Fabricantes tentam driblar demanda fraca com maior controle dos custos

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Cenário de retração econômica vem se refletindo em vendas menores para as grandes indústrias. A exceção fica por conta de itens que representam opção mais barata para o consumidor final.

As maiores fabricantes de bens de consumo continuam lutando para minimizar o impacto do quadro econômico nos resultados. A estratégia tem sido driblar a demanda menor e os custos maiores, com controle de despesas e políticas agressivas de preços.

No setor de alimentos e bebidas, as gigantes BRF e Ambev entregaram lucro líquido de R$ 877 milhões e R$ 3 bilhões, respectivamente no terceiro trimestre, resultado do trabalho interno para equalizar aumento de custos e desaceleração do consumo, avaliaram analistas

De acordo com a analista da Coinvalores, Sandra Peres, a fabricante de alimentos se deparou com uma conjuntura desafiadora, o que levou a companhia a não repassar integralmente a elevação de custos - insumos agrícolas - aos preços no varejo, tal estratégia se pautou na retomada da marca Perdigão em diversas categorias relevantes.

A empresa deve manter estratégia agressiva de preços no Brasil até o fim deste ano, mas para 2016 terá que promover reajustes diante pressões como a desvalorização do real ante o dólar, disse a diretora da BRF, Flavia Faugeres, em teleconferência.

No mercado interno, os volumes de vendas da BRF caíram 1,8% entre julho e setembro ante igual período do ano passado. Já a receita das operações domésticas cresceram 3,8%, embaladas pelo avanço das vendas de processados e a volta da marca Perdigão. No exterior, o Oriente Médio continuou sendo destaque, com uma receita 26,2% superior, devido ao favorável panorama de precificação em reais.

A fabricante de bebidas, por sua vez, marcou alta de apenas 1% nas vendas puxada por cervejas enquanto o segmento de refrigerantes teve queda. Executivos da companhia contaram que a empresa deve manter reajustes de preços em linha com a inflação, a estratégia resultou em receita no País 10,5% superior a 2014.

Para minimizar o impacto das vendas internas menores neste ano, a Ambev vem intensificando a gestão de custos. Entre julho e setembro, o custo dos produtos vendidos (CPV) - excluindo depreciação e amortização - por hectolitro no Brasil cresceu 7,6%, abaixo da inflação no período. Por conta disso, a empresa reduziu sua previsão de CPV de um digito alto para um digito médio no ano. Conforme o analista da Gradual Investimentos, Gesley Henrique Florentino, um dígito médio significa algo em torno de 5%.

Mesmo assim o vice-presidente financeiro da Ambev, Nelson Jamel, falou que a companhia pode fazer uma reavaliação de suas capacidades caso o governo paulista eleve o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) da cerveja. "Já estamos passando por um momento extremamente desafiador, com aumento de uma série de custos. Se isso for aprovado, certamente vai ter impacto nos preços e nos volumes de vendas".

O governo de São Paulo discute na Assembleia Legislativa um aumento do imposto de 18% para 25% ainda este ano.

Higiene e saúde

Os insumos importados ainda devem continuar pesando nas contas de Natura e Hypermarcas. A alta do dólar teve forte influencia nos resultados das duas empresas no trimestre passado e segue no radar.

Para fazer frente ao consumo menor e os altos custos, a Natura continua ampliando os canais de vendas, com testes no varejo, serviços eletrônicos e maior número de consultoras. A fabricante de cosméticos vem enfrentando dificuldade para melhorar as margens mesmo já tendo aplicado aumento de preços no primeiro semestre deste ano, em linha com a inflação.

O vice-presidente de Finanças e Relações Institucionais da Natura, José Roberto Lettiere, diz que, se necessário, novos ajustes serão aplicados. Ele afirmou, porém, que a principal estratégia da empresa, no momento, é a gestão de caixa e capital de giro.

"O câmbio continuará sendo volátil e acreditamos que o patamar de dólar em torno dos R$ 4 será visto também no quarto trimestre", comentou. Cerca de 40% dos custos da empresa está atrelado a moeda norte-americana.

Já a Hypermarcas confirmou um reajuste em fraldas descartáveis no último trimestre. Segundo o presidente da empresa, Cláudio Bergamo, um repasse dos custos em dólar. Por outro lado, na visão dos analistas da Fator Corretora, Caio Moreira e Tomás Altero de Mello, a alta da moeda norte-americana beneficiou a empresa frente as multinacionais que concorrem diretamente na divisão consumo e não foram competitivas no varejo.

Apesar disso, analistas destacaram a estratégia da empresa com foco no setor farmacêutico, que apesar do desempenho no trimestre, tem melhor perspectiva futura.

A empresa negocia a venda das marcas de fraldas Pom Pom, Sapeka e Cremer para a Kimberly-Clark. Outra parte da empresa (cosméticos) foi vendida, no começo da semana, para a Coty.

 



Veículo: Jornal DCI


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