Produtores de vinho diversificam atividades e apostam alto no fruto da oliveira
Os irmãos Rodolfo e Daniel Vargas Arizu examinam a taça de cristal, a cor e os aromas do líquido,bebem um gole com uma forte aspiração de ar e descrevem suas propriedades organolépticas: aroma de ervas cortadas recentemente, pleno na boca, leve amargor compensado pelo final picante e fresco. Herdeiros de uma tradicional família de Mendoza
dedicada ao vinho há mais de meio século, Rodolfo e Daniel estavam provando amostras de seu
azeite extravirgem Vistalba. Como eles, mais e mais vinhateiros plantam oliveiras na vasta planície aos pés dos Andes e apostam na qualidade de seus azeites para aumentar as vendas ao Brasil, um mercado preferencial que importa 80% de toda a produção local, incluindo azeitonas.
A prova desse interesse é a superfície cultivada de oliveiras na região de Cuyo, integrada pelas províncias de Mendoza, San Juan, San Luis e La Rioja, que passou de 30 mil hectares, em 1992, para 85 mil hectares, em 2007. Destes, 15 mil hectares encontram-se em Mendoza, que produz 35% do total nacional de azeite de oliva: 7 mil toneladas.
Na raiz dessa expansão estão os comprovados benefícios à saúde do azeite, celebrizado pela dieta mediterrânea em que é a estrela principal, por exercer um efeito protetor sobre as artérias.A família Vargas Arizu, que produz em sua moderna bodega Tierras Altas os celebrados vinhos VVV (iniciais de Vicente Vargas Videla, avô de Daniel e Rodolfo),tem em seu portfólio, além do Vistalba, o azeite Interlagos, este sobretudo para atender ao mercado interno e a países como Uruguai, Chile e Equador. Cultivam as variedades Farga, Arauco e Manzanilla, bem adaptadas ao clima e ao solo da região.
Outra marca de destaque no panorama vinícola de Mendoza também está cada vez mais empenhada
em aumentar sua produção de azeites,a família Zuccardi. Tanto que o jovem Miguel, um dos filhos de José Alberto Zuccardi, o dinâmico presidente da empresa, está concluindo o curso de Agronomia, especializando-se na olivicultura. Ele já se dedica em tempo integral ao
cultivo e ao processamento do azeite,apresentado em três versões de prestígio com as variedades Arauco, Manzanilla e Frantoio. A Arauco é descrita como a única varietal verdadeiramente argentina, por ter se desenvolvido naturalmente após a erradicação determinada pelos reis da Espanha no século XVIII, como meio de impedir a concorrência
com o azeite daquele país.
Yancanelo e Laur são outras empresas fortes do setor e, com Vargas Arizu, família Zuccardi e 20 outras, estão associadas ao Comitê Olivícola de Mendoza (Comen), responsáveis em seu conjunto por 80% da capacidade industrial, tanto de azeite como de azeitonas. Seu objetivo declarado é posicionar a Argentina como um país produtor de prestígio. A julgar pela qualidade crescente de seus azeites, essa é uma tarefa tranqüila.
Veículo: Gazeta Mercantil