Sai de cena um Papai Noel combalido pelas pressões que o consumidor teve de sustentar sobre o bolso em 2015 para dar lugar ao coelhinho da Páscoa, desta vez, munido de ovos e barras de chocolate menores e oferecidos a preços mais acessíveis aos orçamentos cortados sem dó. Na festa cristã de março, fabricantes e lojistas do setor vão tentar driblar a crise brasileira com produtos adequados às rendas mais sacrificadas e já se preparam para uma batalha pelo cliente arredio, reforçando a presença das marcas nos pontos de venda, com a promessa de não abusar nos reajustes dos preços.
O comportamento incerto dos salários e do emprego neste ano leva as empresas a trabalharem pela conservadora meta de repetir o volume de vendas registrado na Páscoa do ano passado. As guloseimas típicas da época começam a chegar às vitrines do varejo nos próximos dias, mais de um mês antes da data oficial da comemoração, em 27 de março. “É quase uma economia de guerra para nos adaptarmos às necessidades do cliente neste momento”, resume o superintendente da Associação Mineira de Supermercados (Amis), Adilson Rodrigues.
As redes supermercadistas, a exemplo do Extra Hipermercados e do Pão de Açúcar, estão prontas para inaugur as gôndolas da Pascoa. Na melhor hipótese, esperam corrigir pela inflação, e nada mais, a receita motivada pela data, sem abuso nos estoques. Faz sentido, em tempos de turbulência na economia e na política, já que, para o setor, a festa cristã costuma representar incremento de 5% dos negócios faturados em qualquer outro mês do ano, à exceção de dezembro.
Terceiro maior consumidor e produtor de chocolates no mundo, depois dos Estados Unidos e da Alemanha, o Brasil amargou queda do ritmo da atividade nas fábricas da ordem de 10% em 2015 até setembro, segundo o levantamento mais recente divulgado pela Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab). De acordo com o presidente da instituição, Getúlio Ursulino Netto, o resultado foi consequência da crise da economia. A associação não trabalha com previsões sobre o comportamento das vendas.
As remessas destinadas ao varejo, neste ano, ainda estão saindo das fábricas, de acordo com a Abicab. No ano passado, a oferta somou 19,7 mil toneladas de chocolates produzidos nas indústrias e nas chocolaterias, correspondendo a 80 milhões de ovos, volume que ficou estável na comparação com 2014. O Salão de Páscoa 2016, realizado na semana passada em São Paulo, mostrou o ânimo das empresas. Houve 147 lançamentos, perante 150 em 2015, em boa parte repaginados em novos formatos e tamanho inferior, com menor quantidade de matéria-prima precificada em dólar, na tentativa de fisgar o consumidor a preços mais acessíveis.
O presidente da Cacau Show, Alexandre Costa, afirma que a empresa não vai se curvar a um momento difícil da economia sem buscar oportunidades e, por isso mesmo, a rede, que é o maior sistema de franquia de chocolates finos no mundo, mantém a otimista previsão de crescer 18% nesta Páscoa. “Levando em consideração a situação atual do mercado, elaboramos novidades que atendam os diferentes perfis de consumidor”, diz. A multinacional Nestlé informa ter desenvolvido estratégias para diversificar a produção e trabalhar mais a exposição dos produtos nos pontos de venda.
Uma das medidas adotadas pela empresa é criar pontos de contato com o consumidor além das parreiras de ovos montadas nos supermercados e lojas especializadas. Ovos de colher serão expostos em ilhas nas lojas e o consumidor poderá encontrar os produtos menores nos próprios caixas registradores. A Nestlé anuncia, ainda, novidades em brinquedos e licenciamentos para agradar o público de todas as idades e perfis.
Concorrência
Nas fábricas menores, valem o estoque mínimo e a oferta de chocolates frescos e com o tom caseiro, em meio à concorrência dos grandes fabricantes, que têm custos de produção menores, e das redes de supermercados, em geral com capacidade de oferecer preços melhores por comprarem grandes quantidades, como define Roberto Grochowski, sócio do irmão Henrik na mineira Lalka. No ramo há mais de 90 anos, a empresa concentra toda a sua força na fabricação de novidades baseadas nos produtos tradicionais da casa, incluindo as balas e bombons de licor.
Depois de um Natal morno e que só emplacou na véspera da festa, segundo Roberto Grochowski, a intenção é trabalhar no mesmo ritmo do fim do ano com uma produção ajustada ao máximo à demanda nas nove lojas da rede em Belo Horizonte e uma na Serra do Cipó. A fábrica instalada no Bairro Floresta começou a produzir os ovos menores e deixará as cascas dos ovos já prontas para o acréscimo do recheio à medida em que os pedidos forem chegando dos pontos de venda. O sistema evita a perda não só de podutos, mas também de embalagens caras. “A concorrência cresceu demais na Páscoa, que já foi a melhor época do ano, e o grande problema da fábrica artesanal são os custos maiores. Nosso diferencial está no sabor e no produto mais fresco”, afirma.
A Lalka está, ainda, atenta à redução do tíquete de vendas no Natal, que girou entre R$ 40 e R$ 45 em 2015, ante R$ 55 no fim de 2014. Para atender a todo tipo de bolso, a marca vai oferecer de ovinhos maciços com 10 a 15 gramas de chocolate cada a uma edição limitada de ovos com 30 quilos de chocolates e bombons. Os miniovos devem chegar às lojas ao preço de R$ 1,50 a R$ 1,60 por unidade, e a maior versão, a R$ 3,6 mil.
Veículo: Jornal Estado de Minas - MG