Ovo de Páscoa emagrece

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                                                         Para driblar a crise, indústria encolhe tamanho médio para 250 gramas.

Na Páscoa da recessão, fabricantes reduziram o tamanho do ovo para tentar manter as vendas. Em vez dos 400 gramas médios do ano passado, o chocolate terá cerca de 250 gramas. Mas os preços subiram 10%. Para driblar a crise econômica e manter a produção e a venda de chocolate na Páscoa em 20 mil toneladas em 2016, a mesma marca alcançada em 2015, as indústrias estão reduzindo a média do tamanho dos ovos, que já começam a decorar áreas das lojas de varejo, em cerca de 40%. Mas o preço do chocolate subiu até 10%. A estratégia de oferecer ovos menores foi adotada pelos fabricantes na esperança de que o consumidor não deixará de comprar o tradicional chocolate de Páscoa, apesar dos salários corroídos pela inflação.

 — Os ovos diminuíram de tamanho. Se a média era de 400 gramas ano passado, este ano, será de 250 gramas. Com opções menores, a expectativa é que o consumidor não deixe de comprar em meio a um cenário de perda de renda e medo de desemprego — diz Ubiracy Fonseca, vice-presidente de Chocolates da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim Balas e Derivados (Abicab).

No ano passado, segundo a Abicab, foram fabricados 80 milhões de ovos. Este ano, com a mesma quantidade de chocolate, calcula-se que sairão das linhas de produção 88 milhões de ovos, 10% a mais, exatamente pela redução do tamanho. Segundo Fonseca, os fabricantes também optaram por licenciamentos de produtos mais baratos como brindes nos ovos. Assim, evitam preços mais altos nesse segmento.

Consultados pelo Globo, fabricantes afirmaram que os reajustes nos preços no varejo vão variar de 6% a 10% este ano. Os fabricantes confirmam também a redução do tamanho dos ovos. Levando em conta o valor do grama do chocolate de Páscoa, no entanto, os aumentos são maiores e chegam a 35%, caso do Galak, de chocolate branco da Nestlé, que “encolheu” de 230g para 210g, mas o teve uma alta de preço, em média, de R$ 25,88 para R$ 34,98.

— É uma estratégia das empresas reduzir o peso dos produtos e vendê-los com preços mais baixos, para que o consumidor não deixe de comprar. Mas, quando se observa o valor, por grama, há um aumento até maior do que o anunciado — ressalta Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac).

Ovo de 45 gramas e R$ 6,99

Em lojas da Kopenhagen, só é possível encontrar neste ano o ovo Cherry Brandy de 540g. Em 2015, ele pesava 720g. O preço passou de R$ 220 para R$ 185,70. Na Arcor, o maior ovo este ano pesa 220 gramas. Os ovos da linha infantil da marca são os menores, entre 100g e 150g, e variam de R$ 34 a R$ 45. Para quem quer gastar ainda menos com as crianças, há uma opção de ovo de 45g a R$ 6,99.

A Nestlé e a Lacta decidiram concentrar a produção nas opções preferidas do consumidor em tamanhos reduzidos. Um exemplo é o Especialidades de 750g, que este ano vem na versão de 350 gramas. O Sensação e o Prestígio, que tinham 350 gramas e 360g, respectivamente, passaram a ter 240g. A marca informou que os preços foram reajustados em 10%, mas ainda não divulgou os valores das novas versões.

Fernanda Pincherle, gerente de Marketing de Lacta, diz que não houve reajuste de preço nem redução de tamanho este ano, mas admite uma “reorganização de portfólio”, cujo foco foi a concentração de oferta nas versões mais leves.

— O principal objetivo é garantir que os brasileiros possam comprar suas marcas favoritas com baixo desembolso. Teremos um grande número de produtos com preço sugerido abaixo de R$ 30. E, entre as inovações deste ano, estão produtos com esse perfil, como os ovinhos recheados Ao Leite e Sonho de Valsa, ambos com 95g e preço sugerido de R$ 8,99 — diz Fernanda.

O vice-presidente da Abicab afirma que a indústria está tentando repassar ao consumidor o menor reajuste possível, apesar da pressão de custos que vem sofrendo, especialmente nos itens atrelados ao câmbio. Cotado no mercado internacional, o preço do cacau, principal matéria-prima do chocolate, teve alta de 14% em 2015.

— O açúcar também subiu nos mercados externos. Há ainda a desvalorização de mais de 40% do real frente ao dólar. Isso sem falar na inflação e em custos como armazenagem, energia, combustível e logística, que também aumentaram — destaca Fonseca, lembrando que, depois da Páscoa, ainda haverá o aumento do IPI sobre o chocolate.

Segundo cálculos de Leila Detício, gerente comercial e de marketing da Munik, as matérias-primas subiram, em média, 15% ao longo do último ano. Para garantir o fluxo de vendas, a Munik decidiu reduzir margens e não repassar todo o aumento de custos. Os ovos da marca foram reajustados em 7%. A aposta da empresa também está nos produtos menores e ao leite, que são mais baratos. O mais em conta custa R$ 6,50 e pesa 50g.

— No Natal, vendemos mais lembrancinhas, e agora será igual — avalia Leila.

Mais gente trabalhando no ponto de venda

Fonseca, da Abicab, revela também que a indústria está investindo em mão de obra para convencer o consumidor no ponto de venda. Segundo ele, o número de funcionários temporários contratados pelas indústrias para esta Páscoa subiu de 26 mil, em 2015, para 29 mil este ano, a maior parte para ações de marketing.

— É mais gente para fazer abordagem das pessoas. É nesta ponta que se faz o convencimento dos clientes — afirma o vice-presidente da Abicab.

Para Alexandre Costa, presidente da Cacau Show, apesar do cenário econômico ruim, é preciso criatividade e novos produtos para fisgar o cliente:

— Temos trufas que custam a partir de R$ 1 a unidade. É acessível para qualquer brasileiro.

Dos 50 produtos da Cacau Show para esta Páscoa, 20 são lançamentos. Entre as opções mais baratas, um pirulito de chocolate com formato de coelho a R$ 3,90. O reajuste ficará em 6%, em média. Uma aposta é a venda direta ao consumidor por catálogos e quatro mil revendedoras autônomas.

A Kopenhagen e a Brasil Cacau, do Grupo CRM, esperam vender três milhões de ovos, mesma marca de 2015. Na Kopenhagen, o reajuste dos preços será 7,5% e na Brasil Cacau, de 8,5%.

— Não foi um repasse significativo perto da variação cambial, aumento do preço do cacau e das embalagens e do dissídio coletivo que impactaram nossos custos — afirma Renata Moraes Vichi, vice-presidente executiva do Grupo CRM.

 



Veículo: Jornal O Globo


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