O grande desafio do brasileiro na ceia de Natal deste ano é manter o padrão de consumo sem onerar o bolso. A saída de pesquisar e comparar preço e trocar produtos caros por baratos, que à primeira vista pode parecer trivial traz resultados significativos. O Estado foi esta semana às compras e simulou dois carrinhos com as mesmas quantidades de dez produtos da ceia pesquisados numa mesma loja de supermercado. O carrinho só com marcas premium saiu por R$ 433,77, quase 64% a mais do que aquele com produtos de marcas tradicionais, mas que não são topo de linha(R$ 264,63).
A maior diferença de preço foi registrada na champanhe, ambas nacionais, de 232,16%; seguida pelo bacalhau, neste caso ambos importados (102,5%). Até o tender, produzido pelo mesmo fabricante, a BRF, apresentou uma grande variação de preço: 87,6%. O quilo do produto da marca Sadia saiu por R$ 64,90 e o da Perdigão, por R$ 34,58.
Para o economista André Braz, da Fundação Getúlio Vargas e responsável pelo Índice de Preços ao Consumidor, esses resultados mostram a importância da pesquisa de preços e quanto o consumidor paga pelo marketing da marca. “É impossível que o fabricante produza o mesmo item com duas marcas diferentes e a qualidade de uma marca seja inferior em relação à da outra. Quem não pesquisa e não compara preço pode estar rasgando dinheiro.”
Peru pelo frango. Neste ano, a intenção do consumidor de substituir produtos para economizar vai além das marcas, segundo uma pesquisa feita no mês passado pela consultoria inglesa dunnhumby com 450 pessoas das classes A e B. A enquete mostra que 50% dos entrevistados consideram a possibilidade de trocar o peru pelo frango neste Natal e 42% deles farão isso para gastar menos e 44% porque não fazem questão do produto. A pesquisa aponta também que 38% dos entrevistados farão uma comemoração menos farta neste ano. Em 2014, 20% tinham essa intenção.
“O brasileiro está mais preocupado em fazer uma celebração em família do que em seguir tradições, adaptando-se à realidade econômica. Exceção feita ao panetone, que continua sendo um item indispensável”, diz Rafael Guarnieri Garcia, gerente de pesquisa da consultoria. Mais da metade (61%) disse que panetone não pode faltar na ceia e esse item foi o que apresentou a menor intenção de substituição por uma opção mais barata.
Supermercados. As redes varejistas captaram essa tendência e reforçaram a oferta de produtos mais em conta. Robson Parreiras, diretor comercial das bandeiras Extra e Pão de Açúcar do GPA, conta que a rede varejista ampliou em 10% o volume de aves para o Natal deste ano. A aposta maior foi nas marcas tradicionais, mas de menor preço.
No bacalhau, a rede importou diretamente e reduziu em 20% os volumes do tipo mais caro, Porto, e aumentou na mesma proporção as compras do tipo Ling, que tem um custo menor.
Também a Casa Santa Luzia, que vende alimentos e bebidas para as classes de maior poder aquisitivo, adaptou a oferta de produtos à conjuntura mais apertada. Segundo Ana Maria Lopes, diretora, a empresa se preparou para atender desde o consumidor que quer gastar R$ 25 com um item natalino até R$ 5 mil numa cesta. Mas, diante do cenário econômico, ela conta que houve uma pequena diminuição nas quantidades importadas de itens mais caros, como, por exemplo, o panetone italiano top de linha, que está na faixa R$ 160.
O presidente do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Supermercados, Sussumu Honda, diz que o Natal deste ano será das marcas mais acessíveis. Com a perspectiva de aumento do desemprego e uma recessão maior do que se esperava, ele acredita que um número muito grande de promoções conjuntas do varejo com a indústria deve ocorrer nas próximas semanas. “Se a venda do Natal de 2015 empatar com a de 2014, será muito bom.”
Veículo: Jornal O Estado de S. Paulo