Cenário ruim. As expectativas negativas para o final do ano farão com que as empresas do ramo invistam menos em estoque. Para não sacrificar a margem, descontos também erão escassos
São Paulo - Nem mesmo o Natal, data mais importante do ano para o varejo têxtil, será suficiente para reverter os resultados negativos do setor. As projeções de entidades ouvidas pelo DCI variam entre estabilidade e queda de 11% nas vendas do período, o que fará com que as decisões de compra de estoque e realização de promoções sejam conservadoras.
Segundo o diretor executivo da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex), Edmundo Lima, os descontos não serão uma estratégia das empresas do ramo este ano. "As promoções impactam muito na margem de lucro, e as companhias estão justamente em um processo de buscar aumentá-la", diz. A entidade representa as maiores redes, entre elas: Renner, C&A, Cia. Hering, Marisa, Riachuelo e Zara.
A opinião é compartilhada pelo diretor vogal do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), Nuno Souto, que afirma que tanto o varejo quanto a indústria estão em um momento de tentar recuperar a margem. "Se eles fizerem isso [dar muitos descontos] prejudicará bastante os resultados", diz. Ele complementa que mesmo assim as empresas devem trabalhar com a "comunicação, e vender a ideia de que estão oferecendo produtos com um bom preço".
Ambas as entidades acreditam que as vendas do período serão iguais as do ano passado. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), por outro lado, projeta uma queda expressiva nas vendas das lojas de vestuário no mês de dezembro deste ano, que deve ser superior a 11%. "Do ponto de vista do volume de vendas, a variação negativa registrada em 2015 (-5,4%) deverá ser ainda maior neste ano", diz a assessora econômica, Juliana Serapio.
Visão dos lojistas
As previsões das três entidades parecem se refletir no ânimo das varejistas, que também olham para o Natal com expectativas baixas. A loja de lingerie Hope, por exemplo, afirma que se as vendas forem iguais as do ano passado já será um resultado positivo. Em 2015, elas retraíram 1,5% na data, na comparação interanual.
Sobre os últimos meses, o diretor de expansão, Silvio Korytowski, afirma que em setembro o resultado foi muito ruim, com uma queda de 6%. Já o mês de outubro vem apresentando uma melhora, segundo ele. A Rabusch, que vende artigos de moda feminina, afirma que a perspectiva é de uma alta de 6% a 10% no Natal, em termos nominais - o que representaria uma queda ou estabilidade se considerados os efeitos da inflação.
De acordo com o diretor da rede, Cristiano Seidert, a aposta da empresa para o período natalino será a ampliação do mix. "Não vamos trabalhar com promoções para o Natal, e sim com lançamentos e uma variedade maior de produtos", afirma, completando que o aumento será focado em duas frentes: os itens com preços de entrada (e que possuem um giro maior), e os produtos plus size. "No Natal, a demanda por esses produtos com preços de entrada cresce bastante. Por isso vamos ter uma gama maior desses itens, para que a conversão do cliente seja mais assertiva", afirma.
A Hope, que possui 162 operações, também diz que não deve investir em descontos, e sim em ações pontuais para atrair o consumidor e em estímulos para os vendedores, como um extra para os que baterem a meta. "Como o fluxo de consumidores diminuiu bastante com a crise, queremos compensar aumentando a taxa de conversão", afirma Korytowski.
Além disso, a varejista fez no começo deste ano uma reformulação no estoque da rede. "Diminuímos as linhas, com menos lançamentos, mas estamos trabalhando com mais profundidade, concentrando nos produtos com um giro maior", diz. "Assim, conseguimos ter um equilíbrio na qualidade do estoque, e um fluxo de caixa mais saudável."
Na contramão das duas empresas, a varejista de moda masculina Sketch diz que as promoções e descontos serão uma aposta para o mês de dezembro. "Vamos focar essas ações em produtos de entrada, como camisas polos, que tem um grande apelo como presente", diz o diretor de expansão da companhia, Fabio Longo.
'Fast fashion'
A rede espera para o Natal uma expansão de cerca de 20% nas vendas, em comparação ao ano passado. De acordo com Longo, o bom resultado que a empresa vem apresentando se deve, dentre outros motivos, ao fato de a empresa trabalhar com o modelo fast fashion, e por operar com fabricação própria.
"Por termos algumas fábricas nossas, isso facilita na gerência do custo. Eu entendo a variação do mercado e produzo só aquilo que eu preciso [sem perdas], o que acarreta também em uma margem melhor", afirma.
A vantagem do fast fashion, segundo ele, é que não há o risco do lojista ficar com excesso de mercadoria e, consequentemente, capital parado. "Meu franqueado não precisa investir em grandes estoques, ele compra só aquilo que ele precisa, de acordo com as vendas. É uma cadeia onde o estoque é enxuto e não há risco de se ficar com os produtos parados", explica.
A Rabusch também trabalha com o modelo e afirma que as reposições são semanais e segundo a demanda de cada loja. Assim como a Sketch, parte da produção também é própria. "60% da nossa fabricação é interna. Os outros 40% é feito por outras indústrias, dos quais apenas 5% é importado", afirma o diretor da rede, Longo.
Para Souto, do Ibevar, o modelo de fato é uma ótima oportunidade para as varejistas. "O fast fashion permite que as empresas se saiam melhor em um momento positivo e atenuem a queda nos cenários de crise. Mas exige um profissionalismo muito grande", diz.
Fonte: DCI