Empresas com faturamento entre R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão foram as que mais viram esse custo subir no ano passado.
O cenário de recessão, com baixo investimento e queda no consumo, ajudou a potencializar os gastos do setor produtivo com logística. No ano passado, quase 12% da receita das empresas foi consumida com despesas de transportes e armazenagem, segundo levantamento feito pela Fundação Dom Cabral, com 142 empresas de 22 segmentos industriais. Em 2012, esse porcentual estava na casa de 10,54% e em 2014, em 11,5%.
Na média, os custos do ano passado tiveram um avanço real (descontada a inflação) de 1,8% comparado ao do ano anterior. Em alguns setores, no entanto, o aumento das despesas com logística foi mais perverso e corroeu de forma expressiva o ganho das companhias. No setor de metalmecânica, os gastos cresceram 60% (de 5% para 8,01%); mineração, 58% (de 8,5% para 13,43%); farmacêutico e cosméticos, 56% (de 5% para 7,79%); e papel e celulose, 48% (de 13% para 19,25%).
“Houve uma combinação muito desfavorável para as empresas em 2015: as receitas caíram e os custos logísticos continuaram a subir”, diz o professor da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende, um dos coordenadores do levantamento. Segundo ele, os gastos com logística subiram mais entre as empresas com faturamento entre R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão. Para esse grupo de companhias, os custos avançaram 30%.
Resende destaca que entre os fatores que mais influenciaram na evolução dos gastos com logística estão o aumento da burocracia, restrição para distribuição nas regiões metropolitanas, custo com mão de obra especializada, aumento dos preços dos combustíveis e falta de infraestrutura de apoio nas estradas, que tem um peso forte nas despesas logísticas.
Entre as empresas pesquisadas pela Fundação Dom Cabral, 80% afirmaram que usavam, predominantemente, o transporte rodoviário para movimentar suas cargas, sejam de produtos acabados ou de matéria-prima. O problema é que, com o ajuste fiscal do governo federal, os investimentos em infraestrutura rodoviária despencaram.
O orçamento caiu de R$ 22 bilhões para R$ 15 bilhões. E apenas 15% desse montante foi pago, segundo dados da Confederação Nacional do Transporte (CNT). Resultado: 57% das estradas pavimentadas continuam em condições ruins e elevando os gastos das empresas.
“A cada ano nossa infraestrutura fica mais deficitária e nosso custo logístico piora”, diz o diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), José Ricardo Roriz. Segundo ele, o Brasil precisaria investir, ao menos, duas vezes mais do que o volume atual só para manter a infraestrutura. “Isso sem contar o que seria necessário para melhorar a qualidade das estradas, portos e ferrovias.”
Segundo ele, até 2014, o País gastava US$ 2.224,40 por contêiner exportado enquanto o custo dos concorrentes foi de US$ 1.058,05 e dos países mais competitivos, como EUA, Cingapura, Japão e Coreia do Sul, de US$ 1.003,37. “A tendência é piorar, pois continuamos sem investir em infraestrutura.”
O professor da Dom Cabral concorda. Ele explica que o avanço de 1,8% do custo médio em 2015 só não foi maior porque alguns setores apresentaram recuo nos gastos. A queda, no entanto, não é uma boa notícia, diz Resende. Ele explica que muitas empresas, ao perceberem redução na receita, cortaram custos e desmobilizaram toda infraestrutura de transporte, fechando armazéns, vendendo frotas de veículos e terceirizando toda a parte de transportes. Com isso, o custo fixo da logística passa a ser uma despesa variável.
Adriano Thiele, diretor executivo de operações da JSL, uma das maiores empresas de logística do País, confirma essa tendência: “Esse movimento tem sido comum nos momentos de dificuldade econômica, em que as empresas precisam aumentar a eficiência.” Segundo ele, o grupo, que tem crescido 26% ao ano, vem conquistado novos contratos com empresas que já são clientes. “Sempre começamos com operações pequenas e, aos poucos, vamos assumindo outros serviços. Assim, eu fico com o custo fixo dele.”
Para o professor Paulo Resende, num primeiro momento, essa migração pode representar vantagens. Mas, quando a economia reagir, as empresas terão dificuldade para retomar esses ativos, pois perderam capacidade logística. Além disso, com a atividade aquecida, a demanda por serviços de transporte aumenta e os custos tendem a subir.
Veículo: Jornal O Estado de S. Paulo