O consumidor que quiser fazer boas compras na Black Friday, a megaliquidação marcada para o dia 27 de novembro, deve começar a pesquisar preços dos produtos desde já para saber se os descontos anunciados são reais. Com a recessão que derrubou o consumo e ampliou o encalhe de produtos, a tendência é que as lojas antecipem a liquidação para sair na frente da concorrência.
“A palavra de ordem é antecipar a Black Friday”, diz Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo. “Só não dá para saber em quanto tempo o evento será adiantado”, observa. Por causa da crise e da competição acirrada, os lojistas tentarão adiantar a megaliquidação, e quem deixar para pesquisar preço em cima da hora pode perder a referência dos descontos. Na penúltima edição do evento, muitos consumidores identificaram falsos descontos e a liquidação chegou a ser chamada de “Black Fraude”. Exatamente para coibir esse movimento, a pesquisa prévia de preços é recomendável.
É bem verdade que os órgãos de defesa do consumidor e sites de busca de preços podem ajudar. Mas essa ajuda pode chegar tarde demais se as lojas anteciparem o evento. Por isso, os especialistas recomendam que o consumidor faça a sua própria pesquisa de preço para não ser surpreendido.
A Fundação Procon de São Paulo vai liberar dois dias antes da Black Friday uma lista de preços com mais de 100 produtos e serviços pesquisados nos três meses anteriores. “É a primeira vez que pesquisamos preços com tanta antecedência”, diz a diretora, Ivete Maria Ribeiro.
A Proteste, associação de defesa do consumidor, está pesquisando preços de itens de maior valor, como eletroeletrônicos, e vai divulgá-los no dia do evento, diz a coordenadora institucional, Maria Inês Dolci. “Não existe oferta milagrosa.”
Lei do Bem. Maurício Vargas, presidente do site ReclameAqui, diz que a tendência é que a Black Friday seja antecipada informalmente pelos lojistas. Mas ele aponta outro motivo para este movimento: o fim do programa de inclusão digital, também conhecido como a Lei do Bem.
A partir de 1º de dezembro, computadores, tablets, smartphones e outros eletrônicos voltarão a pagar PIS e Cofins. Com isso, os preços devem subir. Vargas acha que os varejistas vão tentar adiantar a liquidação desses itens para não correr o risco de que alta do imposto neutralize o corte de preço. “A Black Friday será uma oportunidade para comprar os itens afetados pelo fim da Lei do Bem”, diz Juliano Motta, diretor do Busca Descontos.
Fim do boleto bancário. Outro desdobramento da volta do imposto sobre as vendas da Black Friday, na opinião de Vargas, é que os lojistas vão retirar a modalidade de pagamento de boleto para os itens que voltarão a pagar PIS e Cofins. Vargas explica que, como a Black Friday será numa sexta-feira, se ocorrer algum atraso no processamento do boleto e ele for quitado em dezembro, o lojista terá de arcar com esse custo adicional.
“Como eles não querem correr esse risco, não vão vender por meio de boleto bancário”, diz Vargas. O fim do boleto é ruim para o consumidor porque normalmente as operações quitadas por esse meio de pagamento têm 5% de desconto, o que corresponde às taxas cobradas pelos cartões.
Atraso na entrega. O sonho de ter uma cama box demorou cerca de um mês para ser realizado pela esteticista Iris Machado Santos. Na Black Friday do ano passado, que aconteceu no dia 28 de novembro, ela comprou uma cama modelo box e um rack para TV, mas só recebeu os produtos um mês depois. “Passei o Natal dormindo num colchão no chão, porque a loja não entregou a cama nova e eu já tinha mandado a cama velha embora.”
No seu caso, o problema ocorreu porque a loja física na qual comprou os produtos não tinha para entregá-los. “Pelo sucesso de vendas, o gerente da loja disse que não tinha exatamente a mesma mercadoria vendida e sugeriu que eu trocasse o modelo, mas recusei.”
Iris conta que, no caso da cama, teve de aceitar, a contragosto, a peça do mostruário. No caso do rack para TV, trocou de modelo. “Recomendo a quem pretende fazer compras na Black Friday que pesquise se realmente a loja tem em estoque o produto que está anunciando na promoção. Na hora eles querem vender e depois não têm o produto para entregar.”
Com relação aos preços pagos, a esteticista diz que ficou satisfeita. O preço normal da cama era R$ 1.400 e ela conseguiu por R$ 800 na Black Friday. Para o rack, ela não se recorda dos valores exatos, mas diz que também houve bom desconto. “O preço compensou: comprei uma cama boa por um preço bem em conta, mas a dor de cabeça foi grande para conseguir que a loja entregasse o produto.” Neste ano, Iris planeja ir às compras na Black Friday, mas só de itens que poderá levar para casa na hora.
Veículo: Jornal O Estado de S. Paulo