Mário Tonocchi
A colheita de morango no Estado de São Paulo caiu de 5,602 milhões de caixas com quatro quilos da fruta em 2005 para 3,199 milhões de caixas no ano passado. Na região administrativa de Campinas, que compreende 88 cidades, entre elas os dois maiores produtores paulistas, Atibaia e Jarinu, a produção foi reduzida em 13,65% no mesmo período, passando de 2,989 milhões de caixas para 2,581 milhões.
De acordo com pesquisadores, especialistas e produtores, a queda na produção em São Paulo, principalmente nas duas maiores regiões produtoras, está intimamente ligada à especulação imobiliária, à escassez e má qualidade da água e à falta de mão-de-obra especializada – a cultura do morango é totalmente manual e depende de grande número de trabalhadores rurais. Além disso, em 2007, o produtor recebia até R$ 8 por caixa de 1,6 quilo. Neste ano, o valor ficou em R$ 6. A redução no preço ocorreu em função da concorrência com o produto vindo de outros estados.
Para 2009, a diminuição da produção estadual é estimada entre 10% e 20% ante a colheita deste ano por conta do aumento dos fertilizantes e agrotóxicos, de 70%, em média – eles representam um terço dos custos. "O gasto de R$ 700 do início deste ano passou para R$ 2 mil agora, praticamente inviabilizando a próxima safra", disse Elcio Spinassi, o maior produtor de Jarinu, com 20 hectares plantados e mais de 1 milhão de pés.
Desenvolvido pela Embrapa Meio Ambiente, de Jaguariúna, interior paulista, para os produtores da fruta de Atibaia e Jarinu, o programa Produção Integrada de Morango (PIMo) pode ajudar os agricultores a superar a crise. Lançado em abril, o programa estabelece as diretrizes para a certificação dos produtos, colocando no mercado alimentos seguros, cuja produção respeita o ambiente e os direitos dos trabalhadores rurais.
De acordo com a pesquisadora da Embrapa, Fagoni Calegário, coordenadora do projeto, o PIMo começou a ser desenvolvido em 2006, com um levantamento realizado entre os agricultores. No ano passado, foram repassados a eles conhecimentos como técnicas de manejo de doenças, métodos alternativos de controle de pragas, calibração de pulverizadores, irrigação, solos e nutrição das plantas, colheita e pós-colheita.
No final de 2007, também foi montada a unidade demonstrativa central, um centro de estudos e prática para capacitar os produtores. Plantações-modelo mostram como aplicar os conhecimentos desenvolvidos e como conseguir o selo de qualidade total. "Para o orçamento de 2009, os produtores conseguiram uma verba de R$ 40 mil para manter a unidade. Isso mostra o quanto eles estão engajados no programa", disse.
Um dos principais problemas é o grande volume de agrotóxico usado na produção. A redução é um dos principais objetivos do PIMo, que já apresentou resultados. Na última festa de Atibaia, em setembro de 2007, os produtores ofereceram o sistema "colha e pague". "As crianças comeram a fruta no pé, com a certeza de degustar um alimento saudável", observou Fagoni.
Veículo: Diário do Comércio