O consumo das famílias, principal motor do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), perdeu o fôlego e ainda deve demorar para voltar a crescer. No primeiro trimestre deste ano, caiu 1,7%, em comparação ao imediatamente anterior, e retrocedeu aos níveis de 2011, início o governo da presidente afastada Dilma Rousseff. Especialistas avisam que, se houver uma melhora no segundo semestre, ela será marginal porque a retomada de fato dependerá da volta da confiança do consumidor. E isso dependerá da queda da inflação para evitar perda do poder aquisitivo e da melhora no mercado de trabalho, algo que só deverá ocorrer a partir de 2017.
Mas esse cenário de recuperação está condicionado à continuidade o novo governo, por mais complicado que o momento atual se encontre, segundo especialistas. Eles avisam que o presidente interino, Michel Temer, precisará fazer mais em termos de ajuste fiscal a curto prazo para que a trajetória de crescimento seja recuperada. “A confiança continua baixa porque há muita incerteza política. Os dados de desemprego ainda crescem e a renda está em queda, com a inflação persistente e o crédito restrito. Existem vários elementos que não sinalizam uma recuperação a curto prazo”, resumiu João Pedro Ribeiro, economista da Nomura Securities International, em Nova York.
Não à toa, o desalento de quem trabalha com o comércio é grande diante da retração do consumo. Ivanilton Lopez Ribeiro, 43 anos, que o diga. Fechou uma das duas lojas de confecções, no ano passado, e hoje cogita desistir do ramo de vestuário feminino. “O número de clientes caiu muito. Está muito complicado sobreviver do comércio”, lamentou. Neste ano, o faturamento despencou 50% em comparação com o ano passado. E, para piorar, Ribeiro está pendurado no cheque especial. “Não vou mais para shopping e cinema. Viajar eu nem penso mais, não tem condições. O dinheiro que a empresa me traz é apenas para pagar o aluguel do espaço e o condomínio”, comentou.
Dificuldades
A proprietária de um salão de manicure em Samambaia, Carmem Verônica Pereira, 43, atravessa dificuldades. Ela viu a renda cair mais da metade, passando de R$ 2 mil, em 2015, para R$ 800, atualmente. “Já fizemos algumas promoções, mas os clientes estão sem dinheiro”, disse. Com várias contas acumuladas, Carmem está cansada de receber cobranças do banco e quase não consegue pagar o aluguel da loja. Ela já pensa em devolver o carro que comprou parcelado. “Já atrasei o pagamento da prestação do mês passado e ainda não tenho todo o dinheiro para quitar a deste mês. É tanta dívida que, quando eu consigo pagar uma, é um alívio imenso”, desabafou.
Veículo: Site Correio Braziliense