Para analistas, indústria saiu do fundo do poço

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                                                                       Alta de 0,1% em abril supera projeções. Setor caminha para estabilidade

Depois de anos em queda, a produção industrial começa a caminhar para estabilidade. A produção avançou 0,1% em abril, frente a março, segundo o IBGE, após alta de 1,4% em março. É a primeira vez desde julho e agosto de 2014 que há dois meses seguidos de taxas positivas. Analistas esperavam queda de 0,9% e, agora, acreditam que a indústria finalmente está saindo do fundo do poço. Foi um resultado próximo ao desempenho do PIB, que teve queda de 0,3% no primeiro trimestre, bem abaixo das projeções de recuo de 0,8%.

Ajuste de estoques, leve retomada da confiança dos empresários e influência do setor externo — estimulado pelo dólar mais alto, com crescimento de exportações e alguma substituição de importação — são alguns fatores que ajudam a explicar esse resultado melhor da indústria.

Ainda assim, o patamar de produção em abril estava no mesmo nível de dezembro de 2008, que foi o pior momento da indústria durante a crise global.

Os indícios de retomadas ainda são poucos e despontam em bens de capital (máquinas e equipamentos) — que registravam quedas seguidas — e em bens de consumo não duráveis — com destaque para alimentos e álcool.

Crescimento em bens de capital

O movimento ainda não pode ser chamado de recuperação, apontam analistas, mas muda a tendência de uma indústria que chegou em abril à marca de 26 taxas negativas na comparação com igual mês do ano anterior. Frente a abril de 2015, a retração foi de 7,2%. No resultado em 12 meses, o tombo é de 9,6%.

— É uma mudança de trajetória. A indústria sai de uma fase de aprofundamento da crise para estabilização. Alguns segmentos param de cair, outros mostram queda menos intensa — afirma o economista do Instituto para o Desenvolvimento Econômico e Industrial (Iedi), Rafael Cagnin.

Nos últimos quatro meses, a produção de bens de capital vem registrando altas frente ao mês anterior. Assim, acumula um crescimento de 7,7% em 2016. Só que apenas nos últimos três meses de 2015 a perda tinha sido de 12,9%. Itens como caminhões, máquinas agrícolas e para o setor elétrico são alguns exemplos. Ao mesmo tempo, os bens de consumo não duráveis avançaram 1,9%, a primeira alta após 17 meses de queda frente ao mesmo período do ano passado. Neste caso, o destaque foram os combustíveis, como gasolina e álcool (este último beneficiado pela antecipação da moagem da canade-açúcar por problemas climáticos), com alta de 21,1%, e a produção de alimentos, que subiram 2,4%, puxados por carne, que tem se destacado nas exportações.

— A variação de 0,1% é uma boa notícia, mas o predomínio de taxas negativas, nem tanto. O crescimento não está disseminado. Este ano, foram três taxas negativas e uma positiva. Mas o saldo do ano ainda é de uma queda de 1,1% — apontou o gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, André Macedo.

O economista da LCA Consultores Rodrigo Nishida também é cauteloso:

— Estamos nos aproximando do patamar mínimo da produção. É mais uma estabilização que uma retomada consistente da indústria. É precipitado descrever de outra forma.

Prova disso é que a produção de abril está 20,3% abaixo do pico de junho de 2013. A produção de bens de capital, um indicador de investimento, está 44,6% abaixo de setembro de 2013. Mas isso não significa que a indústria terá reação rápida, dizem analistas. A produção deve seguir para o terceiro ano de queda, entre 6%e 7% de retração.

— Temos amostras de que o pior já passou. O câmbio começa a contribuir positivamente, mas o mercado de trabalho ainda vai piorar e há ociosidade grande na indústria. — afirma Leonardo Carvalho, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

 



Veículo: Jornal O Globo - RJ


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