Grande maioria dos empresários está pessimista em relação à demanda de fim de ano, aponta pesquisa da Abit.
A recessão da economia brasileira tem deixado os empresários do setor têxtil pessimistas em relação ao desempenho nos próximos meses. O cenário negativo foi identificado na Pesquisa de Conjuntura da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). As expectativas em relação à produção nacional em outubro e novembro, período importante para o setor devido às festas de fim de ano, são de queda para 77% dos consultados. Do total de entrevistados, somente 7,58% dos empresários têxteis acreditam em alta na produção.
A pesquisa de amostragem é enviada para 300 empresários. O grupo pesquisado é composto por industriais de todo o País das áreas de fiação (25,33%), tecelagem (25,33%), malharia (9,33%), beneficiamento (2,67%), fabricantes de vestuário (24%), outros itens (2,67%), dentre outros. Minas Gerais concentra 12% das indústrias do setor têxtil, ocupando o terceiro lugar no País, atrás somente de São Paulo e Santa Catarina.
De acordo com o diretor-superintendente da Abit, Fernando Valente Pimentel, o pessimismo dos empresários se deve ao atual cenário econômico, de juros, impostos e inflação elevados, aumento do desemprego e burocracia.
"O Brasil está descendo a ladeira e, obviamente, o setor têxtil e de confecção vem sofrendo este impacto, principalmente pela concorrência desleal enfrentada com o ingresso de produtos de diversos países no mercado nacional, provenientes de locais onde as regras trabalhistas e as normas ambientais não existem. O ano de 2015 é para ser esquecido, além de um recuo no PIB de 3% e no consumo de 6%, o desempenho do setor têxtil já caiu 11% até setembro e a situação está cada dia mais grave", alerta o dirigente.
Segundo a pesquisa da Abit, a expectativa em relação às vendas em outubro e novembro para 74% dos empresários é de queda em relação a igual período de 2014 e para 13,64% é de que o indicador se manterá estável.
A maioria dos empresários entrevistados (70%) acredita que o número de empregos também será reduzido. Em relação ao nível de investimentos, a expectativa para outubro e novembro para 73% dos entrevistados é de retração, enquanto que 21,21% dos empresários têxteis acreditam na manutenção dos aportes.
Inadimplência - O índice de inadimplência para 24,24% dos entrevistados é de estabilidade, enquanto que 67% dos empresários acreditam que o indicador terá incremento. A alta esperada se deve ao aumento do desemprego e da redução da renda dos trabalhadores, o que compromete a capacidade de quitar dívidas.
"O resultado negativo é fruto de um país que não consegue organizar um plano de ações para o futuro, não permitindo que os empreendedores possam planejar e investir no setor. Trabalhar em um cenário de juros altos, aumento dos impostos e insegurança nas leis trabalhistas desestimula o empresário, que vem demitindo cada vez mais devido à fraca demanda. O consumidor também é prejudicado com o aumento do desemprego, dos juros e da inflação", explica Pimentel.
Em setembro na comparação com igual mês de 2014, a avaliação dos empresários em relação ao setor também foi negativa. No quesito produção, 74% dos empresários registraram queda e 14,49% mantiveram a produção estável.
No período, as vendas para a maioria dos entrevistados (78%) ficou abaixo do nível identificado em setembro de 2014. Para 10,15%, entretanto, este nível ficou acima.
Em relação ao emprego, 73% dos entrevistados acreditam que o nível de emprego foi menor do que em setembro de 2014. Já 2,9% dos empresários disseram que os empregos ficaram acima do nível identificado no mesmo mês do ano anterior. A produtividade caiu para 54% dos empresários e para 31,88% se manteve.
Dos entrevistados, 73% reduziram os investimentos e 17,39% informaram que mantiveram os aportes. A maioria dos empresários (57%) afirmou que os estoques ficaram acima do nível identificado em setembro de 2014. Para 68% dos entrevistados a inadimplência cresceu.
Câmbio - De acordo com Pimentel, a única mudança positiva para o setor, apesar de não ter sido mensurada, é a desvalorização do real frente ao dólar, o que pode inibir as importações e estimular as exportações.
"O real desvalorizado pode reduzir a importação de produtos, estimular as exportações e fazer com que os clientes optem pelos produtos têxteis nacionais. Mesmo que isso aconteça, ainda encerraremos o ano com desempenho negativo em relação a 2014. São três anos de recessão consecutivas e os empresários estão cada dia mais fragilizados. Somente em 2015 foram 100 mil postos de trabalho cortados no setor, que era responsável por gerar 1,6 milhão de empregos diretos. A indústria têxtil é competitiva e está pronta para responder a estímulos, mas precisa de um ambiente favorável para trabalhar, com juros civilizados e menos burocracia", avalia Pimentel.
Veículo: Jornal Diário do Comércio - MG