Para não correr o risco de perder sua liderança histórica no varejo de moda no Brasil, a C&A iniciou o ano com uma agressiva campanha de marketing, a mais exuberante desde a contratação de Gisele Bündchen, entre 2001 e 2003, e decidiu dar um novo visual às suas lojas. Desta vez, os rostos escolhidos são os das top models Carol Trentini, Emanuela de Paula e Alessandra Ambrósio, cujas iniciais coincidem com a marca C&A. No caso da varejista, não se trata de uma mera coincidência. Seu próprio nome combina as iniciais de seus fundadores, os irmãos Clemens e August, que abriram a primeira loja na Holanda em 1841.
Em anos anteriores, a varejista testou outras celebridades, como o cantor Rick Martin, mas rendeu-se à constatação de que as modelos dão mais certo para vender moda. "Elas têm mais talento para isso", diz Élio França, diretor de marketing da C&A. A campanha estrelada por Gisele Bündchen é considerada um marco e ajudou construir a imagem da varejista no Brasil, onde sua presença é mais forte que em alguns países europeus.
Segundo analistas do setor, a subsidiária brasileira é a mais bem-sucedida do grupo no mundo. Na Europa, a C&A enfrentou a concorrência dos novos varejistas globais, como a espanhola Zara e a sueca H&M, que acabaram assumindo a liderança desse mercado. E é esse o risco que a varejista não pretende correr no Brasil.
Quem está a cargo das campanhas publicitárias é a DM9, que foi contratada em maio de 2008, quando a C&A desistiu de produzir ela mesma sua propaganda, abandonando uma antiga prática.
Para modernizar as lojas no Brasil, a C&A contratou o escritório americano de design Chute Gederman, que assina projetos como a loja-conceito da marca de chocolates M&M em Nova York e exibe em sua carteira alguns pesos-pesados do varejo, como Walt Disney, Target, Macy's e Wal-Mart. Segundo França, pelo menos 15 das atuais 168 lojas da C&A no Brasil serão convertidas no novo modelo, que já foi implementado nas filiais dos shoppings Morumbi (SP), Barra (RJ) e Recife (PE). Após inaugurar 55 lojas nos últimos três anos, a empresa vai manter seu plano de expansão, apesar da crise econômica. Para 2009, estão previstas 10 inaugurações, diz França.
Desde 2006, as concorrentes Marisa, Renner e Riachuelo, aceleraram a expansão e ultrapassaram a marca de R$ 2 bilhões de faturamento anual em 2008. Sobretudo nos shoppings, a C&A enfrenta uma concorrência mais feroz dessas três varejistas. Renner e Marisa tiveram tempo de aproveitar o "boom" das ações e abriram o capital na bolsa, reforçando o caixa para bancar a expansão.
Mas, por enquanto, a liderança da C&A não está ameaçada. Em relatório divulgado em 2008 sobre o varejo de vestuário no Brasil, o banco Credit Suisse estima que as vendas da varejista superem R$ 4 bilhões no Brasil.
Nenhum número referente à operação é revelado pela C&A no Brasil, que também não divulga resultados financeiros na Europa.
De capital fechado, a C&A pertence à discretíssima família Brenninkmeijer. No Brasil, a C&A está desde 2003 sob o comando de Luiz Antonio Fazzio, um ex-executivo do Grupo Pão de Açúcar.
Veículo: Valor Econômico