Até segmentos mais resilientes como o de supermercados preveem recuo nas vendas ao longo deste ano.
Diferentes indicadores do varejo mostram que, em 2015, o setor viveu seu pior ano desde o início do ciclo de expansão do consumo das famílias no Brasil, há mais de uma década. Entidades que representam o setor de comércio apresentaram dados ruins nas últimas semanas e, apesar do patamar já bastante baixo, não enxergam grandes possibilidades de recuperação em 2016.
O Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV) calcula que o ano tenha encerrado com queda real de 3,9% nas vendas do varejo, o que, se comprovado pelos dados do IBGE, será a primeira retração em termos reais desde 2003. A entidade continua projetando quedas reais para os primeiros meses de 2016, com expectativa de recuo de 6,6% em de janeiro ante o mesmo mês do ano passado. Para fevereiro e março também há projeção de queda.
Entre os fatores que justificam as previsões negativas estão as perspectivas fracas para o setor de eletroeletrônicos e outros bens duráveis. De acordo com a consultoria IDC Brasil, as vendas de dispositivos de telecomunicações devem continuar registrando perdas ao longo do ano. A projeção é de comercialização, em 2016, de 40 milhões de celulares, seis milhões de PCs e cinco milhões de tablets, que correspondem a quedas próximas a 10%, 30% e 30% ante 2015, respectivamente. Para o gerente de consultoria e pesquisa da IDC Brasil, Reinaldo Sarkis, ainda é cedo para projetar um horizonte de recuperação e crescimento nas vendas.
Desemprego. O comportamento da taxa de desemprego segue sendo uma preocupação até mesmo em segmentos mais resilientes do varejo, como o de supermercados. Depois de apurar um recuo real de 1,9% nas vendas em 2015 ante 2014, a Abras, entidade que rúne os supermercados, anunciou expectativa de queda de 1,8% em 2016. Se confirmada a perspectiva, será a primeira vez desde o início da série histórica, em 2001, que as vendas terão queda real por dois anos seguidos.
Os piores resultados devem vir no começo do ano, com as redes de hipermercados ainda controlando custos e eventualmente enxugando operações, uma vez que o indicador de confiança dos empresários segue no terreno do pessimismo.
O setor de shoppings, considerado outro refúgio do varejo frente ao comércio de rua, tampouco enxerga um horizonte de crescimento no curto prazo. O faturamento nesses centros de compras registrou em 2015 a pior taxa de expansão nominal, de 6,5%, na série histórica iniciada em 2000 da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). Em 2015, houve queda real de pouco mais de 4%. Foi a primeira vez, desde 2002, que o crescimento de vendas perdeu para a inflação. Para 2016, a projeção é de queda real de 0,5%.
Veículo: Jornal O Estado de S. Paulo