As fabricantes de biscoitos estão oferecendo embalagens menores e produtos com apelo saudável para tentar manter as vendas no mercado local. A estratégia, embora seja uma tendência no setor, pode não ser suficiente para alavancar os volumes neste ano.
Segundo a consultoria Euromonitor International, a oferta de embalagens em formatos menores é um movimento global. "A população solteira está aumentando e nos países emergentes a proporção de solteiros é ainda maior que nos mercados desenvolvidos. Isso terá um grande impacto sobre a indústria de bens de consumo, configurando uma tendência para o aumento da disponibilidade de embalagens menores, especialmente em alimentos e bebidas", observam os analistas da consultoria.
O consumo fora do lar aparece como outra tendência para a indústria de alimentos. Uma pesquisa feita pela Nielsen mostra que 46% do consumo de snacks - produtos substitutos, complementares ou intermediários às refeições, incluindo biscoitos -, é feito fora de casa.
"O consumo de alimentos fora do lar pode crescer, dependendo fortemente da situação econômica no País. Temos indicadores que apontam que cerca de 35% dos brasileiros pretendem retomar seus gastos com entretenimento, que incluem a alimentação fora do lar, assim que as condições financeiras melhorarem", destacou a analista de mercado da Nielsen, Vanessa Freire.
Cenário difícil
Ela lembrou que o consumo com alimentação fora do lar registrou queda nos últimos meses, impactada pela atual situação econômica do País. No entanto, a retração tende a ser pontual. "O brasileiro já vinha aumentando o consumo de snacks, pois ocorreram mudanças mais profundas na cultura, na medida em que mais mulheres conquistam o mercado de trabalho e há menos tempo para cozinhar", disse.
Com o consumo no mercado brasileiro em queda, a categoria de biscoitos já mostra sinais de desaceleração. De acordo com a Euromonitor, as vendas de biscoitos no Brasil cresceram 56,5% entre 2010 e 2015. Para os próximos cinco anos a expansão deve ser menor. Em 2020, o total comercializado deve representar alta de 14,8% frente ao ano passado, informou a consultoria.
A M. Dias Branco, dona das marcas Zabet e Vitarella e líder na categoria de biscoitos no País, viu o volume de vendas desses produtos recuar 4,1%, para 503,8 mil toneladas no último ano. A companhia seguiu o movimento de retração do mercado nacional.
Segundo a Kantar Worldpanel, a venda de biscoitos somou R$ 9,32 bilhões no último ano, queda de 0,9% ante 2014. Em volume, o recuo foi mais intenso, com perda de 4,6% na mesma base. As únicas categorias que apresentaram avanço em volume no ano passado foram biscoitos saudáveis (+17,2%) e cookies (+0,4%).
Com a redução do consumo, a M. Dias Branco perdeu 0,2 ponto percentual de market share na categoria de biscoitos em 2015, mas continua liderando o mercado nacional com 27,9% de participação, de acordo com a Nielsen.
"Temos sentido alguma movimentação no mix de produtos e o quarto trimestre é, historicamente, pior em volume. Mas 2015 foi difícil em função do ambiente macroeconômico e pela mudança na nossa política de descontos", explicou o assessor de relações com investidores da M. Dias Branco, Bruno Cals de Oliveira, em teleconferência com analistas.
Para 2016, o executivo afirmou que ainda há forte incerteza, principalmente em relação à demanda interna, mas não detalhou a estratégia para oferta de produtos.
A concorrente brasileira Bela Vista lançou no ano passado uma linha de biscoitos integrais em embalagens de 100 gramas, em linha com duas das principais tendências do setor - saudabilidade e embalagens menores - e anunciou investimentos para reposicionar sua marca.
As brasileiras devem enfrentar ainda a disputa mais acirrada com a gigante Mondeléz, que vem ganhando espaço com as marcas Bel Vita e Oreo, que têm embalagens menores, para consumo individual. A fabricante também ampliou o portfólio da marca Club Social no ano passado, para atender à demanda "do público jovem, que possui rotina corrida e passa grande parte do dia fora de casa", detalhou a Mondeléz.
Fontes do mercado afirmam que a companhia vem registrando bom desempenho nas vendas desses produtos. O resultado, entretanto, não deve ser suficiente para compensar a demanda mais fraca em outras categorias. A recessão no mercado brasileiro foi destacada pela Mondeléz como um dos fatores que deve prejudicar o resultado de 2016.
A receita líquida global da Mondeléz somou US$ 29,63 bilhões no ano passado, retração de 13,5% ante 2014. Na América Latina a queda foi menos intensa, com perda de 3,2%, para US$ 4,98 bilhões no ano.
Veículo: Jornal DCI