Em crise desde a forte queda na demanda mundial por produtos têxteis, os produtores de algodão avisaram ao governo que admitem benefícios internos como compensação por um eventual acordo com os EUA para encerrar o arrastado contencioso na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Desgastados pela demora do processo, iniciado em setembro de 2002, os produtores cobram decisão do governo, insistem na retaliação comercial aos americanos como um "sinal moral", mas aceitariam benefícios para cobrir as perdas provocadas pelos subsídios ilegais concedidos pelo governo dos EUA entre 1999 e 2002.
"Não entramos [na OMC] querendo compensações financeiras, mas a retirada dos subsídios", avisa o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Haroldo Cunha. "Mas se o governo não quiser retaliar [os EUA], se quiser usar politicamente, tem que ter benefícios internos para o setor. Temos que ter condições melhores para a produção. Esperamos resposta séria do governo".
No próximo dia 19, Cunha terá um novo encontro com o embaixador do Brasil na OMC, Roberto Azevedo, para discutir estratégias de negociação com os EUA e alternativas à retaliação. Os EUA sofreram a reprovação de sua política de subsídios ilegais na OMC em março de 2005, mas até hoje usam brechas nas regras de comércio internacional para protelar o pagamento de quaisquer compensação aos produtores brasileiros.
Pelas regras da OMC, os EUA terão o último prazo em 30 de abril, quando os juízes internacionais decidirão sobre os valores e a forma de retaliação. O Brasil insiste no direito de US$ 2,5 bilhões em retaliação comercial, mas os cálculos estão sendo avaliados pelos juízes. "Não queremos um 'ganhou, mas não levou' após tanto esforço. Não queremos ser campeões morais", resume Haroldo Cunha. A Abrapa alega ter gasto US$ 3,5 milhões no processo do contencioso da OMC. "Prevíamos US$ 220 mil, mas como os EUA arrastaram o processo para evitar a condenação, os custos foram às alturas".
No processo da OMC, a Abrapa provou que os EUA concederam subsídios ilegais. Em 1999, 45% da receita dos produtores americanos resultou desses subsídios de sete programas oficiais do governo.
O setor enfrenta crise nos mercados interno e externo. Aqui, a área plantada recuou e as exportações devem sofrer retração neste ano. A renda do produtor caiu. A Abrapa estima perda de US$ 360 milhões com a queda dos preços globais. O preço futuro aponta para US$ 0,55 por libra-peso, mas o custo de produção estaria em US$ 0,64 - em 2008, antes da crise, a cotação chegou a US$ 0,85.
Veículo: Valor Econômico