Que a crise atingiu em cheio o setor imobiliário é sabido e já reflete nos resultados de muitas empresas. Mas um segmento está conseguindo sentir menos os efeitos da turbulência: os condomínios logísticos. A escassa infraestrutura do país, o transporte ainda muito concentrado nas rodovias e as novas necessidades das empresas - que trocam espaços maiores e mais antigos por módulos onde podem dividir os custos dos serviços - garantem procura por esse tipo de empreendimento em plena crise.
O preço do aluguel está estável e já não sobe como no ano passado, mas as empresas de consultoria consultadas pelo Valor confirmam que é o único setor onde a demanda ainda supera a oferta. Nas redondezas de São Paulo, empreendimentos bem localizados, mais próximos da cidade de São Paulo e antes dos pedágios, estão praticamente todos ocupados. Até pela escassez de terrenos nessas regiões, já começam a ser estudados empreendimentos em outras cidades, como Recife, Salvador, Manaus, Porto Alegre e Rio. A Bracor fechou três contratos este ano em um parque logístico no Rio de Janeiro. "Os próprios setores de logística, varejo, alimentos e higiene pessoal estão investindo forte em distribuição e compensam a falta de demanda", afirma Pedro Luis Candreva, diretor nacional de vendas da Jones Lang La Salle.
Daí o interesse dos mais variados tipos de investidores, com objetivo de alugar e manter o negócio como fonte de renda. Há desde famílias que venderam seus negócios em outras áreas até os tradicionais investidores imobiliários nacionais e estrangeiros, e grandes nomes do setor, como a americana Hines; CCP, braço comercial da Cyrela; a Bracor (que tem como sócio o megainvestidor americano Sam Zell); e a BR Properties. Entre as construtoras, a WTorre e a Racional também apostam nesse mercado. "De 1 milhão de metros quadrados e 50 empreendimentos existentes a um raio de 100 quilômetros de São Paulo, 90% estão na mão de grandes investidores", afirma Eduardo Preto, consultor que elaborou um estudo sobre o segmento.
É um dos poucos setores onde há compra de terrenos. "Estamos negociando alguns terrenos para esses condomínios", afirma Mario Sérgio Gurgueira, diretor da consultoria Cushman & Wakefield. A GR Properties, de Guilherme Rossi - da família da Rossi incorporadora - empresa que nasceu no fim do ano passado para investir nesse setor, acaba de comprar um terreno de 40 mil metros quadrados em Jundiaí e pretende investir R$ 50 milhões no seu primeiro negócio. A Múltiplo, que representa um grupo de investidores - entre eles uma família que atua na área agrícola - e fez três condomínios na década de 80, retomou o negócio com a construção de um quarto e procura terreno para o quinto. "As coisas continuam acontecendo, mas de forma mais racional", completa Eduardo Velloso, da Colliers.
Até dois anos atrás, o setor atuava majoritariamente sob encomenda, mas, recentemente, saíram na frente as construções especulativas - justamente as que dependem de capital, algo raro nesse momento de falta de liquidez e crédito. "Como há menos capital disponível, quem tem dinheiro está mais seletivo e quer uma taxa de retorno melhor", diz Velloso. Mesmo com oferta restrita, na outra ponta, as empresas não estão dispostas a fazer grandes gastos. Até o momento, há um equilíbrio entre os lados. Os preços dos aluguéis, que chegaram a subir mais de 30%, estão estáveis, na casa de R$ 18 o metro quadrado nas redondezas de São Paulo.
Ao contrário de mercados já consolidados como o industrial e de escritórios, o conceito de condomínio logístico cresceu nesta década. Em 2000, eram menos de 200 mil metros quadrados, em 2004, já havia pouco mais de 400 mil e hoje existe 1 milhão de metros quadrados construídos e cerca de 700 módulos a um raio de 100 quilômetros de São Paulo, segundo o levantamento do consultor. A maior oferta está no entorno do Rodoanel, nas rodovias Castelo Branco, Anhanguera e nas marginais. Depois da restrição da circulação de caminhões em São Paulo, a demanda por esse tipo de imóvel aumentou. O empreendimento padrão tem vários módulos, que podem variar entre 800 e 5 mil metros quadrados. "Os menores tem mais liquidez", diz Preto.
Veículo: Valor Econômico