Contrariando a expectativa dominante no início do ano, o plantio de trigo deverá voltar a crescer no país em 2009. A falta de empolgação dos produtores paranaenses com o milho safrinha e a recuperação dos preços do cereal no mercado interno deram maior ânimo aos triticultores do Sul do país.
As previsões, ainda preliminares, indicam que o plantio poderá crescer até 10%, segundo apurou o Valor. O salto da produção tende a ser proporcional, para cerca de 6,5 milhões de toneladas. Em 2008, a colheita rendeu 6,031 milhões de toneladas de trigo, 47,2% mais que na safra anterior, segundo a Conab. As estatísticas para o ciclo 2008/09 (ver matéria abaixo) ainda consideram o total colhido no ano passado.
No Paraná, maior produtor de trigo do país, "o sentimento é de que haverá elevação do plantio", afirmou Otmar Hubner, do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab). Em 2008, o Estado registrou produtividade recorde, de 2,820 mil quilos por hectare. Esse marco superou o de 2003, de 2,6 mil quilos. Em 2008, o Paraná destinou 1,15 milhão de hectares para o cereal, com uma colheita de 3,2 milhões de toneladas. "O ano de 2008 foi de clima favorável, mas os preços [durante a colheita] não foram dos melhores", disse.
Os gaúchos também voltaram a se animar. A área passada ficou em 970 mil hectares e agora poderá superar 1 milhão de hectares, segundo dados também preliminares da Safras&Mercado e da Fecoagro (Federação das Cooperativas Agropecuárias), do Rio Grande do Sul.
A quebra da safra da Argentina ajudou a sustentar os preços do trigo no fim do ano, o que voltou a motivar os produtores brasileiros. No Paraná, os agricultores não investiram pesado no milho safrinha, dando mais espaço para o trigo, segundo Hubner. A área para o milho safrinha deverá ocupar, no Paraná, 1,547 milhão de hectares em 2009, ligeira queda de 2,6% sobre 2008. "Mas a colheita poderá superar a do ano passado, passando de 5,7 milhões de toneladas para até 6,4 milhões este ano."
A decisão de se plantar mais trigo foi tomada recentemente. E, segundo lembra Rui Polidoro, os produtores ainda negociam com o governo federal um pacote de incentivos à produção. Entre eles, o aumento do preço mínimo, dos atuais R$ 480 por tonelada para R$ 600, a liberação antecipada do custeio da safra, elevação de 70% para 75% do subsídio ao prêmio do seguro e melhorias no Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro). "Entregamos nosso pedido para o governo no dia 18 de fevereiro." O governo sinaliza estabelecer em R$ 530 o novo preço mínimo para o cereal.
A possível importação de cerca de 1 milhão de toneladas de trigo da Rússia não deve frustrar a decisão de plantio dos produtores, segundo Polidoro. A compra de trigo fora do Mercosul poderá ser realizada por conta da quebra da safra argentina.
Mas, segundo Polidoro, a cadeia produtiva teme que o governo volte a zerar a TEC (Tarifa Externa Comum), como no ano passado. Em 2008, a medida foi adotada por causa da escassez da matéria-prima no primeiro semestre. No entanto, as importações excessivas, aliada à entrada da safra brasileira, terminaram por deprimir as cotações no mercado doméstico.
As cotações atingiram um pico de quase R$ 800 em fevereiro de 2008, o que estimulou o aumento de área, mas bateram em mínimas de R$ 481 a tonelada no Paraná e de R$ 434 no Rio Grande do Sul em novembro. Atualmente, os preços voltaram a se recuperar, atingindo R$ 540 a tonelada no Paraná e R$ 470 no Rio Grande do Sul, conforme a Safras&Mercado.
Veículo: Valor Econômico