A Votorantim Celulose e Papel (VCP) terá um dia agitado hoje. A companhia inaugura a fábrica de Três Lagoas (MS) que terá a capacidade de produzir 1,3 milhão de toneladas, sendo que parte desse volume já está contratada pela International Paper (IP) que opera na mesma planta com uma produção atual de 200 mil toneladas de papel. Além disso, haverá a divulgação dos resultados obtidos pela companhia em 2008, que segundo fontes de mercado, deverá apresentar queda de cerca de R$ 1 bilhão em função do prejuízos nos dois últimos trimestres do ano.
O fator que deverá apresentar maior peso sobre os números da empresa é a variação cambial. De acordo com uma indicação dos resultados para o quarto trimestre de 2008 a empresa já apontava um impacto financeiro da desvalorização do real ante o dólar que chegava a R$ 525 milhões e outros R$ 200 milhões em função de operações com derivativos, o mesmo recurso que levou a Aracruz, recém-adquirida pela própria VCP, a perder mais de R$ 2 bilhões no ano passado.
A produção da nova fábrica chegará a um mercado que passa por um momento difícil em função da crise econômica mundial. Na opinião do especialista de papel e celulose da Tendências Consultoria, Bruno Rezende, o ano será de dificuldades para as empresas do setor, pois a demanda ainda não foi recuperada aos níveis do verificado nos dois últimos anos, época em que o preço da estava em alta. "É bem possível que ocorra uma leve recuperação [do preço], mas deve ser de intensidade moderada", comentou.
No azul
Mesmo com a retração do preço da celulose no segundo semestre de 2008, as empresas do setor, tiveram um ano positivo apesar dos grandes prejuízos contábeis apresentados, que não têm efeito de caixa. Com a apresentação dos resultados da VCP nesta segunda, o mercado conhecerá o desempenho de todas as companhias do setor, que em geral destacaram o aumento da receita em decorrência da variação cambial, que levou os resultados para baixo e elevaram a posição de caixa.
Na Suzano Papel e Celulose, esse volume de recursos em dezembro era de R$ 2,2 bi, um recorde. Segundo o presidente da companhia, Antônio Maciel Neto, no último trimestre, a companhia vendeu 330 mil toneladas de celulose, 13% a mais do que nos três meses anteriores em função de embarques para a China. "O preço da celulose caiu 28% no período para US$ 501, pode ser que vejamos a recuperação apenas no próximo semestre", disse o executivo.
Na Celulose Irani, a receita bruta aumentou 10,2%, mas mesmo assim o resultado líquido foi negativo também em função da variação cambial, que impactou em R$ 61,8 milhões no balanço da empresa. A Aracruz foi uma das poucas empresas que entraram na contramão. Na empresa, o impacto, acrescido da conta negativa de derivativos, levou a companhia ao maior prejuízo do setor. O caixa registrado em 2008 foi de R$ 1 bilhão, sendo que 85% estava aplicado em real e a dívida bruta, com a metade da Veracel, em R$ 9,6 bilhões. Uma parte desse valor, resultante da renegociação com bancos das perdas originadas com os derivativos.
"Definitivamente o ano foi bom para o setor de celulose e nem tanto para o de papel", disse o especialista. "Nem mesmo a derrubada do preço da celulose de fibra curta, que de julho a dezembro de 20008 recuou em 28% foi capaz de reverter o ganho no ano", explicou Rezende que disse ser este um momento mais favorável ao setor de papel em função da queda do custo da celulose.
Segundo a Tendências, o preço médio da celulose foi superior ao de 2007, mesmo com a queda de demanda e de preços no mercado internacional. Em 2008, a valorização foi de 12% com aumento do volume exportado em 9,6%. Com isso, a receita das empresas aumentou cerca de 30% em relação a 2007. No primeiro bimestre de 2009, os embarques de celulose aumentaram 14,8% sobre o mesmo período de 2008 com preço 33% menor, utilizando a base US$ 545, praticado na Europa.
Veículo: DCI