Desconhecimento do mercado financeiro leva os empresários às linhas de crédito mais caras; a principal modalidade de financiamento utilizada, contudo, é o pagamento a prazo do fornecedor.
Mesmo com uma taxa média de 263,7% ao ano, mais da metade (55%) dos pequenos negócios usa ou já utilizou o cheque especial em nome da pessoa física, aponta pesquisa divulgada pelo Sebrae.
De acordo com o estudo, 29% dos microempreendedores individuais (MEI) e das micro e pequenas empresas também usa o cheque especial corporativo, que possui juros de 243,1% ao ano, para financiar o empreendimento.
Uma parcela dessas empresas utiliza ainda o cartão de crédito e corre o risco de entrar no rotativo, linha emergencial que possui os juros mais altos do mercado. Segundo o levantamento, 70% dos negócios usa o plástico como pessoa física e 28% em nome da pessoa jurídica.
Alexandre Comin, gerente de Acesso a Mercado e Serviços Financeiros do Sebrae, explica que o pequeno negócio tem "fome de crédito", mas muitas vezes trabalha com o instrumento inadequado, como o cheque especial e o cheque pré-datado - 46% das firmas utilizam essa modalidade de empréstimo.
Um dos motivos para isso, segundo ele, é o desconhecimento do mercado financeiro. "Falta uma conscientização maior. Muitos empresários restringem o conceito de crédito a pegar dinheiro emprestado no banco, por exemplo", apontou o gerente do Sebrae.
O levantamento mostra que o tipo de financiamento mais utilizado pelos micro e pequenos empresário é o pagamento do fornecedor a prazo - 67% das empresas afirmam que usam da modalidade de crédito. Dinheiro com os amigos e familiares (13%) e empréstimos com agiotas (4%) também entram na conta.
De acordo Ricardo Couto, mestre em Finanças do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), os pequenos negócios têm dificuldade em separar a contabilidade pessoal da empresarial e, em momentos de aperto, acabam recorrendo aos recursos de mais fácil acesso, como as linhas pré-aprovadas - o cheque especial entre elas.
"Essas empresas dificilmente tem um plano de negócio. O foco é a própria operação: ele está preocupado em melhorar produto e atender bem o cliente, e o conhecimento financeiro acaba sendo deixado de lado", afirmou Couto.
Pessoa física x jurídica
Comin apontou ainda que o processo de metamorfose de muitos empreendedores registrados apenas como pessoa física para pessoa jurídica, principalmente como MEI, é muito recente no Brasil e, no caso do sistema bancário, o amadurecimento é mais lento.
"O banco é mais exigente na concessão de crédito para pessoa jurídica, no caso desses empresários. Como pessoa física, ele possui um histórico com a instituição e fica mais fácil de fazer a análise de risco de crédito", avaliou o gerente.
A pesquisa do Sebrae aponta que apenas 54% dos MEI que tomaram empréstimos o fizeram como PJ. "A maioria dos MEI tem algum tipo de crédito, mas, normalmente, não é bancário, o que mostra que as instituições financeiras estão perdendo oportunidades", disse.
Segundo o estudo, muitos dos empresários também não têm contato com outros produtos bancários, mesmo como PF - 28% não usam caixa eletrônico e 67% não utilizam o internet banking, por exemplo.
Modalidades
Entre os pequenos negócios que procuraram crédito, 58% buscaram capital de giro e 31% financiamento de compra de mercadoria pra revenda. Para Couto, a queda brusca da atividade econômica forçou as empresas ao crédito. "É difícil para a empresa diminuir o ritmo na mesma velocidade que a atividade caiu", analisou.
Ainda de e acordo com o levantamento, a principal dificuldade para obter um novo empréstimo foi a taxa de juros alta: 51% apontaram o motivo. Dos que conseguiram o financiamento, o dinheiro liberado foi, em média, 10,7% menor que o solicitado: enquanto os empresários pediram, na média, R$ 35, mil, as instituições financeiras liberaram R$ 29 mi aos tomadores.
Veículo: Jornal DCI