Custos de produção tiveram aumentos adicionais no decorrer desta safra e próxima temporada pode ter redução nas áreas de plantio; rizicultor ainda espera por crescimento maior nos preços
Item fundamental da cesta básica das famílias, o arroz pode ter preços ainda mais elevados na próxima safra. Isso porque uma possível redução na área de plantio deve levar o País a aumentar o nível de importações do grão, onerado pelo fluxo cambial.
No acumulado de 2014, dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) mostram que as compras externas de arroz tiveram quedas de 19% em valor, para US$ 292 milhões, e 17,6% em volume, para 641 mil toneladas. Entretanto, segundo representantes do setor ouvidos pelo DCI, a tendência para este ano é que o nível de importações aumente, visto que o Mercosul é o principal fornecedor.
Dentro da porteira
O presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Dornelles, conta que o alto índice de chuvas no principal estado produtor da cultura aumentou a necessidade de aplicações de fungicidas na lavoura, o que gerou uma elevação de pelo menos 2% por hectare nos custos de produção. "Além disso, o aumento da energia elétrica vai repercutir entre 2,5% e 3% nos gastos do produtor. Só nestes dois itens já somamos um crescimento entre 5% e 7% de desembolso adicional nesta safra", diz.
Neste cenário, o executivo acredita que alguns rizicultores gaúchos podem optar por reduzir a área de plantio para a safra 2015/ 2016, em busca de uma cultura que tenha relação custo/ benefício melhor. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), nesta temporada foram plantados 2,35 milhões de hectares do grão, um ligeiro aumento de 0,8% contra 2013/ 2014. Deste total, 1,11 milhão de hectares se refere a áreas do Rio Grande do Sul.
"Com essa tendência de queda para o plantio, o País ficará mais dependente das importações e isso é um problema grave. Já acionamos a ministra [da Agricultura] Kátia Abreu, pela relevância do produto para as famílias", afirma.
Vale lembrar que a rizicultura é totalmente irrigada no principal estado produtor, acarretando grandes prejuízos provenientes dos avanços nas tarifas de energia elétrica.
Preços
Na semana passada, a Conab realizou quatro leilões de venda de arroz. O total comercializado foi de 44,2 mil toneladas, o que corresponde a um valor arrecadado de R$ 30,7 milhões para o produto gaúcho. Para a analista do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Maria Aparecida Braghetta, este fator fez com que os preços tivessem leves recuos no período, porém, no acumulado mensal, houve ganho de 1,2% nos indicadores do grão em casca.
"O produtor está muito voltado para a lavoura e tem encontrado diversos problemas, por isso, ele ainda mantém a expectativa de preços maiores para os próximos meses, para compensar o aumento nos custos de produção", explica.
Do outro lado, a indústria cedeu mesmo diante de altos valores praticados pelos rizicultores, no intuito de honrar seus contratos com os mercados interno e externo. O presidente da Federarroz ressalta que existe uma dificuldade da repassar estas margens para o varejo, ocasionando uma "queda de braço" entre setor produtivo, indústria e comércio.
Na avaliação de Braghetta, o espaço para maiores altas no preço do grão só será mensurado com o avanço da colheita, quando as perdas de produtividade são contabilizadas. No Rio Grande do Sul, algumas fazendas já iniciaram os trabalhos, que devem se intensificar no decorrer de fevereiro.
Evento
Entre os dias cinco e sete de fevereiro acontece a 25ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz no Parque de Exposições do Sindicato Rural de Tapes (RS). Haverá painéis sobre os principais desafios enfrentados pelos produtores rurais.
Um dos temas abordados será a ocorrência de plantas daninhas nas lavouras. O engenheiro agrônomo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Aldo Merotto Junior falará sobre o assunto.
Veículo: DCI