O setor de varejo deve sofrer ao longo dos primeiros meses do ano os efeitos da crise de forma distinta. Enquanto o setor de vestuário prevê manutenção do quadro de desaceleração das vendas - observado desde setembro - e redução do ritmo de inaugurações de novas lojas em 2009, o de cosméticos projeta crescimento na receita e ampliação de investimentos. Outro segmento que deverá manter um bom desempenho é o de supermercados. As diferenças de desempenho e previsões para 2009 ficaram claras na divulgação dos resultados do quarto trimestre do ano passado das principais empresas do setor.
"Estamos atentos com a crise, mas olhamos com bastante entusiasmo para 2009", disse o diretor-presidente da Natura, Carlos Carlucci, dois dias após a divulgação do maior lucro líqüido para um quarto trimestre da empresa desde 2004, quando fez a abertura de capital na bolsa. O ganho entre outubro e dezembro foi de R$ 162,6 milhões, o que representou aumento de 20% sobre o mesmo período de 2007. "Não temos motivos para acreditar que nosso mercado cresça menos que isso em 2009", afirmou.
Para sustentar o crescimento previsto para 2009, a Natura vai ampliar em 40% seus investimentos na comparação com o ano passado, que devem somar até R$ 140 milhões. Os aportes serão destinados à melhoria da infraestrutura física, em sistemas de informação e equipamentos para viabilizar o lançamento de novos produtos. "Vamos manter os investimentos porque avaliamos que, em relação a outros setores, estamos numa posição privilegiada", disse Carlucci.
Assim como a Natura, outra rede varejista que tende a apresentar um desempenho positivo alheio à crise é o Pão de Açúcar. A explicação está na participação de aproximadamente 75% das vendas totais do grupo serem de produtos alimentícios, que são bens de primeira necessidade e que não vêm sendo afetados pela restrição ao crédito. A Fator Corretora destaca, em relatório, que "devido à menor elasticidade da demanda por seus produtos" o Pão de Açúcar deverá apresentar no período o melhor resultado entre as empresas do setor.
Vestuário - Um quadro menos animador, porém, vem sendo observado no varejo de vestuário. As vendas nas Lojas Renner, quando são comparadas apenas as unidades com mais de um ano de funcionamento, caíram 5,4% entre os meses de outubro a dezembro do ano passado sobre o mesmo período de 2007. Isso resultou numa queda de 0,7% no lucro líqüido do período, para R$ 57,2 milhões. E a perspectiva para os primeiros meses do ano não são de recuperação, adiantou o diretor Administrativo e de Relações com Investidores da Lojas Renner, José Carlos Hruby.
"De setembro em diante, em razão do novo cenário, os negócios atingiram um novo patamar bem mais baixo, com queda nas vendas, o que afetou o desempenho de 2008", explicou Hruby. Até os nove primeiros meses do ano passado, a companhia vinha com um crescimento próximo a 7% nas vendas no conceito mesmas lojas, índice que recuou a 2,7%, quando consolidados anualmente com os resultados do quatro trimestre. "As dispensas que vêm ocorrendo nas mais diversas indústrias, realmente, estão afetando nossos negócios."
Sem perspectiva de melhoria nas vendas, a Lojas Renner reduziu seus investimentos programados para este ano, quando comparados com 2008. No ano passado, foram R$ 136,8 milhões, sendo R$ 83,7 milhões destinados para a abertura de 15 lojas, em oito estados. Já para 2009, os investimentos totais ficarão entre R$ 75 milhões e R$ 80 milhões e a abertura de lojas reduzida a oito novos pontos-de-venda. (AE)
Veículo: Diário do Comércio - MG