Além da alta do dólar e a redução do poder de compra do brasileiro, as floriculturas encaram ainda mais um desafio para conseguir vender mais este ano: a concorrência com os supermercadistas. A estimativa é que a venda dentro de supermercados salte de 13% para 25% do faturamento total do setor em pouco tempo, o que aumenta a pressão nas tradicionais lojas de flores.
"Eles [supermercadistas] até conseguem vender mais barato por poderem comprar em maior escala, mas ainda não sabem oferecer esse produto como forma de decoração ou arte. Acho que nisso será difícil tomar o lugar das floriculturas", diz o sócio da Hórtica Consultoria e Treinamento e consultor do Sindicato do Comércio Varejista de Flores e Plantas Ornamentais do Estado de São Paulo (Sindiflores), Hélio Junqueira.
De acordo com a Hórtica, o movimento das grandes bandeiras supermercadistas começou há alguns anos, e hoje 13% das vendas de flores são realizadas pelas grandes varejistas. "Em poucos anos poderemos ver esse índice chegar a 22% ou 25%", prevê.
Além da forte concorrência com os supermercadistas, o diferencial das floriculturas - a execução dos buquês - também vem sendo pressionada pela redução do poder de compra do brasileiro e avanço da moeda norte-americana. "Houve um impacto direto nos preços. Essa alta colocou os produtos em um preço que o mercado interno não tem condições de bancar", diz Junqueira.
De acordo com ele, as mudanças nos buquês começaram ainda em 2015, após a moeda norte-americana ser cotada a R$ 4, o que tornou inviável a importação em larga escala de rosas, que chegam, principalmente, da Colômbia e do Equador. Em doze meses, a variação do preço das flores atingiu 48%, o que derrubou as importações em um terço até o fim do ano passado.
Flores nacionais
A solução encontrada pelos varejistas do setor foi montar arranjos com plantas cultivadas no Brasil. "Os vendedores tiveram de encontrar alternativas mais econômicas, até porque o consumidor está buscando produtos mais baratos, como orquídeas nacionais e até o crisântemo", explica Junqueira.
Além disso, explica ele, as lojas do ramo têm buscado aproveitar todas as datas possíveis do calendário para ampliar as vendas de forma sazonal..
No último domingo (14), quando foi comemorado o Valentine's Day (Dia dos Namorados, em inglês) em países da Europa e nos Estados Unidos, comerciantes brasileiros tentaram promover a data.
No entanto, segundo um levantamento da Hórtica Consultoria, só 14,3% das floriculturas e empresas brasileiras de varejo afirmam ter realizado vendas especialmente para esta celebração. Em 2014, por exemplo, o patamar foi de conversão de vendas foi de 28%. "Deu para perceber que o consumidor está mais pessimista. O próprio tíquete médio caiu cerca de 13%. Se no ano passado o cliente gastava, em média, R$ 72 em um arranjo, hoje está gastando R$ 60", disse Junqueira ao DCI.
O reflexo do pessimismo foi mostrado no mesmo estudo da Hórtica, ao mostrar que 81% das empresas do setor disseram acreditar que a atual situação econômica do Brasil impacta diretamente na perda de mercado para as flores.
Apesar disso, a movimentação financeira na cadeia nacional de flores e plantas ornamentais foi de R$ 6,1 bilhões no ano passado, o que representa alta real de 8,3% frente ao ano anterior. Este ano, Junqueira prevê alta de até 6%.
E-commerce vai longe
Quase blindada da crise, o site Giuliana Flores cresceu 18% ano passado em função da forte operação logística e entregas rápidas. Em 2015, a empresa fechou acordo com 70 parceiros para poder conseguir entregar flores em todo o Brasil.
"Elaboramos um processo de logística bastante tecnológico que nos permite entregar o produto em até 3 horas nas grandes capitais. Isso ampliou nosso negócio", diz o sócio da companhia, Clóvis Souza.
O poder de fogo da empresa fez com que Clóvis não deixasse de importar as rosas importadas da Colômbia, mas ele assume que os preços tiveram de ser reajustados. "Não deixamos de vender a rosa, mas ela ficou, sim, mais cara. Em contrapartida, buscamos soluções como arranjos mais econômicos e rosas nacionais", conta.
Com duas lojas físicas em São Paulo, 95% das vendas da empresa são via e-commerce.
Veículo: Jornal DCI