A Pesquisa Mensal do Comércio para o mês de janeiro, divulgada ontem pelo IBGE, acusou, na série com ajuste sazonal, crescimento de 1,4% para o comércio varejista restrito em relação ao mês anterior, e de 4,4% para o comércio ampliado, que inclui também os veículos e materiais de construção. Esse resultado superou as expectativas, dando a impressão de que a crise não atingiu as vendas no varejo e poderá desencadear uma retomada da indústria. Convém, todavia, relativizar esses dados.
É necessário lembrar que o mês de janeiro é o período de liquidações e sempre foi um mês em que as vendas no varejo acusam um bom desempenho, cabendo ainda notar que o crescimento registrado foi o mais baixo para o primeiro mês do ano, desde 2004.
Num período de crise, as famílias costumam esperar pelas liquidações para suas compras. É necessário também levar em conta que esse resultado veio depois de dois meses de recuo das vendas (-1,1% em novembro e -0,4% em dezembro, ante um crescimento de 1,9% e 0,4%, respectivamente, em 2007).
Verifica-se que os setores de supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo cresceram 0,3%. Trata-se de um conjunto responsável por 41% da expansão registrada. Já um setor que depende do crédito, como o de informática e comunicação, teve queda de 12,5%.
A venda de móveis e eletrodomésticos, em razão de novas habitações, cresceu 7,1%, e o setor de vestuário, 2,2%.
O caso excepcional foi o do setor de veículos automotores, cujas vendas aumentaram 11,1% (10,9% quanto ao valor das vendas), o que mostra que uma redução dos impostos tem grande efeito sobre o comércio.
Em compensação, registrou-se pela terceira vez consecutiva queda nas vendas de material de construção. O governo está demorando para reativar um setor que emprega mão de obra em grande quantidade, direta e indiretamente, e que sofre mais com o desemprego do que o operariado da indústria automobilística...
Seguramente, a reação, ainda que tímida, porém ligeiramente melhor do que se previa, das vendas no varejo poderá levar a indústria a abandonar o clima de pessimismo excessivo. O momento é oportuno, uma vez que se registra uma ligeira redução das taxas de juros e uma maior oferta de crédito. Todavia, caberia ao governo se convencer de que um alívio fiscal seria muito bem-vindo, assim como a efetiva realização de investimentos públicos.
Veículo: O Estado de S.Paulo