A indústria de bens de consumo deve continuar pressionada no ano que vem e com volumes abaixo do desejado. Segundo especialistas, apenas as fabricantes de alimentos e as farmacêuticas devem encontrar um cenário próximo da estabilidade em 2016.
"A indústria deve apresentar resultados ainda ruins em 2016, sem perspectiva de melhora. Se antes o setor falava em um possível crescimento no ano, agora os principais indicadores econômicos sinalizam que vem aí mais um ano de queda na atividade industrial", avaliou o economista do Insper, Eduardo Correia de Souza.
As fábricas de alimentos devem repetir, em 2016, o desempenho visto neste ano, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia). A associação estima alta entre 0,2% e 0,8% em volume produzido em 2015. Já as vendas reais, descontada a inflação, devem registrar expansão de 0,3% a 0,9%. Para o próximo ano, a Abia estima avanço de até 1,4% no volume produzido e de 1,5% nas vendas reais.
"É importante enfatizar que esse resultado [projeção] é positivo quando comparado ao PIB nacional que deve encerrar 2016 com queda de 2,3%, segundo estimativas do mercado", afirmou o presidente da ABIA, Edmundo Klotz.
A indústria farmacêutica também prevê mais um ano difícil para o setor, mesmo com a demanda natural por medicamento. O maior impasse para o setor em 2016 deve ser a maior pressão sobre as margens de , reflexo da alta nos custos com matéria-prima. "Claro que a desvalorização do real frente ao dólar é sempre bom para a indústria de maneira geral exportar, mas para o nosso setor é um fator que complica os custos, porque a maior parte dos insumos é importada e o reajuste de preços é controlado", lembrou o presidente do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo, Nelson Mussolini.
Plano B
A exportação, pauta comum da indústria como alternativa ao enfraquecimento do mercado interno, segue como uma das principais apostas para alguns setores em 2016, segundo fontes ouvidas pelo DCI.
Para os profissionais a retomada dos embarques, entretanto, ainda esbarra nos mesmos problemas de anos anteriores: enquanto a taxa de câmbio se tornou mais favorável para a exportação, a falta de competitividade brasileira frente a outros países permanece como um dos entraves para as empresas que querem atuar além das fronteiras.
O sócio diretor da consultoria Iemi Inteligência de Mercado, Marcelo Prado, observa que a indústria moveleira, por exemplo, pode ser impulsionada pelas exportações. "Mas essa alternativa não é para todos".
Na visão do presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), Daniel Lutz, as vendas para outros países não será suficiente para compensar as perdas com o mercado interno. "Os móveis mais populares, de menor valor, devem enfrentar em 2016 os mesmo problemas deste ano. Com o crédito mais caro e restrito, o consumo das famílias não apresenta sinais de recuperação". O dirigente espera uma melhora da atividade no setor apenas a partir de 2018.
Prado diz ainda que a base de comparação mais fraca em relação a 2015 também pode ajudar a melhorar o indicador de atividade do setor no ano que vem. O Iemi analisa os setores de móveis, roupas e calçados.
A demanda por roupas e calçados, segundo Marcelo Prado, também vai continuar pressionada pela menor renda das famílias, aumento do desemprego e restrição ao crédito.
"As fabricantes de vestuário podem ver alguma melhora pela substituição dos importados, que agora estão mais caros e as calçadistas podem ver o início da retomada das exportações, movimento que já começou a aparecer em 2015", observou.
Outro segmento que poderá ser beneficiado pela condição cambial é o de eletroeletrônicos, dizem os especialistas. "Temos que vencer muitas barreiras para exportar, como recuperar a confiança dos clientes, o que leva tempo. Em 2015, nem a desvalorização da moeda está ajudando. Mas há sim uma expectativa de melhora", observou, recentemente, o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato.
A entidade prevê aumento de 2% nas exportações, em valor, no próximo ano. Se confirmada a expectativa, os embarques podem chegar a US$ 5,9 bilhões.
Cenário político
A crise política e econômica enfrentada pelo País também adiciona mais incerteza às perspectivas dos industriais para 2016. Para Edmundo Klotz, da Abia, a retomada da atividade depende da aprovação de medidas de ajuste fiscal, proposta pelo governo federal.
"Há a necessidade que os ajustes sejam votados, para equilibrar as contas e mostrar sinais ao mercado de que a situação irá se recuperar, principalmente ampliando concessões de infraestrutura", disse.
O economista Eduardo Correia de Souza, do Insper, também citou a necessidade da aprovação do ajuste fiscal para a melhoria da economia e, consequentemente, da atividade industrial. Ele destacou que, apesar dos problemas enfrentados neste ano, o ajuste fiscal não começou efetivamente.
"A princípio não temos sinalização de mudança para 2016. Mas, o que deveria ser feito e que é mais duradouro e estruturado, é estabelecer uma agenda política comum, para que as prioridades sejam definidas e as ações comecem a ser colocadas em prática", avaliou Souza.
Veículo: Jornal DCI