Condições climáticas durante o desenvolvimento do milho tendem a fazer com que a cultura necessite de maior volume de aplicações de fungicidas. Entregas de grãos às revendas cresceram
Montividiu/ Rio Verde (GO) - A segunda safra de milho, conhecida como safrinha, atravessou a seca extrema em 2016 e agora está sendo plantada com antecipação. Com isso, a safrinha pode ficar suscetível a um período mais chuvoso durante o desenvolvimento e até demandar uma quantidade maior de defensivos.
"Como parou de chover no ano passado, muitas lavouras não tiveram aplicações de fungicidas, por isso precisarão aumenta-las nesta temporada", explica o gestor da revenda Rural Brasil em Rio Verde (GO), Maurício Cunha. Segundo ele, naquela época, quase a metade dos produtos deste segmento teve as vendas travadas e ficou em estoque. Mas já é possível observar reversão da situação, devido ao apetite maior do agricultor nas aquisições.
Durante a expedição Rally da Safra, promovida pela Agroconsult, o executivo da maior distribuidora de produtos da Bayer no País destacou que a antecipação na janela de plantio do ciclo da soja 2016/2017 fará com que o produtor entre mais cedo na safrinha, deixando o milho exposto a um volume maior de chuvas que favorece a incidência de doenças na lavoura. Para evitar perdas na produtividade, também será necessário ampliar o número de aplicações de fungicidas.
Focados na colheita da safra de verão, agricultores goianos ouvidos pelo DCI devem acelerar as compras de insumos para a próxima temporada somente entre os meses de março e abril, diferente do Mato Grosso que dá inicio às negociações com antecedência. "Temos uma unidade na região do Vale do Araguaia (MT) em que a comercialização já começou", comenta Cunha. Nem mesmo a liberação recente de recursos de pré-custeio garantem grandes movimentos de compra e venda neste período em Goiás.
"Apesar de serem poucas operações, estamos de olho nos negócios que tem sido feitos atualmente e não vimos relações de troca atrativas para o agricultor. Não há nada que nos faça querer adquirir o insumo agora, vamos esperar até março", diz o gerente da Fazenda Lageado, Sidney Bauduíno, localizada em Jataí (GO).
Em contrapartida, ter o grão em mãos agora tem feito com que o produtor rural avance nas entregas do produto às revendas, como pagamento das sementes, defensivos e fertilizantes adquiridos no começo da safra - medida considerada positiva para o setor de insumos. O gestor da Rural Brasil enfatiza que quanto mais cedo ocorrer o repasse, melhor será o capital de giro das empresas.
Trocas
A prática de barter (troca de produto por grãos) entre fornecedores de insumos e o agricultor está se fortalecendo a cada ano, conforme o presidente da Comissão de Crédito Rural da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) e assessor técnico do Sindicato Rural de Rio Verde, Alexandre Câmara Bernardes.
"Há um incremento nas operações de troca, em relação ao custeio via banco, por que o timing do barter é mais ágil que a entrega de recursos das instituições financeiras tanto a juros livres quanto a taxas controladas", justifica ele. Na avaliação do especialista, a eficiência e agilidade nos processos financeiros fazem toda a diferença para o planejamento da safra agrícola.
Levantamento do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) indica que as operações por barter também despontaram no Estado - líder na produção de grãos - e, segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), trata-se de uma tendência nacional.
Mercado
No ano agrícola de 2015/2016, a unidade de Rio Verde da Rural Brasil faturou entre R$ 700 milhões e R$ 800 milhões. Para o ciclo atual, o gestor Maurício Cunha espera crescer 35%, mas admite que não será uma tarefa fácil diante da queda nos preços dos insumos. "Como o dólar caiu um pouco, vejo redução nos preços dos defensivos. Houve diminuição de pelo menos 10% em relação ao início da safra e ainda acho que cairá mais", calcula. Os fertilizantes já vêm de um momento de valores baixos, em função da cotação internacional, impulsionando aquisições no último ciclo.
Ao mesmo tempo, a expectativa é que os indicadores das commodities agrícolas também recuem, diante da ampla oferta global. "O produtor teve dificuldade para honrar seus contratos no ano passado e reduziu o nível de vendas de milho safrinha, mas daqui pra frente a tendência é de retração nos valores do cereal. O agricultor está cauteloso em um momento que não deveria", alerta Cunha.
Se o clima colaborar e as projeções de colheita nacional forem confirmadas, o agricultor deve ganhar em escala de vendas e, na visão do executivo da revendedora, surge uma lacuna para incremento nos investimentos em insumos no ciclo 2017/2018.
Nayara Figueiredo
Fonte: DCI - São Paulo