Apesar da crise, vendas de eletrônicos 'de luxo' estão em alta no Brasil

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O mercado de tecnologia no Brasil não tem vivido dias fáceis: com a alta do dólar e a crise econômica, que diminuiu o poder de compra dos brasileiros, smartphones e computadores tiveram quedas históricas em suas vendas no ano passado. No segmento móvel, foi o primeiro tombo desde sua popularização no País, enquanto os PCs tiveram o pior resultado desde 2005, segundo a consultoria IDC Brasil. No entanto, o segmento de tecnologia de luxo, com produtos mais avançados, design arrojado e preços superiores a R$ 3 mil, está passando ao largo do aperto econômico.

Apesar de ainda corresponder a uma pequena parte das vendas, essa fatia do mercado tem se expandido nos últimos meses: de acordo com a consultoria IDC Brasil, as vendas de smartphones com preço acima de R$ 3 mil, que representavam 1,7% do total no primeiro trimestre de 2015, passaram a corresponder a 5,3% no mesmo período de 2016. Em termos absolutos, o volume subiu 111%, de 232 mil unidades no primeiro trimestre de 2015 para 490 mil no mesmo período de 2016.

No setor de computadores, o segmento premium expandiu sua participação ainda mais: eles eram 8,3% das vendas em 2014 e passaram a 25,3% das unidades comercializadas durante 2015. Há razões distintas para o crescimento em cada mercado, mas fatores como status, busca por especificações mais avançadas e o reposicionamento das marcas por causa da oscilação da moeda americana (que variou entre R$ 3,14 e R$ 4,16 nos últimos 12 meses) estão por trás das razões para o ganho de expressividade dos aparelhos “top de linha”.

Na telinha. Acostumado a ser disputado por apenas duas marcas – Samsung e Apple –, o segmento de smartphones acima dos R$ 3 mil ganhou novos membros nos últimos meses: segundo a IDC Brasil, o número de modelos disponíveis no mercado brasileiro cresceu de 8 para 22 aparelhos, com a entrada de empresas como Sony (que lançou por aqui o Xperia Z5 por R$ 4,3 mil no segundo semestre de 2015) e Lenovo (com o Moto X Force, a partir de R$ 3,2 mil).

A Lenovo, aliás, é um exemplo de como as empresas têm reposicionado seus produtos: entre 2013 e 2015, a companhia fez sucesso no Brasil com smartphones populares como o Moto E e o Moto G, vendidos por R$ 350 e R$ 700, respectivamente. Há duas semanas, a empresa divulgou a quarta geração do Moto G, com modelos na faixa de R$ 1,3 mil, abrindo espaço para que aparelhos superiores, como o Moto X e o Moto X Force, possam subir de preço.

“O dólar fez a competição nos smartphones de entrada ficar mais difícil, com pequenas margens de lucro. Em aparelhos mais caros, as empresas ganham saúde financeira com margens melhores”, explica o analista da IDC Brasil, Diego Silva. Nesta semana, mais uma marca deve se juntar ao “clube dos R$ 3 mil”: a LG, que deve lançar por aqui uma versão mais barata do avançado G5.

Dois tipos diferentes de público consomem smartphones “de luxo” no Brasil: um é o público de alta renda, “que não sente os efeitos da crise e continua consumindo”, diz Thiago Flores, analista de produtos do site de comparação de preços Zoom. Já outra parcela dos consumidores se aproveitam de uma característica comum do varejo brasileiro – o parcelamento – para ter acesso a produtos mais caros, como uma forma de ascensão social.

“O usuário não faz a conta do valor total do produto, mas sim do custo mensal que terá para ter um aparelho desse tipo”, diz Silva, da IDC Brasil. É o que atesta também Renato Citrini, gerente de produtos da sul-coreana Samsung no Brasil. “Levamos em conta não só os preços totais, mas também o valor que uma parcela pode ter”, explica. “Quem compra um smartphone premium quer colocar o aparelho em cima da mesa no bar com os amigos para mostrar como é diferenciado.”

Outra razão para o crescimento desse segmento no mercado é a busca por recursos avançados e aumento no tempo de vida de um smartphone – seja pela crise ou pelo consumo consciente, os brasileiros têm deixado de trocar de aparelho todo ano. “O consumidor já percebeu a importância do smartphone na vida dele”, explica Silva. “Por isso, os fabricantes melhoraram as especificações técnicas, especialmente a câmera.”

Na telona. No mercado de computadores, o cenário é bem diferente: além dos fatores conjunturais, como o aumento do dólar e a crise no País, o setor também sofre com a queda na demanda depois da chegada dos dispositivos móveis. “Os computadores deixaram de ser a primeira ou a única escolha dos usuários para acessar a internet”, disse, por meio de nota, o analista Meike Escherich, da consultoria Gartner.

De acordo com dados da IDC Brasil, o preço médio de um computador em 2015 foi de R$ 2,3 mil, alta de 37% com relação a 2014. Segundo Pedro Hagge, analista para o mercado de computadores da IDC Brasil, a variação do dólar é a principal vilã. “Produtos com boa especificação, que há um ano custavam na faixa de R$ 2,5 mil, hoje custam acima de R$ 3 mil, entrando na faixa de preço mais alta do mercado”, diz o analista.

O perfil do comprador de computadores também mudou ao longo do tempo: em vez do pai de família ou de quem precisava de um PC para se conectar à internet, agora trata-se de um usuário que quer melhorar a capacidade de sua máquina para ser mais produtivo no trabalho.

Apesar da queda do mercado total, há oportunidades para os fabricantes. De acordo com o Gartner, os fabricantes devem apostar nos notebooks em formato conversível, capazes de se transformar em tablets, e em máquinas voltadas para o público gamer, que demandam maior poder de processamento. “Apesar da alta competitividade, é um setor que apresenta maior rentabilidade”, disse Tracy Tsai, vice-presidente de Pesquisa do Gartner.

A Dell, líder de mercado no Brasil, está de olho nesse nicho: a empresa acaba de relançar a linha de computadores Alienware, voltada para os fãs de games, com notebooks a partir de R$ 10 mil. Quem também retornou recentemente para disputar o segmento premium é a Vaio, que era controlada pela Sony e deixou o País em 2014. Agora sob a tutela da Positivo, a empresa quer ser uma opção aos MacBooks, com PCs que custam pelo menos R$ 3 mil. “Computadores acima de R$ 4 mil representam uma boa fatia das nossas vendas”, diz Daniel Bergman, diretor da Vaio Brasil. “Como uma marca de desejo, estamos bem menos sensíveis à crise.”

 



Veículo: Jornal O Estado de S. Paulo


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