Fevereiro surpreendeu e foi um mês de bom desempenho do varejo na comparação com janeiro. As vendas registraram alta de 1,2%, a melhor taxa para o mês desde 2010 (2,7%), segundo dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) divulgados nesta terça-feira pelo IBGE. O resultado também foi o melhor na passagem de um mês para o outro desde julho de 2013 (3%). O bom desempenho mensal, no entanto, ainda não permitiu que setor recupere as perdas acumuladas nos últimos anos.
Frente a fevereiro de 2015, o volume de vendas caiu 4,2% — pior taxa para o mês desde o início da série do IBGE, em 2001. Foi a 11ª vez seguida em que houve variação negativa nessa comparação, mas a taxa foi menos acentuada do que em janeiro (-10,3%) e a menor em seis meses. Em 12 meses, o volume de vendas acumula perda de 5,3%. No ano, a queda é de 7,6%.
Já a receita das vendas do comércio ficou no campo positivo em todas as comparações. De janeiro para fevereiro cresceu 1,3%; frente ao mesmo mês do ano passado, a alta foi de 7,3%; enquanto no acumulado em 12 meses, o crescimento foi de 3%. No ano, a expansão da receita é de 3,9%.
O varejo ampliado — que inclui veículos, motos, partes e peças e de material de construção — cresceu 1,8% no volume de vendas na passagem de janeiro para fevereiro. A receita nominal também subiu (2,9%). Frente ao mesmo mês do ano, as vendas caíram 5,6%, enquanto a receita cresceu 3,3%. No acumulado dos últimos 12 meses, as perdas foram de 9,1% e 1,8%, respectivamente. Em 2016, o recuo no volume foi de 10,1%, já na receita foi de 1,3%.
De acordo com o IBGE, o resultado negativo no volume de vendas do varejo na comparação anual se deve a fatores como a evolução dos preços, que em alguns casos, como no de combustíveis (15,9%), ficaram acima do índice geral do IPCA, que acumulou 10,4% em 12 meses até fevereiro. A restrição ao crédito e a alta das taxas de juros às pessoas físicas, que no período passou de 32,9% ao ano para 39,9% ao ano, também contribuíram negativamente, juntamente com a redução da renda e do número de trabalhadores com carteira assinada. No caso do comércio ampliado, o IBGE menciona também a redução da atividade econômica.
Alberto Ramos, do Goldman Sachs, avalia que apesar do bom resultado registrado na passagem de janeiro para fevereiro as perspectivas para o consumo e as vendas do varejo no curto prazo continuam “desafiadoras”, devido à desaceleração do fluxo de crédito de bancos públicos e privados, assim como do alto nível de endividamento das famílias, do aumento do desemprego, da diminuição da renda, da elevação dos juros, do alta de impostos, e das elevadas incertezas políticas e econômicas que afetam a confiança do consumidor.
Na série com ajuste sazonal, que mede a variação de um mês para o outro, o varejo cresceu em quatro das oito atividades acompanhadas pelo IBGE. O maior impacto vei ode móveis e eletrodomésticos, que cresceu 5%, após a perda acumulada de 13,2% em dezembro e janeiro. Em seguida aparece o setor de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, com expansão de 0,8%, após três quedas seguidas, que levaram uma baixa de 3,7%. Combustíveis e lubrificantes (0,6%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (0,3%) também tiveram variação positiva.
Por outra parte, tecidos, vestuário e calçados registrou perda de 2,8%; livros, jornais, revistas e papelaria encolheu 2,4%; equipamentos e material para escritório, informática e comunicação caiu 1,3% e outros artigos de uso pessoal e doméstico recuou 0,1% frente a janeiro.
Na comparação com fevereiro de 2015, o mês teve um dia útil a mais e, mesmo assim, sete das oito atividades pesquisadas pelo IBGE registraram recuo no volume de vendas — apenas artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos avançou (6,2%). Os maiores impactos negativos à taxa da PMC vieram de móveis e eletrodomésticos (-10,9%); outros artigos de uso pessoal e doméstico (-11,4%); hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-1,4%); tecidos, vestuário e calçados (-10,8%); combustíveis e lubrificantes (-4,1%); equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-17,3%); e livros, jornais, revistas e papelaria (-16,3%).
Resultados regionais
Na passagem de janeiro para fevereiro, o volume de vendas cresceu em 17 das 27 unidades da federação. Tocantins (3,3%), Paraná (3,2%), Espírito Santo (2,8%), Minas Gerais (2,5%), Rio de Janeiro (2,2%), Amazonas (2,1%), Amapá (1,4%) e São Paulo (1,4%) tiveram desempenho acima da média nacional, de 1,2%. Sergipe (-3,7%), Mato Grosso (-1,8%) e Rio Grande do Norte (-1,7%) tiveram os piores resultados.
Na comparação com o mesmo mês do ano passado, o volume de vendas caiu em 25 das 27 unidades da federação. Amapá (-17,1%), Sergipe (-12,8%) e Amazonas (-10,8%), com recuos de dois dígitos, tiveram as taxas mais negativas. Os maiores impactos de baixa sobre o resultado geral vieram de São Paulo (-3,6%) e Rio de Janeiro (-6,5%).
Em 2015, após 11 anos de crescimento ininterrupto, as vendas do varejo fecharam com uma queda de 4,3% — a pior da série iniciada em 2001 e o primeiro recuo desde 2003, quando o volume de vendas encolheu 3,7%. No acumulado em 12 meses, a taxa foi a pior desde novembro de 2003 (-4,6%).
Veículo: Jornal O Globo - RJ