Brasil usará contencioso do algodão para retomar Doha

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Esta semana o agronegócio brasileiro deverá entrar na fase final da luta contra os subsídios americanos ao algodão e por meio desse contencioso ressuscitar as negociações da Rodada de Doha. A disputa que já dura sete anos no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) será a principal pauta em discussão nas reuniões que irão ocorrer essa semana em Genebra, na Suíça, entre o Itamaraty e representantes da entidade internacional.

 

No Brasil, os produtores esperam que finalmente o País possa levar o que já ganhou na OMC: o direito de retaliar os Estados Unidos por causa dos subsídios ao algodão. O valor que será negociado pelo governo brasileiro ainda está em discussão e mesmo lideranças da cadeia produtiva do algodão desconhecem o número. Há quatro anos, o Itamaraty pretendia cobrar US$ 4 bilhões dos norte-americanos, mas hoje especula-se que US$ 2,6 bilhões já seria o suficiente para o País aceitar a decisão sem contestá-la.

 

A expectativa é a de que o valor definitivo a ser cobrado pelo governo brasileiro seja anunciado ainda este mês. Haroldo Rodrigues da Cunha, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), ressalta que há uma distância entre o que o País pode pedir e a arbitragem da OMC, mas está confiante de que o Brasil tem argumentos para conseguir o pleito.

 

Para Cunha, agora será possível ver com clareza como o governo brasileiro vai se comportar nessa negociação e iniciar o processo de arbitragem. "Dessas reuniões sairá a definição de como será cobrada nossa compensação ou como a vitória brasileira poderá ser usada como instrumento de pressão nas negociações globais contra os subsídios", afirmou. "Esperamos que o governo brigue fortemente por uma redução de subsídios e que faça eco junto aos outros países produtores", completou.

 

A proposta de orçamento para 2010, apresentada pelo presidente Barack Obama, que fixa um teto de US$ 250 mil para o apoio financeiro concedido aos produtores rurais norte-americanos, é mais um ponto favorável aos cotonicultores brasileiros. A eliminação dos subsídios aos produtores agrícolas norte-americanos com faturamento superior a US$ 500 mil ao ano e o fim da ajuda à estocagem de algodão deverão atingir diretamente os cotonicultores locais uma vez que o algodão é a única commodity que ainda conta com apoio para armazenamento por parte do governo.

 

O volume dos estoques mundiais de algodão, estimada em 109,51 milhões de fardos para a safra 2008/2009, é hoje o principal fator que impede a elevação dos preços do produto. No mercado interno, os preços seguem estáveis, mas em patamares que não remuneram o agricultor. Em fevereiro, o preço da pluma acumulou queda de 2,39%.

 

A situação só não foi pior pelo aquecimento da demanda da China, a maior consumidora da fibra, mesmo em um cenário de crise. O índice futuro China Cotton teve alta de 4,2% este ano ao passo que o país asiático incrementa as suas reservas. As vendas para a China dos EUA, que é o maior exportador mundial da commodity, teve uma surpreendente elevação de 9,7 mil fardos para 200 mil no comparativo das duas últimas semanas comerciais do mês de fevereiro.

 

A elevação dos preços internacionais minimizaria a atual situação dramática do produtor brasileiro e consequentemente da indústria têxtil local. Em janeiro, as exportações brasileiras de produtos têxteis e confeccionados apresentaram queda de 33,5% em termos de valor e 27,23% em volume, se comparado ao mesmo período do ano passado.

 

De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Têxteis (Abit), o resultado deve-se ao valor de US$ 245 milhões em importações contra US$ 76,3 milhões em exportações. Se incluídas as fibras de algodão, o déficit cai para US$ 108,8 milhões. "A explicação para essa queda brusca nas exportações vem da forte retração dos mercados. No entanto, nossa maior preocupação está nas medidas de protecionismo que outros países estão adotando em relação às importações de produtos estrangeiros. As empresas, junto ao governo, terão de tomar medidas para garantir a competitividade do produto nacional diante de um mercado mais disputado", disse Aguinaldo Diniz Filho, presidente da Abit.

 

Esta semana o agronegócio brasileiro entra na fase final da luta contra os subsídios americanos ao algodão e ressuscita as negociações da Rodada de Doha. A disputa, que já dura sete anos na Organização Mundial do Comércio (OMC), será a principal pauta das reuniões desta semana, em Genebra, entre o Itamaraty e representantes da entidade internacional. No Brasil, os produtores esperam que o País possa levar o que já ganhou na OMC: o direito de retaliar os EUA por causa dos subsídios ao algodão. O valor que será negociado pelo governo brasileiro está em discussão, mas especula-se que US$ 2,6 bilhões já seria o suficiente para o País aceitar a decisão sem contestá-la.

 

Veículo: DCI


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