Apostando numa retomada das contratações após o arrefecimento da crise, o headhunter Alfredo Assumpção, fundador e presidente da Fesa, empresa brasileira de seleção de executivos, está lançando uma nova companhia de recrutamento. A Asap buscará apenas profissionais em início da carreira, do chamado "entry level", com salários na faixa entre R$ 4 mil e R$ 10 mil.
Com a nova companhia, Assumpção quer brigar por uma fatia desse mercado, que está em ascensão na indústria de recrutamento no Brasil. "Ele movimenta cerca de US$ 200 milhões ao ano no país, valor semelhante ao da seleção no alto escalão", diz. Nessa disputa, enfrentará concorrentes como Michael Page, Hays e Robert Half.
A Asap começa a operar no fim do mês em um escritório de 450 metros quadrados, alugado na avenida Paulista. "Vamos transferir para ele 20 funcionários da Fesa agora e outros 20 até o fim do ano", diz Assumpção. No total, ele espera fechar 2009 com um quadro de 50 profissionais na nova empresa. "Queremos trazer gente de fora também". O primeiro contratado no mercado foi o executivo Carlos Eduardo Ribeiro Dias, que assume a direção da Asap. Ele trabalhou por dez anos na Fesa e estava comandando a Allis, empresa de recursos humanos do grupo GP.
O esquema de trabalho da Asap será semelhante ao praticado no mercado de recrutamento para a média gerência. "Vamos cobrar do cliente entre 15% e 18% do salário anual do profissional colocado e, em alguns casos, cobraremos por projeto", explica Assumpção. Quando o cliente desejar, a Asap anunciará as vagas em jornais, como faz a concorrência. "O serviço será personalizado", diz.
O objetivo para este ano, segundo Assumpção, é manter a participação de mercado da Fesa e fazer a Asap crescer. Ele pretende, até o fim de 2010, inaugurar escritórios da nova companhia em Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Salvador, Brasília e Campinas.
Apesar de ter registrado queda de 10% ao mês no último trimestre do ano passado e não ter batido as metas em fevereiro, ele acredita que a Fesa terá um bom desempenho este ano. A empresa, criada há 14 anos, começou recrutando apenas no mercado financeiro. Com o tempo, ampliou sua atuação para outros setores como tecnologia, bens de consumo, serviços, infraestrutura e indústria farmacêutica. Desde 2006, é sócia da IIC Partners, oitava maior consultoria internacional de busca e seleção de executivos, com 61 escritórios em 41 países. "A Fesa hoje é a maior operação da companhia no mundo", diz Assumpção.
De 2004 até 2008, a Fesa expandiu significativamente seus negócios. "Registramos um crescimento de quase 1000% . O Brasil estava crescendo e faltava capital humano. Isso nos ajudou", diz o presidente. "Isso vai acontecer de novo. Nunca a indústria de manufatura aceitou tão rápido uma crise e passou a cortar mão-de-obra", diz. Ele acredita que as empresas estão aproveitando este momento para avaliar seus empregados e fazer uma "limpeza" em seus quadros, trocando profissionais ruins e médios por outros melhores. E, para encontrar talentos, precisarão das empresas de recrutamento, diz.
Assumpção não se intimida com previsões de redução nos negócios de "executive search" por conta da crise econômica. "Estima-se uma queda de 70% no mundo e de 33% no Brasil", diz. Ele ressalta que, ao longo do tempo, essa indústria cresceu muito. "No ano passado, ela movimentou US$ 12 bilhões. Há 20 anos, esse valor era de apenas US$ 1 bilhão", conta. O headhunter lembra que a América do Sul representa 6% do mercado global e o Brasil 40% dos negócios da região. "Depois da crise, as empresas de seleção de executivos sairão fortalecidas", acredita. "Isso porque as crises acontecem por falha de pessoas, que em algum momento terão que ser substituídas", diz. "Meu planejamento é estratégico e visa o médio e longo prazo", afirma. Para ele, a "guerra por talentos" continuará.
Veículo: Valor Econômico