Smartphones, tablets e carros usados viram moeda de troca na crise

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Em época de vacas magras, os produtos usados viraram moeda de troca tanto para redes varejistas, que precisam impulsionar as vendas, como para o brasileiro que quer realizar o sonho de consumo de um item caro. Nos últimos meses, as revendas de smartphones e tablets ampliaram a aceitação de usados como parte do pagamento de novos, especialmente no caso de lançamentos. Um smartphone de segunda mão, top de linha e em boas condições pode valer até R$ 2 mil na compra de um novo. Com isso, as vendas tiveram um empurrão. Nos veículos, os negócios com usados cresceram 5,9% até outubro, enquanto as vendas de carro zero caíram 21,9%.

“Neste ano, nossos serviços aumentaram sete vezes em relação ao anterior”, diz José Froes, presidente da Brightstar Brasil. A empresa, uma das gigantes na distribuição de celulares, presta serviço específico a operadoras de telefonia e varejistas: compra smartphones usados para revendê-los no mercado online. Froes conta que recebe 20 mil aparelhos usados por mês que entram como parte do pagamento de um smartphone novo em 500 pontos de venda atendidos pela distribuidora.

Com a crise houve um crescimento “considerável” do uso do equipamento velho para a compra de um novo, diz o executivo. Na sua avaliação, esse mercado deve continuar em trajetória ascendente em 2016.

A varejista Fnac aceita smartphone usado como parte de pagamento de um novo há um ano. No iPhone 6, por exemplo, a venda à base de troca responde por 20% das transações. Em meados do mês, a rede estendeu o benefício para o iPhone 6S e 6S Plus, que são os lançamentos.

Na Vivo, as vendas com aceitação do usado mais que dobraram este ano, diz Marcio Fabbris, vice-presidente de marketing. Ele conta que a operadora iniciou a estratégia em 2013 de forma experimental e hoje tem 300 lojas próprias que aceitam smartphones usados. Os produtos de segunda mão são classificados em faixas e podem valer entre R$ 5 e R$ 2.100, dependendo do modelo e do estado de conservação.

Carros. Consumidores que estão “com o orçamento apertado” em razão da crise optam pelos automóveis seminovos em vez do zero-quilômetro, afirma Elídio dos Santos, presidente da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos. A alta das vendas de usados até outubro ficou, neste ano, mais concentrada entre modelos com até três anos de uso. O crescimento foi de 42,5%.
O preço é uma das principais razões apontadas por Santos para a maior procura. “A diferença pode chegar a 25% ou até 30% entre o mesmo modelo zero e aquele com até três anos, por causa da desvalorização.”

O Volkswagen Gol, o usado mais vendido em outubro, custa R$ 30,5 mil na versão Special zero e cerca de R$ 29,4 mil na versão 2014, uma diferença de 18%. O Ford Fiesta hatch, vendido a R$ 52,1 mil na versão zero, custa R$ 35,7 mil na versão 2013, ou 31% menos, segundo a consultoria automotiva  Molicar. Outra vantagem do usado, diz Santos, é que muitos modelos nessa faixa ainda têm garantia de fábrica.

Para Vitor Meizikas, da Molicar, é preciso avaliar as condições do carro. Ele lembra que o usado vai precisar de mais manutenção, dependendo da quilometragem. Taxa de financiamento e seguro também são mais caros. “Pode ser interessante pagar menos, mas ter custos paralelos não é tão vantajoso.”

O consultor de varejo Marco Quintarelli, da Azo, diz que a valorização do produto usado ocorre em itens de alto valor, pois as vendas são mais afetadas pela recessão. Mas pondera que a estratégia de aceitar o usado como parte de pagamento de smartphones e tablets tem o objetivo de passar para o cliente a imagem do descarte responsável e escapar da promoção comum.

Indecisão.  estudante Vanessa Lima, de 21 anos, está avaliando se realmente compensa dar o seu iPhone usado como parte do pagamento de um aparelho novo ou parcelar um smartphone de outra marca.

Faz três anos que ela tem um iPhone4S, que está com a tela rachada. Vanessa quer comprar um iPhone 5S. O preço do aparelho novo pago à vista estava em promoção esta semana e saía por R$ 2.069. Pelo seu smartphone usado, a loja ofereceu R$ 135. Com isso, ela terá de desembolsar R$ 1.934, mas de uma vez só.

A outra opção da estudante é comprar um smartphone da Asus, que é lançamento, por R$ 1.500. Nesse caso, ela pode pagar a prazo. “Por isso, estou nessa indecisão. Acho que os smartphones não valem tudo isso.”

Na opinião da estudante, se o seu celular não fosse tão antigo e não estivesse muito danificado, ela conseguiria até um valor maior por ele. “Quando você tem um aparelho mais novo dá um bom abatimento. Se eu tivesse um iPhone 5 ou 5C, ele valeria muito. Para o iPhone 5 da minha amiga, eles ofereceram R$ 600 de desconto para trocar por um iPhone 6”, conta.

Descarte. Apesar de, no seu caso, o valor oferecido ser baixo, ela aprova o esquema de troca para a compra de um produto novo. “Acho legal por causa do descarte do aparelho”, diz, preocupada com riscos de contaminação do meio ambiente.
Também o designer gráfico, Renato Marciano Ferreira, de 30 anos, considera a aceitação do aparelho usado como parte do pagamento de um novo importante por causa do descarte correto do produto, além da vantagem econômica que essa fórmula pode proporcionar. “Tenho um celular bem antigo, que nem comporta WhatsApp e fiquei animado com a possibilidade.”

 



Veículo: Jornal O Estado de S. Paulo


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