Indústria deixa de renovar contratos com citricultores

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Após uma queda de quase 10% no volume nas exportações de suco de laranja no último ano, as indústrias do setor diminuíram sensivelmente o ritmo de comercialização da safra. De acordo com lideranças do setor produtivo, cerca de 40% dos contratos ainda não foram renovados. Normalmente nesse período do ano restam apenas de 10% a 15% da produção para ser vendida. A situação pode se agravar ainda mais dependendo do resultado das investigações que o Florida Citrus Mutual (FCM), entidade que representa 8 mil produtores da indústria de cítricos da Flórida, iniciaram para verificar se processadoras brasileiras estão praticando dumping.

 

O ritmo das negociações está tão lento que o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) não está conseguindo coletar dados para apontar os preços médios para o mês de abril. "O ritmo está bem mais lento que o padrão normal e não temos nenhum valor de contrato novo até agora. Não estão acontecendo novas negociações", afirma Margarete Boteon, pesquisadora do Cepea.

 

Segundo o produtor Marco Antonio dos Santos, presidente da Câmara de citrus da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp), as indústrias processadoras de laranja, que costumam fechar negócios plurianuais com os produtores, não renovaram boa parte dos contratos e cerca de 40% da safra, que começa a ser colhida em junho, ainda não foi comprada. "O preço do 60% que já foi comercializado, ficou entre US$ 3,80 e US$ 4 a caixa, um valor que não nos remunera", afirma. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o custo de produção da safra atual é de R$ 14 a caixa, o que equivale a mais de US$ 6. Para garantir o financiamento da safra os citricultores estão pedindo ao governo o penhor da produção como garantia dos financiamentos.

 

O setor como um todo passa por dificuldades de comercialização. A relação estoque e demanda da Flórida, nos Estados Unidos, segundo maior produtor mundial, perdendo apenas para o Brasil, cresceu 70,6% em 2008, gerando um enorme desequilíbrio no mercado. De acordo com o Departamento de Citros da Flórida, o volume armazenado é de mais de 620 milhões de galões, o que corresponde a nove meses de abastecimento. Na contramão do aumento dos estoques está a acentuada queda na demanda mundial - cerca de 20% nos últimos oito anos - que deprecia ainda mais os preços. Nos últimos 12 meses, o preço do suco concentrado perdeu cerca de 45% do valor na Bolsa de Nova York.

 

Para Henrique de Freitas, diretor da área de citrus da Louis Dreyfus Commodities (LDC), os preços mais baixos podem provocar uma reação positiva na demanda. "Os engarrafadores e supermercados podem fazer promoção e movimentar um mercado maior", avalia.

 

Por uma decisão estratégica a LDC não exporta mais para o mercado norte-americano há algumas safras, devido aos baixos preços praticados naquele mercado, mas ainda assim o executivo demonstra preocupação com os altos estoques do país. "Os EUA podem parar a produção por quase uma safra que não vai faltar suco lá. No médio prazo isso é arbitrado para o mercado mundial, embarques são desviados para a Europa que é o mercado mais importante para o Brasil", diz.

 

Na avaliação de Freitas, não são apenas as indústrias que estão agindo com mais cautela, mas há um clima de incerteza em toda a cadeia. "O produtor tem vindo de anos muito bons e é natural que ele não queira vender agora nesse patamar de preço. Clientes, produtor e indústria estão mais relutantes. Já vimos quatro, cinco clientes importantes na Europa quebrarem", afirma.

 

Mesmo diante de um mercado retraído, a LDC deve manter suas exportações em patamares acima de 200 mil toneladas, como vem registrando nos últimos anos. A empresa também mantém os investimentos previstos para o País, de R$ 550 milhões entre 2008 e 2012.

 

O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de suco de laranja, com a colheita de 450 milhões de caixas de laranja e exportação de 350 milhões de caixas, aproximadamente. Com cerca de 5 mil produtores, o Estado de São Paulo é líder nesse segmento. As indústrias absorvem 80% da produção da região.

 

Depois de queda de 10% no volume das exportações de suco de laranja no último ano, as indústrias do setor diminuíram o ritmo de comercialização da safra. Segundo lideranças do setor produtivo, cerca de 40% dos contratos ainda não foram renovados. Normalmente, nesse período do ano restam apenas 10% a serem vendidos. A situação pode se agravar com as investigações da Flórida sobre dumping no Brasil.

 

Veículo: DCI


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