Nada de desperdício nem de compra por impulso. Pesquisa é a palavra de ordem entre parte dos consumidores que tem antecipado a compra de material escolar na Capital. Com a maioria dos produtos encarecidos entre 10% e 13%, ainda é preciso driblar a alta de itens importados, como mochilas, estojos e lancheiras, que estão entre 20% e 30% mais caros nas prateleiras daqueles lojistas que preencheram estoques após a alta do dólar. Também o reaproveitamento e reciclagem de produtos como tesouras, canetas hidrocores, lápis de cor, apontadores, réguas, entre outros itens duráveis, tem possibilitado um impacto menor no bolso dos pais de estudantes, principalmente daqueles com mais de um filho matriculado em escola.
As canetinhas e pincéis atômicos com pontas quebradas ou sem tinta podem ser transformadas em aquarela (misturando pequenos pedaços da carga em um copo de água), por exemplo. "No ano passado, comprei uma caixa grande, com dezenas de lápis de cor. Agora, vou reabastecer as cores que faltam, comprando uma caixa menor, com menos unidades", comenta a auxiliar de lavanderia Gislaine Vais, que precisa comprar material escolar para ela e para os dois filhos (todos os três no Ensino Médio). "Também reaproveitaremos outros materiais, como folhas de ofício que sobraram", completa a consumidora.
O administrador de empresas Jones Raguzoni também adotou o método do reaproveitamento na hora de decidir o que levar para a filha Luiza, estudante da quinta série do Ensino Médio. "Muitos produtos serão reutilizados, como hidrocores, giz de cera e mochila. Em compensação, ela pôde levar um caderno com ilustração de personagem temático licenciada na capa", ilustra. A "negociação" teve mais de um objetivo: ensinar a menina a economizar, mas também não encarecer a compra de produtos de uma lista já enxuta. Na cestinha, alguns cadernos, folhas de ofício e caixa básica de lápis de cor. "Para levar um caderno que custa três vezes mais que os outros, é preciso um equilíbrio nos gastos", ensina o administrador de empresas, que se disse satisfeito com o resultado. "Este ano o material escolar da Luiza saiu barato: não passou de R$ 200,00."
O gerente da Papelaria Brasil, Deoclides Rosseti, afirma que o movimento de pais e avós prevenidos tem sido grande na loja. "Depois do Carnaval, as vendas de material escolar devem intensificar, mas já estamos com boa saída de produtos do gênero. Muita gente prefere antecipar, para garantir que irá comprar mais barato e com mais tranquilidade", observa. Rosseti garante que na Papelaria Brasil não houve aumento de preços em relação a 2015. "Montamos nosso estoque de volta às aulas em julho do ano passado, quando o câmbio ainda não tinha disparado." Desde o início de janeiro, a empresa tem vendido bem. "Estamos com um bom movimento todos os dias. Comprar com antecedência nos garantiu competitividade."
Pelo menos neste ano, a Papelaria Brasil obteve vantagem de não precisar repassar aumento para os consumidores. E não falta alternativa para todos os bolsos: nas prateleiras, é possível encontrar cadernos (produtos mais caros da cesta básica) cujos preços variam de R$ 4,90 até R$ 28,00. Mas, segundo o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes e Importadores de Artigos Escolares e de Escritórios (ABFiae), Rubens Ferreira Passos, os produtores de papel - um dos principais insumos da indústria, cotado em dólar - já anunciaram aumentos superiores a 20% a partir de fevereiro. "Isso poderá afetar mais um ou dois anos o valor de cadernos e livros."
A partir desta quinta-feira até 3 de março, das 9h as 19h, de segunda a sexta-feira, e sábados, das 9h às 18h, ocorre a 26ª Feira do Material Escolar promovida pela Smic, que este ano acontecerá na Praça da Alfândega, no Centro Histórico de Porto Alegre. De acordo com o titular da pasta, Antonio Kleber de Paula, haverá dois tipos de cestas básicas de produtos, com preços variando entre R$ 13,00 e R$ 14,00. No local, também serão vendidos brinquedos didáticos, artigos de informática e livros infantis. "A estimativa é de que 150 mil pessoas visitem o espaço no período, e que as vendas girem em torno de R$ 1,5 milhão, a exemplo de 2014."
Mesmo no cenário de retração econômica, a Papelaria Kalunga também espera ter um aumento nas vendas, no caso, de 6% nas vendas de material escolar em 2016, em relação ao mesmo período de 2015. "Embora o público principal da empresa seja o de pessoas jurídicas, temos importante tradição na época do volta às aulas, quando as vendas aquecem a ponto de reforçarmos a equipe de atendimento nas lojas e nos centros de distribuição, além de ampliarmos o horário de atendimento em alguns endereços", afirma o diretor comercial da Kalunga, Hoslei Pimenta. Ele reforça que com a alta do dólar e inflação em torno de 10%, o maior impacto foi nos preços do material escolar foi para produtos com menor opção de marcas nacionais, como por exemplo mochilas e lancheiras. Para evitar evazão dos consumidores, a empresa estabeleceu desde o início do ano até 30 de março, prazos maiores para os clientes, que poderão parcelar compras acima de R$ 150,00 de itens do gênero em até 12 vezes sem juros, no cartão de crédito.
Também a Casa do Papel está com atrativo nas prateleiras, aplicando preços promocionais com desconto de 10% em alguns itens do material escolar. A gerente de vendas da empresa, Michele Azambuja, explica que o estoque foi preenchido com antecedência, e que a alta de preços foi baixa: "em torno de 10%", devido à inflação, dentro dos 20 ítens mais consumidos. Segundo Michele os descontos estão funcionando. "A demanda está boa, estamos vendendo bem e com uma expectativa otimista para o período, com crescimento real de 10%", calcula.
"Não adianta economizar R$ 1,00 na borracha e comprar uma mochila mais cara, se o objetivo é economizar - tem que prestar atenção nos itens de maior valor", adverte o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes e Importadores de Artigos Escolares e de Escritórios (ABFiae), Rubens Ferreira Passos, que tem dois projetos no Congresso que propõem o fim dos impostos para produtos de material escolar.
Veículo: Jornal do Comércio - RS