Demanda fraca interrompe trajetória de alta nos preços de leite e derivados

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Valores pagos ao produtor vinham em uma sequência de sete elevações mensais consecutivas e remuneração melhor se refletiu em crescimento na captação leiteira; para setor, oferta deve cair


São Paulo - A elevação de 50,8% no valor do leite acumulado até setembro fez com que o consumidor optasse por frear a demanda pela bebida e seus derivados. O resultado foi aumento de estoque dos produtos no atacado e daqui pra frente queda nos preços, amparada pela entrada da safra na pecuária.

Os laticínios vinham em uma sequência de sete altas mensais e atingiram recordes reais nos valores pagos ao produtor rural. No entanto, levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) indicou retração de 3,2% na média nacional de setembro, ante agosto, para R$ 1,5257 por litro.

"O aumento na captação, observado na maioria dos estados pelo terceiro mês, e a fraca demanda interna foram os principais motivos das quedas nos valores", avalia o pesquisador do instituto, Wagner Yanaguizawa. A média nacional considera o desempenho de Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Bahia.

Na mesma linha, o zootecnista e analista de mercado da Scot Consultoria, Rafael Ribeiro, acredita que o resultado de setembro pôs fim a um ciclo de alta que vinha desde o final do ano passado.

"O [leite] longa vida chegou a ficar acima de R$ 4,20. Em agosto, foi para R$ 2,64 e em setembro a R$ 2,50 por litro. O consumo patinando forçou uma queda forte no atacado", destaca o especialista da Scot. E com os derivados não foi diferente.

Na análise do Cepea, os preços médios do leite UHT (longa vida) e do queijo mussarela negociados no atacado de São Paulo em setembro foram de R$ 2,49 por litro e R$ 19,20 por quilo, respectivamente, retrações expressivas de 23,1% e 8,41% em relação às médias de agosto. Com o cenário de baixas nos últimos dois meses, a variação acumulada da bebida desde o início do ano passou para 6,3%.

Para outubro, representantes de laticínios e cooperativas projetam nova queda.

"Até dezembro, a produção segue crescendo com o andamento da safra. Deve ser um alívio para o consumidor final", estima Ribeiro. Em contrapartida, para o pecuarista, a chuva faz com que as pastagens aumentem e componentes da alimentação, como o farelo de soja, estão em queda. O milho, que onerou os custos da ração durante o ano, ainda diverge opiniões sobre possível estabilidade nas despesas.

No campo

A captação leiteira cresceu em quase todos dos estados analisados, refletindo a recuperação das pastagens, favorecida pela chegada das chuvas em algumas regiões, e o início da safra no Sul do País. De julho para agosto, o Índice de Captação de Leite do Cepea (ICap-L/Cepea) subiu 6,2%, com destaque para os catarinenses e gaúchos, com significativas altas de 11,76% e 11,37%, respectivamente.

Apesar do desempenho altista, daqui para frente a tendência é de reversão.

"Historicamente, tínhamos avanços entre 4% e 4,5% na produção brasileira, ao ano. Em 2015, fechamos com decréscimo de 4,8%. Agora, não há outra saída além de baixar a oferta, então, caminhamos para mais um ano de queda", afirma o presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Rodrigo Alvim.

O representante da cadeia produtiva conta que, há dois meses, os pecuaristas recebiam R$ 1,80 por litro. Com a queda, já passam a receber R$ 1,10, remuneração que inviabiliza a sustentação de investimentos em melhoria de qualidade na produção, como genética adequada, e ganho de produtividade.

Durante a gestão da ex-ministra da Agricultura, Kátia Abreu, falou-se muito na intenção de colocar o Brasil na posição de exportador leiteiro, o que hoje não acontece. Entretanto, "como você vai fazer uma política de exportação com a produção caindo?", questiona Alvim.

 

Fonte: DCI


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