apesar de receber um grande número de turistas, é carente na oferta de produtos estampados com motivos paulistanos, comuns em cidades como Rio, Salvador e Nova York. A segunda é que existe na área de marketing uma demanda por brindes ecologicamente corretos e socialmente conscientes. 

 

As conclusões levaram os empreendedores a desenvolver dois negócios complementares. Uma linha de camisetas com motivos paulistanos cujo potencial de comercialização está sendo testado em pontos de recepção turística da cidade e uma linha de brindes institucionais como camisetas, bolsas, mochilas, sacolas e necessaries. As duas linhas são elaboradas com insumos ecologicamente corretos, como algodão natural e fios de poliéster de PET reciclado, e confeccionados por comunidades de costureiras de regiões carentes. 

 

Os preços dos brindes estão acima da média, mas a empresária não vê o fato como um problema. "Detectamos que há clientes institucionais dispostos a pagar um pouco mais para associar sua imagem a produtos realmente elaborados com responsabilidade socioambiental", diz Cavalcanti. A expectativa dos proprietários é a comercialização de 18 mil peças mensais de produtos institucionais este ano. 

 

A análise de tendências mercadológicas também fez o empresário do setor de reparos automotivos Eduardo Vaz reformular seus negócios. Durante nove anos, Vaz foi proprietário de uma pequena oficina no bairro paulistano da Lapa, "um negócio estagnado" na sua definição. Mas há cinco anos ele é dono da "bem-sucedida" oficina Auto Palace, no Butantã, também na zona oeste paulistana, e ainda está a frente de um negócio inovador, que começa a operar em março, a Eco Palace, que terá como objetivo dar destinação ambientalmente adequada aos resíduos de várias oficinas mecânicas da cidade. Projeto que já conta com o apoio de algumas das principais seguradoras do país. 

 

A mudança de rumo teve início há seis anos, quando Vaz começou a pesquisar, com a ajuda do Sebrae, quais eram as regiões da cidade carentes de grandes oficinas mecânicas, quais eram as necessidades em prestação de serviços das principais seguradoras e quais eram as demandas de qualidade no atendimento dos clientes de oficinas. A pesquisa levou o empresário a optar pelo Butantã. O trabalho também detectou um novo perfil de consumidor, mais exigente em relação à apresentação dos funcionários e da oficina e na presteza e comodidade do atendimento. Outra constatação foi a maior presença de mulheres como clientes nas oficinas. 

 

Os resultados fizeram Vaz aprimorar seu atendimento. Ele montou uma recepção com sofá e TV e passou a oferecer a opção de atendimento com hora marcada. Estipulou o agendamento prévio da retirada do veículo, instituiu um sistema de leva e traz dos carros e passou a cuidar de todos os trâmites burocráticos junto às seguradoras. Também montou uma equipe de atendentes, formada por homens e mulheres. "O público feminino sente-se mais à vontade na oficina quando é atendido por mulheres", diz o empresário. 

 

Os resultados não tardaram a aparecer. Vaz relata que a Auto Palace foi inaugurada em um espaço de 2 mil m², onde eram atendidos até 70 carros por mês. Hoje, a oficina emprega 52 pessoas, ocupa um espaço de 5,3 mil m², com capacidade para 250 carros mensais, totalmente ocupada, que gera um faturamento médio mensal de R$ 200 mil. 

 

O novo empreendimento de Vaz, a Eco Palace, também surgiu da observação de uma demanda no mercado. No caso, são as seguradoras que querem apresentar-se diante de seus clientes como ambientalmente responsáveis, garantindo reparos feitos com insumos de baixo impacto ecológico, como tintas a base d´água, e a garantia de destinação adequada para óleos, embalagens, estopas e outros resíduos. A Eco Palace, que já conta com 23 oficinas credenciadas e tem como meta chegar a 70, fará o trabalho de recolher e destinar os resíduos. As oficinas, que serão mensalmente avaliadas pelas seguradoras e pelo Sindicato das Oficinas Reparadoras do Estado de São Paulo, passarão a exibir um selo de oficina amiga do meio ambiente. 


 
Veículo: Valor Econômico


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