Para enfrentar a crise, que tornou o crédito mais escasso e enxugou 11 milhões de postos de trabalho, o consumidor adiou as compras, fazendo o mercado varejista registrar um de seus piores resultados no ano passado e iniciar 2016 com números decrescentes. Para lidar com o mau humor da economia e ainda com a crescente concorrência do comércio eletrônico, gigantes do varejo estão fechando lojas e desacelerando os planos de abertura de unidades. No país, o comércio já cortou 220 mil vagas nos últimos 12 meses.
No ano passado, a Via Varejo, que resultou da fusão da Casas Bahia e Pontofrio, fechou 39 lojas e enxugou mais de 10 mil vagas. Em Minas foram três lojas Pontofrio desativadas em 2015. No início do ano, a Magazine Luiza, em encontro com analistas do mercado financeiro, comentou a possibilidade de fechar lojas ao longo de 2016. Em 2015, o Magazine encerrou o ano com prejuízo de R$ 65 milhões.
A troca do fogão, da geladeira, a compra do sofá novo e da mesa da sala ficaram para depois, com o crédito caro e restrito. “Além da crise econômica, grandes redes do varejo têm de enfrentar também a concorrência das compras feitas pela internet que vai ganhando espaço entre os consumidores. Este ano ainda será muito difícil para o setor”, avalia o diretor da GS&AGR Consultores, Jean Rebetez.
Segundo o especialista do comportamento do varejo, as margens estão espremidas e as empresas que dependem basicamente de crédito e da renda sentem a marcha a ré da economia. “Uma atitude comum das grandes redes de varejo para conter os custos é abrir mão das unidades que não estão performando bem”, diz Rebetez. Em 2015, o Ibovespa (índice que reúne as ações mais negociadas da bolsa) fechou em queda de 13,3%. Os papéis da Via Varejo se desvalorizaram em 83,8% e os do Magazine Luiza em 70,4%.
O Sindicato dos Empregados do Comércio de Belo Horizonte e Região Metropolitana acompanha com preocupação o aprofundamento da crise. “O número de homologações no comércio tem sido crescente desde janeiro, e o que mais nos preocupa é que esses trabalhadores não estão retornando ao mercado”, avalia José Cloves Rodrigues, presidente da entidade. Ele afirma que, na reestruturação feita no ano passado pelo Pontofrio e Casas Bahia para se adequarem à retração da economia, cerca de 50 empregos foram eliminados.
De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, nos últimos 12 meses o comércio varejista, em sua totalidade, fechou 11,8 mil vagas em Belo Horizonte e 24 mil em Minas. O setor havia encerrado 2015 com queda de vendas de 4,3% (veja a arte), maior baixa da série histórica de dados dos negócios da atividade, iniciada em 2001, como informou o Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE). O segmento de móveis e eletrodomésticos ajudou a derrubar o resultado do varejo ao levar um tombo de 14% em 2015. No primeiro trimestre deste ano seguiu caindo 17% frente ao mesmo período do ano passado.
Também atingida pela crise do varejo, em abril, a rede de lojas Dadalto encerrou suas atividades em Minas Gerais. A empresa especializada em produtos para o lar fechou sete pontos de venda e anunciou que vai concentrar suas operações no Espírito Santo. Em Belo Horizonte, foram desativadas lojas em shoppings, na Região Central e no Bairro Buritis. A rede varejista, que está em recuperação judicial desde o fim do ano passado, não informou o número de trabalhadores demitidos. O Sindicato dos Comerciários de Belo Horizonte e Região Metropolitana estima corte de aproximadamente 300 vagas na capital.
A rede Walmart, terceira maior empresa do ramo de supermercados no Brasil, anunciou a desativação de 30 unidades no país, em pelo menos sete estados. Em Minas, já foram fechados o atacado Maxxi, em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de BH, e um supermercado em Passos, no Sul do estado.
Redes varejistas que estão fora do segmento da linha branca também sofrem os efeitos da crise. A C&A prevê o fechamento de 12 lojas pelo país em 2016. A Forever 21, que trouxe para o país o conceito da moda rápida e concorre com lojas como Renner, C&A e Riachuelo, precisou repassar para os seus produtos o peso do dólar forte e deve frear a sua estimativa de abertura de novas lojas. “A rede está mais cautelosa e deve crescer mais devagar, abrindo menos lojas que o previsto”, avalia Jean Rebetez. A assessoria de imprensa da rede informou que em 2016 três novas lojas serão abertas.
Retomado
O segundo trimestre deve esboçar uma reação para o varejo de eletrodomésticos e a retomada deve continuar no semestre, na opinião de José Lúcio Costa, presidente da Suggar. Maior fabricante de tanquinhos do país, Costa diz que o número de unidades é crescente e chega a 6 mil ao dia. Segundo o executivo, as linhas de alto valor agregado, como adegas climatizadas, máquinas de gelo e geladeiras sofisticadas não sofreram tanto. “Os produtos para a classe D, que tem benefícios sociais, também estão sentindo menos a crise. A maior queda está localizada nos produtos voltados para a classe média.” Otimista, o presidente da Suggar prevê que o varejo terá uma retomada mais rápida que a previsão dos analistas de mercado.
Veículo: Jornal Estado de Minas - MG