Depois de decidir triplicar a produção da fábrica de Feira de Santana, na Bahia, anúncio feito em junho do ano passado, Ivan Zurita, presidente da Nestlé no Brasil, informou ontem que este ano deverá duplicar a produção na unidade . Com o futuro aporte, a capacidade deve alcançar 240 mil toneladas por ano. A fábrica da empresa na cidade produz cereais matinais, lácteos, bebidas achocolatadas, iogurtes, café solúvel e massas instantâneas. O investimento programado para esta expansão é de R$ 50 milhões.
De acordo com Zurita, além do plano de expansão da fábrica na Bahia, "existem muitos outros projetos" que a empresa deve executar em 2009. No total, estão programados investimentos de R$ 350 milhões para o ano, o mesmo montante de 2008. Nesse total estão inclusos gastos com possíveis aquisições. "As aquisições vão continuar", afirmou. Segundo ele, um dos negócios deve ser anunciado em breve. Em dezembro, a companhia suíça anunciou a compra da fonte de água Santa Bárbara.
Apesar do apetite para aquisições, Zurita rechaçou o possível interesse da empresa na Sadia, alvo de muita especulação nos últimos anos. "Nunca sentamos para conversar com eles", disse. Para o executivo, a grande preocupação do ano é o desemprego. "A crise é global e é uma realidade. Temos que encarar com vigor e rigor. Todos nós já passamos por outras e aprendemos com elas. Vamos aprender com essa também", disse.
Segundo Zurita, a empresa contratou 1,5 mil funcionários no mês de janeiro, o que é significativo, já que as vendas de páscoa este ano, ao contrário de 2008, não devem acontecer em janeiro, mas em fevereiro. "As demissões de outras categorias são o nosso maior desafio a ser enfrentado", afirmou o executivo.
Para Denis Ribeiro, economista da Associação Brasileira da Indústria da Alimentação (Abia), a crise começa a dar sinais de chegada no setor de alimentos. "Com a falta de crédito em dezembro, o varejo deixou os estoques mínimos e as indústrias tiveram que repor em janeiro. Mas é possível sentir o consumidor mais cauteloso", disse Ribeiro. "A gente percebe que ainda é leve, mas a crise está chegando no setor", afirmou o economista. Segundo Zurita, "é natural que o setor de seja o último a ser afetado".
Apesar de não ter fechado os números do ano passado, Zurita afirmou que a empresa superou a meta inicial de crescimento. Em agosto do ano passado, o executivo estimava crescimento de cerca de 10%, o que representaria faturamento de cerca de R$ 15 bilhões.
Para 2009, a meta do executivo é crescer "pelo menos o dobro do PIB (Produto Interno Bruto)", o que representa cerca de 4%, segundo o executivo.
Efeitos da crise
A falta de crédito tem sido o efeito mais forte da crise internacional para a Nestlé. Segundo Zurita, para facilitar a vida de fornecedores que têm encontrado dificuldade para conseguir crédito, a empresa montou um esquema de duplicata em que o fornecedor desconta via bancos, como se a Nestlé tivesse tomado o empréstimo. A empresa já recebeu cerca de R$ 50 milhões dessa maneira. "Existe um problema de liquidez", explicou o executivo.
Com os clientes, Zurita afirmou não ter enfrentado problemas. "Tivemos alguns pontuais, mas nada que caracterize uma tendência de inadimplência", disse.
Mesmo com a desvalorização do real nos últimos meses, Zurita contou que a subsidiária brasileira não perdeu a importância dentro da companhia, continua a segunda maior em volume e a quarta em faturamento.
Veículo: Gazeta Mercantil